quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Que hoje seja dia de meditar

Amadeu Garrido de Paula

Num dia que não deveria ser  deliberadamente tormentoso ouso uma pobre tradução de um poema coletivo japonês, de Bashô e seus amigos, em que a poesia nada pretendia preencher, mas esvaziar; o silêncio e o vazio podem conduzir um país. Falta-nos reflexão, meditação, quietude. Diz o "livro da crítica japonês":  Esqueças o espetáculo e olhe ao Nô; esqueças o Nô e veja o ator; esqueças o ator e concentre-se na ideia; esqueças a ideia e entenderá o Nô.

Reconheçamos alguns passos melhores na economia. Mas, para a construção da nação que merecemos (não reconstrução, porquanto jamais tivemos uma, em sua amplitude), ainda nos encontramos sob a tempestade perfeita, em que, se algum ponto do horizonte já se faz azul, a imensidão do céu ainda é cinza, como se vê da judicialização e, pior, da criminalização de nossa política, e do funcionamento de nossas instituições estatais, obviamente emperrado, ao contrário do que disse em Davos, antigo sítio de recuperação mental europeu, por suas magníficas belezas naturais e materiais, um Presidente que não consegue sequer nomear um Ministro, por decisões de primeira instância judiciária, modificadas por decisão do Vice-Presidente do Superior Tribunal de Justiça mas revitalizadas por decisão da Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dra. Cármen Lúcia, titular de poder monocrático em período de férias da Suprema Corte. Não há férias em clima de tanta instabilidade; que não se transforme em guerra, no dia de hoje, mas prevaleça o bom senso e se viabilize nossa primavera.

Seguem os versos de meditação oriental:

                                                       "O aguaçeiro invernal,
                                                         incapaz de esconder a lua,
                                                         deixa-a ir-se, não a retém, Tokoku

                                                         Ao caminhar sobre o gelo
                                                         piso sobre a luz de minha lanterna. Jugo

                                                         Ao amanhecer os caçadores
                                                         atam a suas flechas
                                                         brancas flores em formação. Yasui

                                                         Abrindo de par em par
                                                         A porta norte do Palácio; A primavera! Bashô

                                                         No meio dos rastros
                                                         E do esterco do cavalos
                                                         húmido, cálido, o ar. Kakei. ("apud" Octávio Paz).
    
Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário