Amadeu Garrido de Paula
O Presidente Michel Temer deve ter acertado em sua ilação. A vontade de querer que morra um Presidente da República é tão desprovida de sentido social quanto a vontade de que morra um nosso vizinho, com o qual temos um litígio de limites espaciais, sem considerar que há sucessores e o litígio não se finda.
A elucubração do Presidente brasileiro deve servir de pensamento político. Séculos a frente poderá ser uma anedota histórica de um antigo regime dito presidencialista, no qual um único homem era o instrumento de atuação da democracia "representativa". Cercados de Ministros e de uma parafernália de informações, ele não passa de um homem, com seu cadinho imenso de defeitos e de inseguranças. Há, certamente, homens de gênio, talvez provenientes de sítios estranhos, desconhecidos pela humanidade. Jesus, Buda, Maomé, Gandhi, Camões, Leonardo, Sheakespeare, Dante, Einstein, foram personalidades cheias de mistérios cósmicos, que nunca se dispuseram a comandar nações e suas complexas instituições.
A valoração de peculiaridades subjetivas de um País cujos costumes, cultura e linguagem, ao fim e ao cabo, nada têm a ver com o povo do Brasil, por conta do "glamour" subjetivo sem qual tal nação parece sufocar-se, fez do modelo norte-americano, ainda que com distinções significativas, nossa opção de sistema de governo, tão-logo proclamada, num pátio e por alguns cavaleiros, nossa República. Modelo que nos acompanha até hoje, com o acréscimo do signo das deteriorações morais, o tal governo de coalizão.
Quando a morte de alguém é desejada para trazer soluções políticas constatamos quão frágil é o galho no qual nos seguramos na enxurrada torrencial. É a miopia de quem arrota o desejo e a crença inverossímil de quem ocupa o mais elevado cargo político em suas extraordinárias possibilidades, sem perceber que não é esse rosto que nos duplicam os espelhos.
Nossa ênfase está na impropriedade dos mandos monocráticos, em quaisquer dos poderes. A educação moderna estimula os estudos e as apresentações coletivas. Nada é impeditivo de que um País seja comandado por colegiados, se não efêmeros, pelo menos transitórios, em conformidade com a vontade popular, que pode ser manifestada e alterada sempre que necessário. O governo coletivo não perde a capacidade executória, como se vê dos colegiados judiciários e administrativos.
Pode e deve conter, em sua arquitetura, que, com certeza, será a do futuro, em séculos, o eco dos segmentos sociais, que, em determinado momento da história, se façam a síntese da concordância e do possível.
Não é necessariamente o parlamentarismo, tão desprestigiado em nosso "ethos" político. Pura e simplesmente, é o reconhecimento de que a concentração de poderes numa única pessoa é desastroso. Ainda que nosso governo fosse exercido por uma daquelas personalidades extraordinárias, misteriosas, do universo.
Amadeu Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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