O TEMPO
Paulo César de Oliveira
PUBLICADO EM 01/05/18 - 03h00
“A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública”.
Se tivéssemos prestado atenção nas advertências e ensinamentos de Ulysses Guimarães, não teríamos passado por tantas crises, tantos sobressaltos políticos, como o que vivemos agora, nos últimos 30 anos. Os cupins da corrupção estão aí, corroendo nossa vida política e nossa economia, provocando a descrença do povo, abrindo caminho para os demagogos, cada vez mais ousados e em maior número, como alertou o “Senhor Constituição”.
Não cuidamos de não deixar roubar, prendemos poucos, quase nenhum dos que roubaram, e vimos, por isso, o país se deteriorar, tornar-se amoral em ética. Muitos se apegam à Constituição Cidadã de Ulysses, pensada para ser o esteio de um país livre e democrático, para se verem livres da prisão por corrupção.
Ulysses se esmerou em defender os direitos humanos dentro do texto constitucional, até como forma de blindar o cidadão contra os excessos do poder, exacerbados no regime militar. O que deveria ser garantia do cidadão vai sendo usado como proteção aos “cupins” da democracia, corruptos de toda sorte que conseguem se manter impunes e livres para irem às urnas. Quando “cupins” e demagogos se juntam – em muitas situações, são a mesma pessoa – em “tenebrosas transações”, como na música de Chico, o país se coloca em risco ainda maior.
E não é outra a situação que vivemos agora, na formação de chapas e debates de coligações para as eleições de outubro. A turma das soluções fáceis, sempre com promessas de proteção aos mais pobres, desfila livremente abraçada ou em defesa dos “cupins”. Se o que teremos no futuro próprio é o quadro que se desenha, a coisa está ruim. Muito ruim. Quem acha que não tem jeito de piorar corre o risco de ter uma grande surpresa. É só esperar.
Então, se é assim, vamos buscar em Ulysses o ensinamento sobre como enfrentar a situação. “Cercado, ataco”, repetia ele a frase de um estrategista francês, conforme relata a companheira e confidente do velho emedebista no livro “Histórias de Mora”. É exatamente o que precisamos fazer, pois estamos cercados por velhas raposas que dominam a política brasileira. Eventualmente, mudamos os nomes, mas não as práticas políticas. Elegemos quem, no fundo, pensa igual sobre a pilhagem do patrimônio público. Quem tem conceitos éticos muito semelhantes. Mesmo que ainda não inteiramente, esses grupos e suas formas de agir estão escancarados pelas denúncias e investigações. Não podemos dizer que não os conhecemos. É, portanto, a oportunidade de atacá-los, eliminando-os, pelo voto, da vida pública, escolhendo outros, sem nos deixarmos atrair pelo canto da demagogia. Ou agimos agora, ou vamos continuar cercados pelos “cupins” e pelos demagogos. Não há outra opção.
O Tempo
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