Casarão da infância de JK, em Diamantina, está sob risco
com falta de repasses do Estado
O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Agostinho Patrus (PV), defendeu a regularização dos pagamentos atrasados do Estado à Casa de Juscelino durante reunião, nesta quarta-feira (9/6), com o deputado estadual Celinho Sintrocel (PCdoB), o administrador do museu, Serafim Jardim, e o presidente da Academia Mineira de Medicina (AMM), Dr. Emerson Fidelis Campos. No encontro virtual, foi discutida a condição de precariedade financeira vivida pelo sobrado localizado no Centro Histórico de Diamantina (MG), que preserva importante acervo histórico da infância e da adolescência de Juscelino Kubitschek. Para Agostinho Patrus, é inadmissível a persistência dessa situação na cidade que tem o título de Patrimônio Mundial Cultural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
“Juntos, nós vamos buscar a solução e comemorar não só a reabertura, mas a continuidade e a perpetuação da Casa de Juscelino, que é fundamental para a memória de Diamantina e de Minas Gerais. É preocupante não termos recursos para uma das apenas quatro cidades mineiras que são consideradas patrimônios da humanidade”, afirmou o presidente da ALMG.
Em 1988, o Estado de Minas Gerais, por meio da Lei 9.660, declarou a Casa de Juscelino como uma instituição de utilidade pública e atribuiu ao museu um apoio financeiro, por meio da Lei 9.722, reajustável anualmente. Entretanto, segundo Serafim Jardim, administrador do museu há 39 anos e amigo pessoal de JK, o sobrado está há mais de mil dias sem receber os recursos do Governo do Estado, previstos em lei, para a manutenção das atividades.
“É um absurdo o que acontece com a Casa de Juscelino. Essa é uma instituição permanente que visa preservar a memória de Juscelino Kubitschek, herói da pátria, e já estamos há três anos, há 1.062 dias, sem receber um real”, expôs Jardim, ao lamentar o fechamento da casa.
Na oportunidade, o deputado Celinho pediu a intercessão do Legislativo mineiro em favor do patrimônio. “O aporte atualizado para valores reais, no mês de abril deste ano, corresponde a repasse anual de cerca de R$ 400 mil. Contudo, a entidade não recebeu o recurso a ela devido. Procurei o presidente Agostinho Patrus porque sei que ele valoriza a história de Minas e que, juntos, vamos conseguir sensibilizar o Governo do Estado para garantir esse repasse”, declarou.
Não é a primeira vez que a escassez de recursos coloca sob risco o patrimônio diamantinense. Em 2019, a Casa de Juscelino ficou fechada por mais de seis meses devido à falta de repasses pelo Estado. Na época, chegou a ser reaberta para a entrega da Medalha JK. Naquele ano, a Comissão de Cultura da ALMG conseguiu que a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) abraçasse a causa e, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), o sobrado pôde receber recursos para reforma, ampliação do acervo e novos espaços. Segundo a Cemig, o investimento era oportuno, por estar de acordo com sua política pública e também porque Juscelino Kubitschek foi seu fundador, em 1952.
Na reunião, o pleito pela preservação da Casa de Juscelino foi reforçado pelo presidente e pelos primeiro e segundo vice-presidentes da Academia Mineira de Medicina, Dr. Emerson Fidelis Campos, Dr. José Carlos Serufo e Dr. José Carlos de Carvalho Gallinari, respectivamente, além de outros acadêmicos da instituição. Antes de seguir a carreira na vida pública como político, Juscelino Kubitschek foi um talentoso cirurgião, conhecido como "o bisturi de ouro da Força Pública mineira", o que lhe rendeu a condecoração do “Mérito Médico in Memorian”, em 2001, pela AMM, em razão das comemorações pelo centenário de seu nascimento. Fato é que JK foi o primeiro e único médico a ser eleito presidente do Brasil, tendo concluído a graduação na Faculdade de Medicina, em 1927. Segundo o pesquisador Fernando Araújo, autor do livro “Juscelino Kubitschek, o Médico”, JK foi o presidente que mais cuidou da saúde pública, sendo responsável pela erradicação de doenças como a malária, a febre amarela e a tuberculose.
Foto: Reprodução / ALMGLegado familiar Para o presidente Agostinho Patrus, defender o legado de Juscelino Kubitschek é honrar o nome de sua própria família, já que seus pais, Agostinho Patrús e Orcanda Rocha Andrade Patrús, foram médicos e membros da Academia Mineira de Medicina. “A sua mãe e o seu pai, ambos acadêmicos, se estivessem vivos, estariam aqui nos ajudando a defender a Casa de Juscelino”, lembrou o presidente da AMM, Dr. Emerson Fidelis Campos.
Orcanda foi a segunda a ocupar a cadeira de n.º 63, que tem como patrono José Nasciso Dias Teixeira de Queiroz Jr., um dos precursores em Minas Gerais no emprego das anestesias. Manteve-se na cadeira por 16 anos, de 1992 a 2009. Já Agostinho Patrús foi o terceiro ocupante da cadeira 77, durante 27 anos, entre 1981 e 2008. Seu patrono foi João Penido Burnier, que deixou uma considerável bagagem científica para a oftalmologia no país.
Além de médico, Agostinho Patrús foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tendo comandado os trabalhos do Parlamento mineiro quando, na 13ª Legislatura, foi criada a Medalha Presidente Juscelino Kubitschek, por meio da Lei 11.902, de 1995.
O Dr. Paulo Célio de Almeida Hugo, membro titular da AMM e ex-prefeito de Diamantina, também presente na reunião virtual desta quarta (9), fez questão de destacar o legado histórico da família Patrus em prol da preservação da história de Juscelino Kubitschek. “São muitos laços importantes na família Patrus por essa causa. Nós temos uma esperança enorme de que, com a força política do presidente Agostinho Patrus, conseguiremos o cumprimento da lei Há um passivo importante, que, se regularizados os repasses, pode ser resolvido”, disse.
E disparou: “é lamentável que não consigamos fazer com que a casa seja mantida. É vexatório isso. Justificar quem foi Juscelino, se merece isso ou não, chega a ser até insensato”, exclamou o Dr. Paulo Hugo. |
|
Fotos: Victor Oliveira / ALMG |
|
A Casa de Juscelino
O sobrado de nº 241, na Rua São Francisco, no Centro Histórico de Diamantina, na região do Jequitinhonha, foi onde Juscelino Kubitschek viveu dos 3 aos 19 anos. Construída em pau a pique e com traços típicos do estilo colonial do século XVIII, com paredes brancas e janelas e portas azuis, a casa guarda parte da trajetória daquele que foi presidente do Brasil, governador de Minas Gerais e prefeito de Belo Horizonte. Compõem o acervo fotos de JK, de sua família e da Diamantina do início do século passado, além de documentos, condecorações e objetos de seus tempos de estudante de Medicina e de início na vida política. |
|
|
Fotos: Divulgação / Casa de Juscelino |
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário