quarta-feira, 30 de junho de 2021

DIA INTERNACIONAL DO ORGULHO: PROFESSOR FALA SOBRE DIREITOS LGBTQIA+

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Ouro Preto

28 de junho de 2021


Por Lucas Porfírio 

No dia 28 de junho comemora-se o “Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+” (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis, Queer, Intersexo, Assexual). A  data faz alusão à Revolta de Stonewall. Em junho de 1969, liderados por Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, gays, lésbicas, travestis e outras minorias, frequentadores do bar Stonewall Inn, se levantaram contra a violência policial. 

Falar de orgulho LGBTQIA+ é falar, também, sobre direitos. O professor do curso de direito da UFOP e presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-MG, Alexandre Bahia, destaca que “passado mais de 30 anos da Constituição do Brasil, praticamente todos os direitos que foram concedidos para minoria LGBTQIA+ no Brasil vieram através de decisões do judiciário. Por exemplo, esse  ano faz 10 anos da decisão do STF da união estável [...]. Acho que passa muito pelo judiciário, já que o legislativo insistentemente não trata dessas questões, apesar de já ter sido chamado várias vezes”. 

Há dois anos, no dia 13 de junho, o Supremo Tribunal Federal - STF decidiu permitir a criminalização da homofobia e transfobia no Brasil. Desde então, declarações homofóbicas podem ser enquadradas no crime de racismo, com pena de um a três anos de prisão e, em casos mais graves, de até cinco anos. 

Apesar da decisão do STF, os casos de violência contra a população LGBTQIA+ ainda são muitos e a medida de criminalização nem sempre é cumprida. O RELATÓRIO do “Observatório das Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil - 2020”, realizado por pesquisadores do Grupo Gay da Bahia, aponta que “Em 2020, 237 LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia: 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%)”. 

Alexandre Bahia explica que o descumprimento da decisão do STF se dá por um conjunto de fatores. “Mas, a principal questão, é que mesmo depois da decisão, os órgãos de segurança pública não mudaram os procedimentos internos para receber as denúncias de crimes homofóbicos e transfóbicos.  [...] não houve uma mudança  para pegar a decisão e alterar formulários, mudar procedimentos e principalmente capacitar os agentes de segurança para que sejam sensíveis e conheçam a demanda, os problemas. Isso ainda é um desafio enorme, enquanto isso não acontecer, dificilmente, a decisão vai sair do papel”, completa o professor. 

Quando se fala em direitos LGBTQIA+, muitos questionam quais são esses direitos. O presidente da Comissão de Diversidade Sexual esclarece que “todos os direitos que foram reconhecidos à minoria LGBTQIA+ são direitos de igualdade. São direitos para colocar essas pessoas no mesmo patamar que os demais. Por exemplo, em relação à união estável e ao casamento, é exatamente o mesmo direito que outras pessoas já possuem. No caso da criminalização da homofobia e transfobia é a mesma criminalização que já existe para preconceito por cor, por religião, por procedência nacional. Não é nada além daquilo que as outras pessoas já tem”. 

Juridicamente, existem alguns meios para a população LGBTQIA+  buscar seus direitos. Em casos de denúncias de crime de violência, podem ligar no disque 100. Em Belo Horizonte existe o Núcleo de Atendimento e Cidadania à População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (NAC/LGBT), uma proteção formal da Polícia Civil. Ainda, existe a Comissão de Diversidade da OAB de Minas Gerais e o trabalho do Conselho Regional de Psicologia do Estado. Além de outras instituições voltadas para população LGBTQIA+. 

“É importante que a comunidade tenha consciência dos seus direitos, saber das decisões judiciais que já foram dadas, procurar conhecer essas decisões. Procurar também órgãos especializados [...]. Acho que a comunidade precisa procurar esses órgãos para saber dos direitos e se valer deles”, afirma Alexandre Bahia. 

Por mais difícil que seja, é necessário que a população LGBTQIA+ não se envergonhe, não tenha medo e denuncie crimes LGBTfóbicos. Segundo o professor, “quanto mais casos forem denunciados, quantos mais casos chegarem a ter uma denúncia do Ministério Público em que a questão homofóbica e transfóbica esteja ali estampada, isso gera um benefício para toda comunidade. Começa a gerar uma expectativa nas pessoas delas não fazerem, não falarem mais determinadas coisas. É extremamente importante. Infelizmente, a gente precisa de que casos assim sejam levados às autoridades, para que no futuro, essa situação mude”.  

O professor relembra que apesar de aparentes retrocessos, mensagens ruins da política institucional, principalmente no Governo Federal, hoje é um dia para ser comemorado: “Nós tivemos muitos avanços, graças à atuação de advogados, pessoas em organizações não governamentais, profissionais da saúde, da psicologia,  que têm conseguido, a despeito da omissão do Congresso Nacional, criar algumas políticas institucionais de proteção dos direitos da minoria LGBTQIA+. É um dia importante para gente se orgulhar de tudo aquilo que foi conquistado durante esses anos”.  


Jornal O Liberal 

Região dos Inconfidentes

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