terça-feira, 8 de maio de 2018

Felicidade é algo que pode ser aprendido por qualquer pessoa

Toda pessoa pode aprender a ser feliz. É o que defende a psicóloga e antropóloga norte-americana Susan Andrews, doutora em psicologia transpessoal pela Universidade de Greenwich (EUA). Radicada no Brasil há 25 anos, ela afirma que a felicidade pode ser compreendida como a fórmula que consiste na combinação entre o grau e a frequência de emoções positivas, o nível médio de satisfação que obtemos durante um longo período e a ausência de sentimentos negativos, como a tristeza e a raiva.

Esse conceito marca a felicidade como um aspecto estável, e não como um estado momentaneamente flutuante. Por isso, ela não é apenas caracterizada como a falta de emoções desagradáveis, mas como a presença de sentimentos prazerosos. “Podemos chamá-la de ciência da felicidade ou ‘ciência da hedônica’. A palavra hedônica pertence ao psicólogo Daniel Kahneman – que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 2002. Ele diz que, até um certo nível de riqueza, o sucesso material de fato traz mais felicidade”, explica Susan.

Contudo, afirma a psicóloga, após um certo ponto, bens materiais não trazem mais satisfação. “O que importa, a essa altura, são os chamados ‘fatores não materiais’, como companheirismo, famílias harmoniosas, relacionamentos amorosos e uma sensação de se viver uma vida significativa. Nós, enquanto seres humanos, temos fome não apenas por alimento para o corpo, mas também para a alma”, diz.

Segundo Susan, em diversos estudos realizados no mundo todo, esses fatores têm sido repetidamente apontados como responsáveis por proporcionar felicidade duradoura. “Fortes laços afetivos com amigos e familiares, o amor que damos e recebemos e a sensação de significado na vida – a sensação de estar contribuindo para algo importante, maior que nós”, destaca.

Além desses elementos, Susan aponta que os lugares também exercem influência no contexto de felicidade. “Seja sua casa, sua escola, seu trabalho, onde você pratica seu lazer ou hobbies: todos esses locais impactam como você se sente, como você age”, esclarece.

Ainda nesse sentido, Susan garante que o Brasil é um lugar especial. “Desde que cheguei ao país, há 20 anos, senti intuitivamente que este país tinha, e tem, um papel especial de iluminar o caminho rumo a essa nova civilização – ao futuro que todo ser humano almeja e tem direito de experimentar. E, a cada ano que passa, tenho mais certeza disso. Chegou a hora de abraçarmos essa aurora radiante, todos juntos”, salienta.

Projeto 

Em 1992, Susan Andrews fundou o Instituto Visão Futuro, responsável pela ecovila Parque Ecológico, localizada em São Paulo.

A proposta é estabelecer uma economia solidária e autossuficiente, que possa prover as necessidades básicas – alimento, habitação, saúde, educação, remédios e cosméticos – aos seus integrantes.

Além disso, almeja conscientizar a sociedade do valor existencial de todos os seres vivos

Tema é discutido em congresso internacional 

Minas Gerais está sendo palco para que a felicidade seja o foco do II Encontro Internacional de Felicidade e Bem-Estar, organizado pelo Instituto Movimento pela Felicidade. O evento, que já aconteceu em Ouro Preto e Contagem, conta com as pesquisas mais recentes no âmbito da neurociência, da psicologia positiva e da biopsicologia.

Unindo teorias e vivências, o encontro reúne especialistas globais (entre eles, Susan Andrews), casos de sucesso e praticantes experimentados e visa abordar a felicidade de maneira integral.

A estreia aconteceu em Contagem, em abril. Na ocasião, o foco foram as pessoas e a felicidade estimulada pelo autoconhecimento e pelo autodesenvolvimento. Cidades felizes foram a temática. Foram debatidas políticas públicas voltadas para a felicidade, além de cases de países onde projetos de felicidade vêm sendo realizados.

Ouro Preto receberá o encontro a partir de amanhã até o dia 11. Já Belo Horizonte vai encerrar o congresso, nos dias 19 e 20 de junho. Nesse caso, serão abordadas as organizações felizes, com práticas de gestão voltadas para felicidade, para otimizar o desempenho e melhorar o resultado das empresas.

Minientrevista
Susan  Andrews
Psicóloga e antropóloga 


Qual é a essência da felicidade?
Ela pode ser considerada uma característica por algumas pessoas, mas prefiro citar o psicólogo Richard Davidson ao dizer que a felicidade é uma habilidade que você pode treinar. É como jogar basquete ou tocar violão: quanto mais você pratica, melhor é.

A felicidade pode estar associada também ao propósito de vida?

Ele é fundamental. Trata-se daquela sensação de que não estou aqui para mim mesma, para o meu prazer, mas tenho algo maior, algo que é além de mim. Pessoas que têm esse algo maior – que pode ser de cunho familiar, religioso, espiritual – brilham como faróis da escuridão. São propósitos que vão além de seus interesses próprios e se destinam ao próximo. Aristóteles já dizia que a verdadeira felicidade vem do altruísmo, de querer o bem dos outros.

A felicidade move a humanidade?


Sempre moveu, mas, hoje, move na direção errada, infelizmente. Há o mito criado pela mídia de que, se eu tenho uma bolsa nova, um carro novo, viajo o mundo todo, serei feliz, mas não. Vemos que estamos na direção errada porque, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020, a depressão será a doença que mais afetará a saúde humana.

Como uma pessoa feliz impacta o ambiente em que ela está inserida?

Você já percebeu que, se entrar numa casa onde há briga, imediatamente você se sente mal? Ou, quando uma pessoa se aproxima de você de “cara feia”, automaticamente seu sistema nervoso entra em crise, e você se sente atingido? É o que chamamos de ‘contágio emocional’ porque as emoções são contagiosas. Uma pessoa feliz irradia o ambiente com energia de positiva e contagia os outros. Seja um sorriso, um gesto carinhoso, uma apreciação leve. Todos temos a chance de nos contagiarmos em qualquer lugar.
O Tempo

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