Geisel entrou para a História como o ditador que controlou os excessos da “tigrada”.
Depois da morte sob tortura nos porões do Exército (DOI-Codi) do diretor de jornalismo da TV Cultura, Wladimir Herzog, em 1975, e do operário Manuel Fiel Filho, em 1976, Geisel exonerou o general Ednardo D’Ávila Mello, comandante do II Exército.
Mais tarde, demitiu o general de linha-dura, Sylvio Frota, anunciou a política da Abertura, retirou os censores dos jornais e extinguiu o AI-5.
No entanto, o pesquisador brasileiro da FGV, Matias Spektor, encontrou um documento da CIA que contesta a imagem de bom pastor do ex-presidente.
É a primeira vez que aparece um documento que associa os nomes de Geisel e do general João Figueiredo em comandos de execução de presos políticos (“subversivos”).
O memorando de 11 de abril de 1974 que William Egan Colby (diretor da CIA entre 1973 e 1976) enviou ao Secretário de Estado, Henry Kissinger, tem um título nada sutil:
“Presidente brasileiro Ernesto Geisel decide continuar execução sumária de subversivos sob certas circunstâncias”.
Num texto curto de seis parágrafos, alguns deles ainda “not desclassified” (não liberados), o diretor relata que, em 30 de março de 1974, Geisel se reuniu com os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, do Centro de Inteligência do Exército (CIE), e o general João Baptista Figueiredo, do Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
Exatos 15 dias depois de tomar posse (15 de março de 1974).
Ouviu que o Brasil não poderia ignorar a “ameaça subversiva terrorista”.
Ouviu que o Brasil não poderia ignorar a “ameaça subversiva terrorista”.
O general Milton Tavares contou que métodos ilegais foram empregados contra “subversivos perigosos”, e que 104 pessoas foram sumariamente executadas pelo CIE nos últimos anos, diz a CIA.
Figueiredo apoiou a continuidade desse tipo de combate à subversão.
Segundo relatório da CIA, “em 1 de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que cuidados deveriam ser tomados para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados.”
No décimo aniversário do Golpe de 64.
“O presidente e o general Figueiredo concordaram que, quando a CIE prender uma pessoa que possa ser enquadrada nessa categoria, o chefe da CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O presidente e o general Figueiredo também concordaram que a CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral da CIE será coordenado pelo general Figueiredo”, finaliza o memorando.
Pode-se então deduzir que o afastamento do general Ednardo foi por insubordinação; não pedira autorização para matar.
E que os combatentes da Guerrilha do Araguaia foram executados com aprovação do Planalto.
Assim como três dirigentes do PCdoB, Pedro de Araújo Pomar, Angelo Arroyo e João Batista Franco Drummond, executados na Lapa em dezembro de 1976.
A não ser que a demissão de Sylvio Frota em 1977 tenha relação a estas outras insubordinações.
Spektor escreveu na sua página do Twitter: “Este é o documento mais perturbador que já li em 20 anos de pesquisa: Recém-empossado, Geisel autoriza a continuação da política de assassinatos do regime, mas exige ao Centro de Informações do Exército a autorização prévia do próprio Palácio do Planalto.”
Leia-o na íntegra:
https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1969-76ve11p2/d99?platform=hootsuite
O Tempo
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