quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Tem muita gente querendo que eu morra

Amadeu Garrido de Paula

O Presidente Michel Temer deve ter acertado em sua ilação. A vontade de querer que morra um Presidente da República é tão desprovida de sentido social quanto a vontade de que morra um nosso vizinho, com o qual temos um litígio de limites espaciais, sem considerar que há sucessores e o litígio não se finda.

A elucubração do Presidente brasileiro deve servir de pensamento político. Séculos a frente poderá ser uma anedota histórica de um antigo regime dito presidencialista, no qual um único homem era o instrumento de atuação da democracia "representativa". Cercados de Ministros e de uma parafernália de informações, ele não passa de um homem, com seu cadinho imenso de defeitos e de inseguranças. Há, certamente, homens de gênio, talvez provenientes de sítios estranhos, desconhecidos pela humanidade. Jesus, Buda, Maomé, Gandhi, Camões, Leonardo, Sheakespeare, Dante, Einstein, foram personalidades cheias de mistérios cósmicos, que nunca se dispuseram a comandar nações e suas complexas instituições.

A valoração de peculiaridades subjetivas de um País cujos costumes, cultura e linguagem, ao fim e ao cabo, nada têm a ver com o povo do Brasil, por conta do "glamour" subjetivo sem qual tal nação parece sufocar-se, fez do modelo norte-americano, ainda que com distinções significativas, nossa opção de sistema de governo,  tão-logo proclamada, num pátio e por alguns cavaleiros, nossa República. Modelo que nos acompanha até hoje, com o acréscimo do signo das deteriorações morais, o tal governo de coalizão.

Quando a morte de alguém é desejada para trazer soluções políticas constatamos quão frágil é o galho no qual nos seguramos na enxurrada torrencial. É a miopia de quem arrota o desejo e a crença inverossímil de quem ocupa o mais elevado cargo político em suas extraordinárias possibilidades, sem perceber que não é esse rosto que nos duplicam os espelhos.

Nossa ênfase está na impropriedade dos mandos monocráticos, em quaisquer dos poderes. A educação moderna estimula os estudos e as apresentações coletivas. Nada é impeditivo de que um País seja comandado por colegiados, se não efêmeros, pelo menos transitórios, em conformidade com a vontade popular, que pode ser manifestada e alterada sempre que necessário. O governo coletivo não perde a capacidade executória, como se vê dos colegiados judiciários e administrativos.

Pode e deve conter, em sua arquitetura, que, com certeza, será a do futuro, em séculos, o eco dos segmentos sociais, que, em determinado momento da história, se façam a síntese da concordância e do possível.

Não é necessariamente o parlamentarismo, tão desprestigiado em nosso "ethos" político. Pura e simplesmente, é o reconhecimento de que a concentração de poderes numa única pessoa é desastroso. Ainda que nosso governo fosse exercido por uma daquelas personalidades extraordinárias, misteriosas, do universo. 

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

Esse texto está livre para publicação.

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