Se vivo, Drummond completaria 115 anos nesta terça-feira (31). As lembranças, a obra legada e toda a presença do poeta no imaginário social e poético brasileiro fazem da data um pretexto para viver suas palavras e, novamente, serem prestadas as homenagens ao itabirano. E são muitas. Por diversas iniciativas, Drummond será clamado. Uma delas é o #Drummond115, evento que será realizado na praça da Liberdade e em outros pontos da cidade de 30 de outubro a 1º de novembro.
A programação é extensa e inclui apresentações de teatro, dança, música, leituras, recitais, debates e intervenções artísticas, além de blitze literárias, realização de um concurso voltado para estudantes da rede estadual de ensino e rodas de leitura em presídios da região metropolitana de BH. Entre os destaques está a conferência “O segundo Drummond”, que será realizada por Antônio Carlos Secchin, no dia 1º de novembro, às 19h30, no Auditório Marco Túlio, do BDMG Cultural.
Também o campo da gastronomia será atravessado pela poética de Drummond. Alguns restaurantes e bares de BH vão oferecer pratos e petiscos criados em homenagem a sua obra.
O jornalista e escritor Humberto Werneck também fará parte do evento. Na terça-feira, às 20h, na Biblioteca Pública Estadual, ele realiza a roda de conversa “Drummond e o tempo de Belo Horizonte”. Werneck tem se dedicado a escrever a biografia do poeta e conta um pouco da experiência com as palavras do itabirano.
O ato de biografar é um gesto que exige muita pesquisa e um debruçar profundo, em especial quando se trata de figuras tão emblemáticas de uma sociedade, como é Drummond para o Brasil. Gostaria que você falasse desse interesse que Drummond te desperta. Como ele te afeta, marca sua própria vivência? Costumo dizer – e peço licença para dizer de novo – que Carlos Drummond de Andrade é o meu poeta, na medida em que, como nenhum outro, ele fala por mim o que não dou conta de falar. Deve ser assim para tanta gente, não é? Drummond, para mim, é muito mais do que referência literária, mera citação – é referência de vida, pois sua voz me socorre nas mais diversas situações. Diante de determinados espetáculos humanos, sejam eles sublimes ou aterradores, sua poesia me vem, não como literatura, mas como pura luz. Exemplos? “Por que Deus é horrendo em seu amor?”. Ou: “Não ser feliz tudo explica”. Ou ainda: “Mas o amor continua”.
O que você pretende abordar na roda de conversa “Drummond e o tempo de Belo Horizonte”? A conversa será sobre aquela Belo Horizonte de 23 anos de idade, onde o garoto Drummond foi viver aos 17, e como foi a vida desse moço naquela cidade, que deixaria aos 32 incompletos. E também sobre um pedacinho de tempo vivido antes, apenas quatro meses, em 1916, como aluno do Colégio Arnaldo, o suficiente, porém, para que ali fizesse duas amizades vitalícias, com Afonso Arinos e Gustavo Capanema, esta última decisiva em sua vida.
Por fim, Drummond é muito lido, falado, estudado. O que ainda não sabemos sobre ele? Alguma pista? Drummond, como se sabe, foi homem de vida pacata e regrada, vida de funcionário público, como ele próprio alegou quando, em 1986, lhe propus fazermos uma bateria de conversas para, de lá, tirarmos um livro-entrevista. Não acreditei que fosse descobrir algo espetacular, sensacional, em seus 84 anos de vida. Mas estou trabalhando para trazer à tona detalhes e histórias, sempre com o objetivo, repito, de bem recompor a figura e a vida de nosso maior poeta.
No museu
De 31 de outubro a 4 de novembro, o Memorial Minas Gerais Vale leva ao público passante da praça da Liberdade uma gravação de poemas de Drummond narrados pelo próprio escritor. O museu também realiza a ação “Cartas à Olivetti”. Cada visitante é convidado a datilografar em uma máquina Olivetti, dialogando com as criações do poeta. O museu já conta com uma sala inteiramente dedicada a Drummond em seu acervo permanente.
O quê. Memorial Minas Gerais Vale comemora 115 anos de Carlos Drummond de Andrade
Quando. De 31 de outubro a 4 de novembro, terça, quarta, sexta e sábado, das 10h às 17h30, e quinta, das 10h às 21h30
Onde. Memorial Minas Gerais Vale (praça da Liberdade, 640, Funcionários)
Quanto. Entrada gratuita
'O amor natural'
Poemas eróticos. O ator Thiago Lacerda fará nesta segunda-feira (30), a partir das 21h, uma leitura de poemas do livro “O Amor Natural”, publicado em 1992, após a morte de Carlos Drummond de Andrade. No livro, o poeta questiona o limite da pornografia. A apresentação ocorre no teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.244, Lourdes), com entrada gratuita (os ingressos serão distribuídos duas horas antes do evento).
Drummond musicado com beats e remixes
O cantor e compositor Pedro Morais apresenta releituras e arranjos musicais para poemas de Drummond. Com formação de violões, guitarras, baterias eletrônicas, melodias e harmonias, o show “Poema Noturno”, será apresentado nesta terça-feira (31), às 20h, no Grande Teatro do Sesc Palladium.
Para a realização do trabalho, foi preciso um gesto de imersão para dar conta do prazo de 40 dias para criação das versões musicadas dos poemas que transitam pelas mais variadas fases do poeta. “A intenção foi buscar poemas que trouxessem certo ritmo, certa métrica. O trabalho não é só cantar seus poemas. É preciso pensar o contexto das palavras”, comenta Morais.
“Drummond é o poeta mais popular do Brasil e já foi trabalhado por muitos artistas. Belchior, por exemplo, tem um álbum com 31 poemas de Drummond. Foi preciso, então, me distanciar do que já havia sido feito”, completa músico.
“Poema Noturno” ganha, dessa forma, uma roupagem moderna, uma sonoridade pop. Serão apresentados 11 poemas musicados por Morais, Barulhista, que faz os beats e programações, e Richard Neves, que fica por conta do teclado. Além deles, o rapper Douglas Din remixa um texto poético de Drummond em diversas linguagens.
À leitura musical dos poemas, se junta um trabalho de composição imagética com projeções de vídeomapping do artista Daniel Todeschi e iluminação de Paula Manata. “Enfim, é o conceito mais moderno de tudo o que já fiz até hoje”, comenta Morais sobre a empreitada acerca do poe
ta.
Agenda
O quê. Show “Poema Noturno”, de Pedro Morais
Quando. Terça (31), às 20h
Onde. Grande Teatro do Sesc Palladium (av. Augusto de Lima, 420, centro)
Quanto. R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia)
A programação completa do #Drummond115 pode ser acessada no site www.drummond115.wordpress.com.
O Tempo
Nenhum comentário:
Postar um comentário