O TEMPO
LANÇAMENTO
Jorge Schwartz traz à luz guia, iniciado há 20 anos, que expõe as referências do escritor argentino
PUBLICADO EM 22/07/17 - 03h00
SÃO PAULO. O título “Borges Babilônico: Uma Enciclopédia”, do livro organizado por Jorge Schwartz que chega agora às prateleiras, não podia ser mais apropriado. Quem se aproxima da obra do escritor argentino Jorge Luis Borges terá a sensação de estar diante de um grande monumento. Lê-lo, em resumo, é como percorrer labirínticos corredores.
A imagem não se deve apenas à vastíssima cultura enciclopédica de Borges – com referências à filosofia, à teologia, aos mitos e literaturas orientais e ocidentais –, mas também à forma como ele usou tal saber para construir grandes abstrações do pensamento.
Jorge Schwartz apresenta, então, um mapa do labirinto. Com colaboradores como Alberto Manguel, Beatriz Sarlo e Leyla Perrone-Moisés, entre outros, a obra traz verbetes sobre o universo do autor.
O volume, conta Schwartz, começou a ser feito há 20 anos – como um exercício com alunos de graduação, para ser um pequeno guia. A ideia é interessar tanto o especialista, que deseja respostas específicas para suas dúvidas, quanto estimular o leitor leigo a ler Borges.
“A curiosidade de qualquer leitor pode fazer do verbete um final em si mesmo, ou um instrumento de análise. Há uma vasta bibliografia final, dos livros consultados pelos verbetistas, a qual sem dúvida ajudará o especialista”, diz Schwartz.
Não é só por explorar o universo do argentino que o livro é borgiano. O autor era um grande leitor de dicionários e enciclopédias – que ele lia horizontalmente, não como instrumento de consulta.
“Ninguém deu o status de literatura às enciclopédias e dicionários como Borges”, afirma Schwartz.
Além disso, em textos clássicos, Borges associava a experiência do homem na biblioteca a uma experiência com o infinito – e a questão da organização desse vasto mundo também estava presente.
“Nada substitui o prazer da leitura de contos clássicos como ‘Biblioteca de Babel’, ou ‘Tlön, Uqbar, Orbis Tertius’ (no livro ‘Ficções’), em que a biblioteca tem protagonismo fundamental”, afirma Schwartz.
Para o crítico, a horizontalidade da enciclopédia tradicional faz ela vencer a Wikipédia, ao aproximar aleatoriamente, por exemplo, o verbete “enciclopédia” a “En Soph”, a pura essência de Deus segundo os cabalistas.
FICÇÃO E TEORIA. Schwartz lembra que o chamado “boom” da literatura norte-americana, nos anos 60, não existiria sem a literatura de Borges.
“É uma verdadeira revolução no campo da escrita, em que se fundem ficção, crítica e teorias literárias. Borges deu uma dimensão universal à literatura argentina, que pecava por excesso de nacionalismo e de cor local”, diz.
O organizador do volume lembra dos encontros com Borges quando o autor veio ao Brasil, em 1984. “Aos 84, sua imagem impunha a visão de um profeta cego, um Tirésias argentino”, conta o autor.
OBRA
“BORGES BABILÔNICO”
Jorge Schwartz,
Companhia das Letras,
576 páginas, R$ 109,90
Jorge Schwartz,
Companhia das Letras,
576 páginas, R$ 109,90
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