Não são raros os casos de pessoas que declinam convites para se apresentar em público devido ao medo da opinião dos outros.
Pesquisas não oficiais sugerem que esse transtorno, conhecido como alodoxafobia, afeta cerca de 8% da população entre 16 e 24 anos de idade.
“Isso não significa que somente pessoas nessa faixa etária desenvolvam o transtorno, que poderá se manifestar em qualquer momento da vida. Porém o maior índice é em torno dessa fase, na qual os jovens têm que fazer escolhas profissionais e assumir relacionamentos e responsabilidades”, analisa Patrícia Renaldo da Silva Amaral, 34, psicóloga clínica, psicopedagoga e analista transacional em formação.
Segundo ela, a palavra alodoxafobia vem das palavras gregas “állis” que significa “outro” ou “diferente”, “dóxis” que significa “crença” e de “fobia” que significa “medo patológico”, “o que explica o conceito da patologia: medo dos pensamentos dos outros sobre si, sempre com a sensação de julgamento. É o medo de se expressar acompanhado da sensação de exposição e, ao mesmo tempo, de ser julgado pelos outros de forma crítica e negativa. Medo da opinião ou respostas das outras pessoas sobre si”, explica a psicóloga.
Mas por que será que o ser humano se preocupa tanto com a opinião alheia? “Desde nossa infância somos submetidos a aprovações dos pais, de professores, de amigos e de todos que nos rodeiam e que esperam algo de nós. Muitas vezes somos rotulados e acreditamos no que escutamos. Se sua mãe diz que você é inteligente ou uma criança impossível de segurar, você acredita. Se seu pai diz que você não sabe fazer nada direito e seus amigos dizem que você é muito tímido, você acredita. Levamos todas essas crenças infantis para nossa vida adulta de forma subconsciente e as projetamos o tempo todo em qualquer relação que possamos construir, seja profissional, familiar, social ou sentimental”, diz Patrícia.
O problema é que o que se projeta “são pensamentos distorcidos sobre o que se imagina que o outro pensa sobre nós, ou ainda críticas ao outro que na verdade são sobre si mesmo (de forma subconsciente). Pessoas que funcionam dessa forma tendem a potencializar medos fantasiosos de possíveis julgamentos sobre si mesmas por meio de pensamentos distorcidos”, comenta a psicóloga.
Segundo ela, indivíduos assim sempre se consideram o centro das atenções, porém de forma negativa, como se todos os estivessem olhando e criticando. “Muitas vezes, para os outros, essa pessoa pode simplesmente parecer ser tímida e, por isso, não gosta de se expressar ou colocar sua opinião numa roda de conversa. Mas nem imaginam que dezenas de pensamentos distorcidos estão passando pela sua cabeça naquele momento, impedindo-a de se comunicar de forma livre e espontânea”, observa Patrícia.
Esse transtorno psicológico impede a pessoa de realizar suas atividades de rotina, de se comunicar ou de conviver em sociedade. Pode estar associado a crises de ansiedade e de pânico e a sintomas somáticos como sudorese, taquicardia, tontura, dores de cabeça, enjoos, tremores e sensação de fraqueza.
Julgamento do outro é ameaça constante
Alguém diagnosticado com alodoxafobia sofre com o medo de se expor, até mesmo para apresentar um trabalho profissional, mesmo que seja muito importante. “Aqui podemos exemplificar a distorção de pensamentos que potencializam a sensação de julgamento alheio. Ao apresentar uma palestra ou um trabalho relevante, considera-se que o candidato tenha se preparado para explanar sobre o assunto escolhido. Sendo assim, as pessoas ali estão esperando para escutá-lo e estão interessadas em agregar conhecimentos. Portanto, essa pessoa que vai falar estará se mostrando ou se expondo? A resposta correta é se mostrando (centro das atenções de forma positiva), pois se preparou para isso. Se você pensou que a resposta seria se expor (centro das atenções de forma negativa), provavelmente teve uma distorção de pensamentos devido uma projeção crítica sobre si mesmo, pois imagina o risco de ser julgado pelos outros, quando na verdade você mesmo está se autojulgando”, pondera a psicóloga Patrícia Renaldo da Silva Amaral.
O tratamento indispensável é uma boa psicoterapia, seja individual ou em grupo, com acompanhamento semanal. “A opção pela psicoterapia grupal é ótima para trabalhar os medos, as fantasias e as distorções de pensamentos sociais sobre si mesmo. Também pode haver a necessidade de acompanhamento psiquiátrico, caso os sintomas fisiológicos estejam muito latentes. Há casos que requerem tratamentos paliativos, e outros, medicações adequadas, como nos casos de transtornos associados a crises de ansiedade ou pânico”, finaliza a psicóloga.
Dicas para se livrar desse mal
Lembre-se de que você não vai agradar sempre a todos.
Observe quais pensamentos são reais e quais são fantasias.
Tenha em mente que você não tem controle sobre o que os outros pensam.
Não deixe que o outro te desestabilize.
O Tempo
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