terça-feira, 28 de novembro de 2017

Sergio Moro diz sofrer ‘ataques sujos’

O TEMPO

LAVA JATO

Em São Paulo, juiz afirma que reações têm ligação com o fato de os crimes serem praticados por políticos


PUBLICADO EM 28/11/17 - 03h00







SÃO PAULO. O juiz Sergio Moro relatou nessa segunda-feira (27) ter sofrido “ataques sujos” durante a condução das investigações da Lava Jato. Sem citar nomes ou exemplos, o magistrado responsável pelos processos da operação em Curitiba disse que há tentativas de “diversionismo”, com ataques a quem investiga e julga. As reações, acredita, vêm do fato de que muitos dos crimes investigados foram praticados por políticos.

“Um lado negativo que, particularmente, eu não esperava foram alguns ataques sujos por conta, provavelmente, desses processos atuais envolverem crimes praticados por pessoas na política”, disse Moro, durante participação no fórum “Páginas amarelas ao vivo”, promovido pela revista “Veja” em São Paulo.

“Ao invés de eu discutir a minha responsabilidade, eu ataco as pessoas responsáveis pelos processos. Mas eu estou absolutamente tranquilo com as coisas que eu fiz”, afirmou o juiz. “Quanto a essas ofensas, tem um ditado: não se deve atirar uma pedra em todo cachorro que ladra. Eu não vou ficar me incomodando com mentiras”, disse.

No evento, Moro defendeu a divulgação da conversa telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, em março do ano passado, e disse que o diálogo tem trechos “não republicanos”. Na conversa gravada com autorização do magistrado, Dilma diz a Lula que mandará um assessor entregar-lhe seu termo de posse como ministro da Casa Civil, que só deveria ser usado “em caso de necessidade”. A nomeação garantiria ao ex-presidente o foro privilegiado.

“Na minha opinião, eu fiz exatamente o que a lei exigia e o que era necessário. Acho que o conteúdo daquele diálogo deveria vir a público porque não eram exatamente conversas republicanas. O problema não foi tanto a divulgação, mas o conteúdo do diálogo”, disse Moro, ressaltando que não se arrepende da divulgação.

“Essas coisas têm que vir a público. Os governantes têm responsabilidade sobre os governados e devem agir com absoluta transparência”, afirmou. “Não cabe ao poder Judiciário servir de guardião dos segredos sombrios dos nossos governantes”, disse.

Frustrações. No evento, Moro citou falhas legislativas que, segundo ele, permitem a corrupção, como algumas de suas frustrações desde o início da Lava Jato, em 2014. “Minha maior frustração seria tudo o que fizermos não ir adiante”, disse.

O juiz disse que é preciso ir além da redução do foro privilegiado e eliminar por completo essa prerrogativa, inclusive a magistrados – ele afirmou estar disposto a abrir mão do privilégio. Moro ressaltou também que é preciso criar bloqueios legislativos ao loteamento político das estatais, que levou às indicações políticas que permitiram desvios em empresas como a Petrobras.

“Diferentemente do que acontecia no passado, hoje a impunidade não é mais a regra”, disse, pedindo que “nossas lideranças” políticas aproveitem o atual momento para estabelecer medidas que valorizem as boas práticas.

Para o magistrado, as eleições do ano que vem serão uma oportunidade de mudança na política. Ele considerou que, ainda que as agendas econômica e social sejam importantes, o combate à corrupção precisa estar no centro do debate. Disse ter curiosidade sobre o que pensam os potenciais candidatos a respeito do foro privilegiado e do loteamento das estatais: “É preciso que quem postule tenha respostas a essas questões”.

Ainda durante o fórum, Moro reafirmou que não pretende disputar qualquer cargo público, porque isso colocaria em dúvida a integridade de seu trabalho. O juiz disse que uma candidatura seria inapropriada neste momento e que também não vê essa possibilidade no futuro.
TRF. Questionado sobre possível prisão de Lula, Moro disse apenas acreditar no trabalho feito pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, onde tramita o recurso do petista à condenação do triplex.
O Tempo

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