Durante o debate, uma frase sua chamou muito a atenção: “Ou fazemos as reformas, ou fazemos uma escolha de fracasso”. O senhor pode comentá-la? Se não fizermos as reformas, a dívida pública do Brasil vai explodir. Assim, o que nós vamos ter é uma reedição de uma hiperinflação. A hiperinflação tem o efeito, entre outras coisas, de pulverizar a dívida, ou seja, quem deve não paga, e quem deve receber não recebe. É isto o que pode acontecer: o Estado é devedor, ele não paga, e a sociedade não recebe. Só que a hiperinflação não é homogênea: ela é muito mais efetiva entre os mais pobres, e estes vão ficar muito mais pobres. Por outro lado, aqueles que têm mais renda acabam por se defender comprando dólar ou tendo ativo indexado, por exemplo. Assim, condenamos o país a uma taxa de crescimento muito baixa, próxima de zero. Se fizermos isso, será uma trajetória triste, pois vamos ficar velhos e não vamos ter ficado ricos.
E sobre o momento dessas reformas? Elas deveriam ser feitas o mais brevemente possível? Eu acho que já estamos atrasados. O problema é que estamos em um momento político complicado. Temos que ter um pouco de calma, fazer as reformas e, depois, começar a realizar outra reforma, a política.
Falando especificamente da reforma tributária. O que podemos destacar? Acredito que ainda há muito o que amadurecer. Ela é importante. Nosso sistema tributário tem vícios muito complicados. A nossa carga tributária não é homogeneamente distribuída como deveria ser, não apenas entre indivíduos, mas também entre setores. Isso tem que ser corrigido, mas ainda não há uma proposta definitiva. Há um caminho, talvez, que seria uma unificação do IPI, do ICMS e do ISS, criando um único imposto compartilhado entre a União, os Estados e os municípios. Vamos ver. Ainda tem que avançar muito. Precisamos debater seriamente isso para que tenhamos uma agenda tributária para os próximos anos e para quando o país voltar a crescer, se voltar a crescer.
Então, isso não deve acontecer no mandato do presidente Temer? Eu acho difícil, porque não há tempo e talvez não exista espaço. O meu temor é que paralisemos o país por outras razões, sendo que estamos dançando Carnaval à beira do precipício. Nós estamos à beira de um precipício fiscal. Se não tivermos juízo, vamos quebrar.
E a reforma da Previdência? Se ela não for aprovada neste mandato, nós estaremos talvez não mais dançando à beira do precipício: pode ser que já comecemos a cair dele. Se não conseguirmos controlar a despesa previdenciária, já em 2019 estoura a PEC dos Gastos, ou seja, o país não terá condições de se financiar. Quando o governo não tem condições de financiar, já sabemos a história, os caminhos possíveis: a inflação, o aumento da carga tributária e o endividamento público. Eu acho que nenhuma das três possibilidades é boa para o país.
O Tempo
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