São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Quando anunciou, na noite de quinta-feira, um acordo com lideranças dos caminhoneiros, em greve desde segunda-feira, o governo imaginava ter conseguido desmobilizar o movimento. Em Belo Horizonte, o presidente Michel Temer, em evento da Fiemg, informava um desfecho para a paralisação benéfico para os grevistas. Sexta-feira (25), na avaliação do governo, seria de estradas sendo desbloqueadas e com o abastecimento começando a se regularizar. Mas não foi o que se viu. Pela manhã, o número de pontos de bloqueio chegou a crescer, mais de 519, além até do que acontecera na noite de quinta, quando não atingiu 500. Com uma liderança muito difusa, o que se ouvia dos caminhoneiros parados nas estradas era que o acordo fechado com o governo não servia.
O quadro de caos que começou a se formar no início da semana se agravou. Em todo o país, postos de gasolina fecharam, por absoluta falta de combustível. Sem conseguir rodar, ônibus ficaram nas garagens. Sem insumos, fábricas fecharam. Medicamentos e alimentos começam a faltar em farmácias e supermercados. Hospitais chegaram a cancelar cirurgias.
Acuado, o governo resolveu apelar às forças de segurança, que incluem Forças Armadas e a polícia, para desbloquear estradas. “Comunico que acionei as forças federais de segurança para desbloquear as estradas e solicito que os governadores façam o mesmo. Não vamos permitir que população fique sem itens de primeira necessidade, que consumidores fiquem sem produto, que hospitais não funcionem”, afirmou o presidente Michel Temer, em pronunciamento no início da tarde. Segundo ele, uma minoria radical bloqueava as estradas. Mas, em todo o país, os caminhoneiros continuaram unidos na paralisação e contando com amplo apoio popular.
Depois do anúncio feito pelo governo, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), a principal entidade contrária ao acordo com o governo federal, pediu aos motoristas que liberassem as rodovias interditadas. A entidade sugeriu, porém, que continuassem as manifestações de forma pacífica, sem obstrução das vias. E foi o que aconteceu. O clima entre manifestantes e forças de seguranças foi tranquilo em todo o país.
Em um pronunciamento no fim da tarde de sexta, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que, após acordo firmado entre o governo e entidades, a paralisação já havia atingido “seus objetivos e foi exitosa”. E que ela “estava diminuindo, mas em um ritmo menor do que o Planalto previa”. O ministro inflou o número de interdições para 938 e disse que já tinha caído pela metade no início da noite de sexta-feira. Mas os dados até então divulgados não ultrapassavam 500. Na mesma hora, o site da Polícia Rodoviária Federal, que contabilizava o número de estradas afetadas pelo movimento, saiu do ar.
O caminhoneiro Itamar Bicalho, 41, parado nas margens da BR–040, perto de Belo Horizonte, questionou a informação de redução dos pontos de interdição. “Isso é uma falcatrua do governo Temer. Todo mundo está vendo que o movimento está só crescendo”, disse.
Militares e grevistas em clima cordial às margens da BR–040
Parados há cinco dias às margens da BR–040, os caminhoneiros não mostravam sinais para ceder e furar a paralisação. Mesmo com a chegada da Força Nacional, não havia temor por uma desmobilização forçada. Até nos momentos que foram abordados pelas autoridades policiais, a conversa se manteve sempre cordial e sem nenhuma ameaça.
Dois ônibus da Força Nacional, várias viaturas e dezenas de agentes estavam circulando pela BR–040 na tarde de sexta-feira, mas em nenhum momento abordaram os caminhoneiros no local onde estavam fazendo o bloqueio, na altura do KM 500. Mesmo com a ordem do presidente Michel Temer para uso da força para liberar rodovias e determinação do Supremo Tribunal Federal para desobstruir até o acostamento, os caminhoneiros não estavam preocupados com uma ação policial.
“Não existe lei que nos obrigue a ligar o nosso caminhão e seguir viagem. Estamos parados no posto. Nem estamos no acostamento. O que eles vão fazer? Obrigar a gente a entrar no caminhão e dirigir? Não tem como”, afirmou o caminhoneiro Itamar Bicalho, 41.
Eles estavam seguindo a orientação da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) de manter a greve, mas sem bloquear as rodovias. No local do bloqueio, os caminhoneiros permaneciam fora da estrada, mas impediam qualquer veículo de carga de seguir viagem, com exceção de caminhões frigoríficos, aqueles com carga viva e dos de transporte de oxigênio hospitalar.
O caminhoneiro Anderson Feitosa, 42, afirma que não tem como o movimento ser encerrado se o governo não ceder. “O preço do diesel continua nas alturas”, disse.
O Tempo
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