Amadeu Garrido de Paula
Sobretudo após o terremoto econômico-social que nos deprimiu, não se faz necessário muito esforço para perceber que grande parte de nossa população flerta com uma ditadura militar. Inconscientemente. O golpe militar de 1964 veio apoiado por forças conservadoras, especialmente da Igreja (TFP, "Opus Dei" etc), com o discurso de combater o comunismo que imaginam espraiar-se por todo o orbe (guerra fria, união do proletariado do mundo inteiro) e a corrupção. Seu prazo: seis meses declarados, vinte anos dos vícios de todos os regimes militares.
No culto Chile, os equívocos de Salvador Alleende, ao tomar como paradigma a ditadura de Fidel Castro, perdeu as rédeas da economia, a inflação comeu solta e, também com o apoio da Igreja Católica e de setores da classe média, levou-se ao La Moneda, violentamente, Augusto Pinochet, sanguinário e ladrão (sátrapa que acumulou 28 milhões de dólares no Banco Riggs de Washington), depois de fuzilar milhares de estudantes e jovens idealistas no Estádio Nacional; matou pelo menos 3.500 opositores, prendeu e torturou vários milhares e compeliu muitos ao exílio, inclusive no Brasil. O desenvolvimento chileno não foi obra do General assassino, mas deu-se apesar dele: a economia nas mãos de um grupo de civis, os "Chicago Boys" - que abriram fronteiras, privatizaram empresas públicas, assemelhadas à Petrobrás, integraram-se aos mercados internacionais, disseminaram as propriedades, estimularam os investimentos, promoveram humana reforma trabalhista e da seguridade social, a ponto de criar a prosperidade do País.A Argentina dos Generais Videla, Viola e Videla, de 1976 a 1983, os "arrependidos", em nada transformaram no sentido do bem a outrora próspera economia argentina, ao lado de golpear sua invejável cultura.
O Coronel Hugo Chaves e seu súcubo sucessor, o motorista Nicolás Maduro , lançaram a Venezuela ao lodo que todos conhecem.
Poderíamos citar todos os ditadores da América Latina, e suas diabólicas realizações, mas vamos à análise das ditaduras, eufemisticamente denominadas de regimes fortes, que parecem seduzir os brasileiros deste momento crítico.
Primeiramente, se não golpeiam, são eleitos nos braços de um povo cansado das erronias praticadas sob um clima de liberdade. No poder, cercam-se de grupelhos - generais, em nossa América, ganham inexpressivos soldos - que juram e praticam fidelidade ao chefe ante ganhos financeiros jamais imaginados. Para que não sejam denunciados por combater precisamente o mal que apregoaram, a corrupção, calam a imprensa, prendem, matam, torturam.
Tudo dominado, refestelam-se com o butim às expensas do dinheiro público. O silêncio é sua segurança. Há bancos suficientes no exterior para ocultar as pinochetadas. Fomentam um populismo de direita, ao fim e ao cabo uma economia demencial. Enriquecem-se em países miseráveis. Lembrem-se dos Somoza - Tacho, Luís ou Anastásio - o primeiro um fiscal de privadas, os últimos adestrados nas escolas militares americanas, na Dinamarca. Os "Doc" e os "tonton macoutes" no Haiti, o inferno em vida deste mundo.
Poucos sobrevivem, comem pouco, e não falam. Tudo se passa no interior tosco das casernas.
Nenhuma dessas ditaduras resolveu os graves problemas do povo. Qual o legado da ditadura brasileira? Não é a situação atual consequência de todos os governos anteriores, que nos tornaram reféns do transporte rodoviário, em benefício das grandes multinacionais de veículos e dos países produtores de petróleo? Se a ditadura militar tudo podia, por que não fez? Deixou-nos a transamazônica e a ferrovia do aço...
Impunes, seus herdeiros se organizam para disputar as próximas eleições, conduzidas por um pretenso, caricato e despreparado líder. Competir é um direito de todos, reconheça-se. Mas optar, a maioria da sociedade brasileira, por um governo que será o prólogo anunciado de nova ditadura militar, cansada de episódios como este dos caminhoneiros, é enveredar pela mais densa obscuridade política.
Os militares brasileiros de hoje, sobretudo os comandantes, firmam suas convicções democráticas, até porque a experiência passada foi traumática. Mas, em política, não devemos olhar para pessoas, cujo caráter é multifacetário e, não raro, contraditório, mas a instituições.
Somente num regime de liberdades os corruptos são apontados e presos, como nunca se viu na história deste país. Os erros e políticas equivocados, praticados sob um regime livre, política e economicamente, só podem ser superados no próprio universo da democracia, o menos nocivo dos regimes políticos até hoje criados pela humanida
Amadeu Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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