domingo, 30 de julho de 2017

Uma poesia que cria laços permanentes


Carlos Drummond de Andrade ocupa um lugar central na poesia moderna do país e, de acordo com o professor e pesquisador da UFMG Roberto Said, o poeta compõe uma importante tríade ao lado de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e Manuel Bandeira (1886-1968). “Eles são alguns dos principais nomes que traduziram em versos a história e a cultura brasileira, e Drummond continua sendo muito estudado e ainda exerce muita influência sobre os poetas contemporâneos”, observa Said, que cita Ana Cristina César, Waly Salomão e Armando Freitas Filho como exemplos de poetas que dialogaram com a obra de Drummond. “Você encontra nos poemas dos três várias referências, elogios e imagens que apontam isso”, diz.

O escritor e jornalista Fabrício Marques também ressalta a vitalidade de Drummond. “Ele é um anticorpo presente na circulação sanguínea da literatura e da vida brasileiras. Um anticorpo que, ao lado de Garrincha, Pixinguinha, Clarice Lispector e Guimarães Rosa, entre outros, constitui a nossa referência identitária. Não podemos querer pouco depois deles”, pontua ele.

A poeta Ana Elisa Ribeiro, por sua vez, destaca as contribuições de Drummond em relação à linguagem. “Gosto da aparente facilidade que ele tinha de fazer poesia com uma língua muito cotidiana e até muito oral. Há um poema dele em que ele diz que ‘o português são dois’, e ele parecia preferir o mais ágil, o mais próximo. Não acho que seja tudo simples nem simplista, mas acho um luxo escrever com tanta intimidade quanto ele escrevia”, declara.

A também poeta Thais Guimarães sublinha os olhares para a existência humana lançados por Drummond. “Desde as pequenezas da vida cotidiana e ordinária aos mais complexos conflitos; do amor ao ódio. São raros os poetas com tamanha vocação, como a revelada por Drummond em toda a sua obra, para captar e traduzir o seu tempo – o homem do seu tempo, a sociedade do seu tempo –, expressando a voz individual, projetada para o coletivo, além de uma firme preocupação com o mundo – com as desigualdades sociais, com as injustiças”, conclui.
O Tempo

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