sábado, 4 de novembro de 2017

Papa aceita discutir fim do celibato para padres na Amazônia

Rio de Janeiro. O papa Francisco permitiu que seja aberta uma discussão na Igreja Católica sobre a possível suspensão parcial do celibato para os padres, segundo fontes do Vaticano ouvidas pelo jornal “Il Messaggero”.
A proposta inusitada dentro do tradicionalismo católico teria vindo do cardeal brasileiro Claudio Hummes, que tem uma próxima relação com o pontífice e quer encontrar uma solução prática e definitiva para a falta de padres na região amazônica. O tema tabu poderá ser discutido no sínodo de 2019.
De acordo com a imprensa italiana, os bispos de toda a região amazônica foram convocados para encontrar uma nova estrada para a evangelização.
O projeto defendido por Hummes, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, seria que homens fiéis casados pudessem ser nomeados a cargos de administração espiritual das suas comunidades, que muitas vezes ficam em áreas isoladas e de difícil acesso, evitando, assim, que o celibato continue a ser um dogma indiscutível em Roma.
O celibato de padres não é considerado um dogma católico, mas sim uma disciplina. Isso significa que não é uma verdade revelada pela fé, uma vez que por diversos séculos os sacerdotes puderam se casar e ter filhos.
Os relatos são de que, nos últimos dias, Dom Erwin Krautler, secretário da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), falou sobre a urgência de lidar com a questão amazônica. O assunto teria sido tratado diretamente com o papa Francisco, segundo a agência austríaca Kna. Krautler reconhece que esse é um assunto que pode ser discutido, mas ressalta que não é o ponto principal do sínodo. “O sínodo não tem esse tema. O tema é a evangelização e novos caminhos em relação aos povos indígenas na Amazônia, que está ameaçada em sua sobrevivência. Fala-se também da escassez do clero nessas comunidades. Mas o sínodo foi convocado no dia 15 de outubro e não tem proposta nenhuma dessas ainda. Está tudo no começo”, pontuou Dom Erwin.
Abertura. “O próximo passo é ouvir as conferências, que farão suas propostas e, a partir de então, formar um manual de alinhamento para depois ser discutido em 2019”. Hummes não quis dar entrevista.
Em março, o papa Francisco já havia levantado publicamente a discussão sobre a possibilidade de mudar a disciplina do celibato eclesiástico. Sugeriu que poderia vir à pauta da Igreja o debate sobre a ordenação de Viri probati – ou seja, os homens de fé comprovada – que já fossem casados.

 

Evangelização tenta se descolar da época do descobrimento 

A presença e a atuação do papa Francisco têm inspirado um clima de muita abertura e mudanças na Igreja Católica, e a região da Amazônia tem sido uma preocupação particular, segundo o teólogo e professor do programa de pós-graduação de Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Faustino Teixeira.
Uma das questões específicas expressas pelos bispos brasileiros é que o papa pensasse numa solução de evangelização e de atuação da Igreja Católica na Amazônia, podendo inclusive ampliar o serviço ministerial também para os leigos, explica o teólogo. “Acho essa uma posição muito interessante, e que vem sendo debatida no Brasil e na América Latina. Os leigos teriam inclusive a possibilidade de ordenação para atuar como ministros, em função da grande carência de sacerdotes para atender a região, e pensar de forma diferente o exercício ministerial da igreja em função da crise vivida nos últimos anos”, avalia Teixeira.
De acordo com o professor, a forma de evangelização de comunidades indígenas atualmente nada tem a ver com a evangelização dos índios há 500 anos após o descobrimento do Brasil.

“O trabalho junto aos indígenas que tem sido realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) não é de converter os índios ao catolicismo, mas de atuar junto a eles no sentido de fortalecer a dignidade dessa população e reconhecer o respeito às suas terras”, diz.
O Tempo

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