“Ser poeta é ser mais alto, é ser maior/ Do que os homens! Morder como quem beija!/ É ser mendigo e dar como quem seja/ Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!/ É ter de mil desejos o esplendor/ E não saber sequer que se deseja!/ É ter cá dentro um astro que flameja/ É ter garras e asas de condor!”, assim escreveu a portuguesa Florbela Espanca sobre o devir de mulheres e homens pela poesia. Coadunando com as ideias de sua conterrânea, a cantora Eugênia Melo e Castro apresenta o show “Ser Poeta é ser mais alto”, nesta quarta-feira (9), no Sesc Palladium. “Ser poeta é ser mais alto que os próprios sonhadores. O poeta vai além, como uma criança. Parece que a pessoa cresce e se transforma maior do que aquilo que jamais sonhou”, pondera Eugênia.
No show desta noite, a cantora apresentará uma seleção de músicas em língua portuguesa que partiram de poesias. “Reuni uma série de músicas ao longo de 30 anos. São criações de poetas portugueses que foram musicadas”, revela a artista.
No repertório desta noite – além da música “Ser Poeta”, de Florbela Espanca – aparecem nomes basilares da poesia lusa, como Camões, Fernando Pessoa, Antônio Boto e Ernesto Melo e Castro. A seleção, entretanto, não conta com nada além da coincidência de serem poesias portuguesas transformadas em canções. O que, segundo Eugênia, já constitui uma seleção criteriosa. “Nem toda poesia pode ser musicada. Aliás, a maioria não pode”, garante ela. “Quando um artista escolhe um artista para musicar, ele tem que ver se existe uma lógica na métrica, uma tendência musical. Se isso acontecer, então o poema pode ser musicado”, completa.
Precursora. Eugênia foi a primeira artista portuguesa a lançar álbuns no Brasil, ainda na década de 80. Mais de 30 anos depois, ela considera que o mercado se abriu para outros artistas de seu país que desejam estabelecer laços com o Brasil e com o mundo. “Acredito que as relações nunca estiveram tão boas. Até 2000, eram muito tímidas. A partir daí, houve uma melhor troca para os artistas portugueses de uma forma mais profissional. Há uma troca entre as gravadoras. Acho que os artistas portugueses entraram num circuito. Isso é sempre muito produtivo”, comemora.
Outro ponto destacado por ela é a possibilidade que a música portuguesa atual trouxe para um real entendimento do que é o país nos dias de hoje. “É possível que as pessoas tenham uma imagem real do que é Portugal. Não somos um país tradicional, como muitas pessoas pensam. Portugal é um país completamente contemporâneo”, ressalta a artista, que tem em sua carreira parcerias importantes da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim e Toninho Horta.
A música de Eugênia chama atenção por seu trânsito entre estilos. Algo que ela chama de “viajante”: “Viajantes em nacionalidades e gêneros musicais, entre Portugal e Brasil, enriquecendo a linguagem e a troca de imagens sonoras, numa língua portuguesa comum, numa música que se sente e se faz universal”, pondera. A cantora se considera uma artista portuguesa atípica. “Eu não sou uma cantora portuguesa comum. Eu ando pelo mundo fazendo música. E trago um estilo que não é fado, tampouco samba”, ressalta.
O que poucos sabem é que ainda na década de 80, em Portugal, Eugênia trabalhou como atriz em telenovelas. O que segundo ela, não trouxe nenhuma contribuição para suas performances ao vivo como cantora. “Foram brincadeiras que eu fui fazendo aqui e ali. Tudo que eu fiz, como atriz, não é uma coisa muito séria na minha vida. Nunca tiveram um papel central. A música e a escrita são o que me interessam. As brincadeiras como atriz são experiências deslocadas”, finaliza a cantora.
Agenda
O quê. “Ser Poeta é ser mais alto”, show de Eugênia Melo e Castro
Quando. Quarta (9), às 20h
Quanto. R$ 20 e R$ 10 (meia)
Onde. Sesc Palladium (Avenida Augusto de Lima, 420, centro)
Programe-se
O show desta quarta da portuguesa Eugênia Melo e Castro integra a programação temática da Língua Portuguesa, que movimenta os espaços do Sesc Palladium e vai até o dia 8 de julho.
O Tempo
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