Para escrever um livro sobre o habitat da arara-azul-de-lear, ave que biólogos passaram 150 anos tentando catalogar, o escritor mineiro Gustavo Nolasco mergulhou num universo que foi além daquele que circundava a emblemática ave. Durante cerca de um ano, Nolasco e o fotógrafo mineiro João Marcos Rosa – de quem o convite partiu – viveram no sertão da Bahia, próximo à cidade de Canudos, em busca de histórias, relatos e fatos que envolvessem o pássaro. A pesquisa acabou servindo para que Nolasco conhecesse mais profundamente a cultura nordestina, além de fornecer material para “Jardins da Arara de Lear”, livro que será lançado neste sábado (7) na livraria Scriptum.
Para juntar material para o livro, o escritor e o fotógrafo seguiram os mesmos passos do naturalista alemão Helmut Sick (1910-1991). Em 1979, o pesquisador desvendou aquele que era considerado um dos maiores mistérios da biologia ao descobrir o habitat natural da arara-azul-de-lear. A ave já havia sido registrada por um artista mais de 150 anos antes, mas ainda eludia quem a procurava. A obsessão do naturalista começou ainda em 1940, data em que ele chegou ao Brasil. Quase 40 anos depois, ele finalmente encontrou o esconderijo da arara num ambiente rochoso e inóspito do sertão e descobriu que só restavam 21 aves vivas.
“Sick começou, então, sua segunda saga: a da luta pela vida desse animal. Hoje, cientistas e sertanejos são os verdadeiros guardiões que trabalham pela preservação dessa espécie. São eles os reais personagens dessa história”, conta Nolasco. Atualmente, existem cerca de 1.300 araras. “Mas esse número ainda é pequeno. Hoje, ela ainda é ameaçada de extinção, apesar de já ter subido na classificação, pois já esteve criticamente ameaçada de extinção”, diz Nolasco.
A Obra. Da intensa experiência surgiu um livro de 164 páginas nas quais estão intercaladas fotos de Rosa e textos de Nolasco. Os registros fotográficos não se atêm apenas às araras, mas também às paisagens naturais e ao dia a dia dos sertanejos que vivem ali. O livro é estruturado com textos que narram o início e o fim da trajetória, passando pela resistência nordestina e pelo alerta de extinção da espécie de ave.
“Foi indescritível a sensação de chegar ao local, desde a rotina das araras de sair dos paredões em uma revoada de 500 aves quando ainda está escuro até quando o sol sai e ilumina a paisagem de um tom tão vermelho que mais parece Marte. Fiquei arrebatado. Foi realmente incrível chegar a um lugar em que nenhum fotógrafo havia estado, ver o bicho em perspectivas diferentes, esperar que o filhote pudesse sair do ninho para ver seu comportamento”, diz Rosa.
Para ele, o maior desafio encontrado pelos dois foi o calor e um “terreno muito inóspito”. “É um acesso muito distante. Eu, como fotógrafo, tive que carregar um equipamento muito pesado. A água sempre foi a maior dificuldade, não existia isso de jogar água na cabeça. A Caatinga exige um esforço físico muito grande, nós nos sentimos como sertanejos mesmo”, conta Rosa.
Povo do Sertão. “A gente percebeu que ‘resistência’ é uma palavra muito forte no Nordeste. Resistência da arara por não ser extinta; resistência do povo nordestino, que ama sua terra; resistência de Canudos por ter sido palco de um dos maiores movimentos populares ocorridos no Brasil; resistência quanto à falta de água; resistência da reserva indígena Pankararé. A gente tem mania de dizer que os sertanejos sobrevivem, mas quem sobrevive quase não tem chance de viver; eles, na verdade, resistem”, pontua Nolasco.
A partir da percepção da dupla, o projeto transformou-se. “Tive cuidado de escutar as pessoas e de usar o próprio linguajar dos sertanejos. Não escrevi nada enquanto estive na Bahia. Vim para o sertão com o desafio de contar a história de um animal, mas acabei contando de muitas outras coisas”, conta o escritor.
Se para Nolasco a cultura do sertão nordestino foi uma descoberta durante o processo de pesquisa, o fotógrafo Rosa já a tinha enraizada. “Meu coro já estava mais engrossado”, brinca o fotógrafo, que começou a percorrer os caminhos do agreste há mais de cinco anos.
“Em 2012, fui convidado para dar um curso em Salvador e pude conhecer o sertão. Fiquei estonteado com a beleza cênica e com as pessoas. No fim da viagem, voltei para Belo Horizonte e colaborei para a revista ‘National Geographic’ com uma matéria de sete páginas com as fotografias que fiz lá. Mas, ainda assim, ficou um vazio, porque era pouco espaço para uma coisa tão grandiosa. Então, voltei para a Nitro (coletivo do qual ele e Nolasco fazem parte) e resolvemos criar o livro”, conta.
Para juntar material para o livro, o escritor e o fotógrafo seguiram os mesmos passos do naturalista alemão Helmut Sick (1910-1991). Em 1979, o pesquisador desvendou aquele que era considerado um dos maiores mistérios da biologia ao descobrir o habitat natural da arara-azul-de-lear. A ave já havia sido registrada por um artista mais de 150 anos antes, mas ainda eludia quem a procurava. A obsessão do naturalista começou ainda em 1940, data em que ele chegou ao Brasil. Quase 40 anos depois, ele finalmente encontrou o esconderijo da arara num ambiente rochoso e inóspito do sertão e descobriu que só restavam 21 aves vivas.
“Sick começou, então, sua segunda saga: a da luta pela vida desse animal. Hoje, cientistas e sertanejos são os verdadeiros guardiões que trabalham pela preservação dessa espécie. São eles os reais personagens dessa história”, conta Nolasco. Atualmente, existem cerca de 1.300 araras. “Mas esse número ainda é pequeno. Hoje, ela ainda é ameaçada de extinção, apesar de já ter subido na classificação, pois já esteve criticamente ameaçada de extinção”, diz Nolasco.
A Obra. Da intensa experiência surgiu um livro de 164 páginas nas quais estão intercaladas fotos de Rosa e textos de Nolasco. Os registros fotográficos não se atêm apenas às araras, mas também às paisagens naturais e ao dia a dia dos sertanejos que vivem ali. O livro é estruturado com textos que narram o início e o fim da trajetória, passando pela resistência nordestina e pelo alerta de extinção da espécie de ave.
“Foi indescritível a sensação de chegar ao local, desde a rotina das araras de sair dos paredões em uma revoada de 500 aves quando ainda está escuro até quando o sol sai e ilumina a paisagem de um tom tão vermelho que mais parece Marte. Fiquei arrebatado. Foi realmente incrível chegar a um lugar em que nenhum fotógrafo havia estado, ver o bicho em perspectivas diferentes, esperar que o filhote pudesse sair do ninho para ver seu comportamento”, diz Rosa.
Para ele, o maior desafio encontrado pelos dois foi o calor e um “terreno muito inóspito”. “É um acesso muito distante. Eu, como fotógrafo, tive que carregar um equipamento muito pesado. A água sempre foi a maior dificuldade, não existia isso de jogar água na cabeça. A Caatinga exige um esforço físico muito grande, nós nos sentimos como sertanejos mesmo”, conta Rosa.
Povo do Sertão. “A gente percebeu que ‘resistência’ é uma palavra muito forte no Nordeste. Resistência da arara por não ser extinta; resistência do povo nordestino, que ama sua terra; resistência de Canudos por ter sido palco de um dos maiores movimentos populares ocorridos no Brasil; resistência quanto à falta de água; resistência da reserva indígena Pankararé. A gente tem mania de dizer que os sertanejos sobrevivem, mas quem sobrevive quase não tem chance de viver; eles, na verdade, resistem”, pontua Nolasco.
A partir da percepção da dupla, o projeto transformou-se. “Tive cuidado de escutar as pessoas e de usar o próprio linguajar dos sertanejos. Não escrevi nada enquanto estive na Bahia. Vim para o sertão com o desafio de contar a história de um animal, mas acabei contando de muitas outras coisas”, conta o escritor.
Se para Nolasco a cultura do sertão nordestino foi uma descoberta durante o processo de pesquisa, o fotógrafo Rosa já a tinha enraizada. “Meu coro já estava mais engrossado”, brinca o fotógrafo, que começou a percorrer os caminhos do agreste há mais de cinco anos.
“Em 2012, fui convidado para dar um curso em Salvador e pude conhecer o sertão. Fiquei estonteado com a beleza cênica e com as pessoas. No fim da viagem, voltei para Belo Horizonte e colaborei para a revista ‘National Geographic’ com uma matéria de sete páginas com as fotografias que fiz lá. Mas, ainda assim, ficou um vazio, porque era pouco espaço para uma coisa tão grandiosa. Então, voltei para a Nitro (coletivo do qual ele e Nolasco fazem parte) e resolvemos criar o livro”, conta.
Origem do nome. Segundo Gustavo Nolasco, o nome da arara homenageia um artista britânico. “O nome ‘Lear’ vem do pintor Edward Lear, primeira pessoa a fazer o desenho da arara”, esclarece.
AGENDA
O quê. Lançamento do livro “Jardins da Arara de Lear”
Quando. Neste sábado (7), às 10h
Onde. Livraria Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi)
Quanto. Gratuito
Quando. Neste sábado (7), às 10h
Onde. Livraria Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi)
Quanto. Gratuito
O Tempo
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