Atravessar a multidão, enfrentar o empurra-empurra, subir e descer ladeiras de pedra, cruzar calçadas tomadas por ambulantes e ainda conseguir pular nos blocos do carnaval de Olinda não é uma tarefa fácil. Imagine então para pessoas com deficiência visual. Mas nada disso é obstáculo para os amigos Fernando Dias e Leonardo Ribeiro, que não enxergam, mas adoram carnaval e caíram na folia de Olinda. Muito animados, eles acompanharam o Encontro dos Bonecos Gigantes na cidade história nesta terça-feira (28), pela manhã.
“A dificuldade de locomoção existe, a gente tem que dar um jeito e anda muito. Tem que gostar muito do carnaval para conseguir chegar até Olinda para quem não enxerga”, conta Fernando, auxiliar administrativo de 50 anos, morador do Recife. “Acessibilidade é sempre difícil pra gente. E também a questão da insegurança que estamos vivendo. Mas escutar esse batuque, a galera, é bem gostoso”, completa Leonardo.
Fernando é o amigo que tem mais anos de carnaval. Desde 1983, quando descobriu o prazer pela festa, não perde uma. E essa paixão começou depois de perder a visão, aos 14 anos. “Eu não gostava de carnaval. Fui gostar depois conheci o carnaval de Olinda. É uma das melhores festas que existem”, diz.
Já Leonardo, 35, servidor público e morador de São Lourenço da Mata, Pernambuco, vive o seu primeiro carnaval. A família o acompanhava em Olinda. No sábado, a dupla passou pelo que ele chamou de “aventura de carnaval”: se perderam do grupo e ficaram só os dois no meio da multidão. Mas, no final, deu tudo certo.
“Com o corpo todo”
O que os fazem ultrapassar as dificuldades é mesmo o gosto pela festa. No caso de Leonardo, o forte é a música. Já para Fernando o melhor mesmo é o contato físico com as pessoas, pois quem não enxerga tem a oportunidade de “ver” e sentir com o corpo todo. “A gente tem essa coisa de estar junto com o povo, sentir o movimento do povo. A cidade apertadinha e a gente sente a energia do povo com o movimento. Esse movimento mostra muito o que é dançar o frevo. O contato é tudo aqui nesse carnaval, é muito bom”, afirma.
Para acolher pessoas com deficiência, a estratégia da Prefeitura de Olinda - como a do Recife - foi criar camarotes de acessibilidade, que funcionam com capacidade para receber 100 pessoas por dia, que precisam se inscrever antecipadamente. Localizado na Praça do Carmo, seu objetivo foi acolher tanto pessoas com deficiências físicas quanto mentais. A estrutura, encerrada nesta terça, incluía audiodescrição, intérprete de libras e facilitadores de acessibilidade, como rampas de acesso e corrimões.
O Tempo
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