domingo, 30 de julho de 2017

Mais da metade dos brasileiros está insatisfeita com a carreira

A insatisfação com a atual carreira motiva a busca de um novo rumo profissional, por meio de outra formação ou do empreendedorismo. Levantamento encomendado pela Giacometti Comunicação, em 2016, mostra que 52% dos brasileiros na faixa dos 30 anos não estão felizes com a carreira. A especialista em gestão estratégica de pessoas Cláudia Santos confirma a alta insatisfação.
E lembra que, segundo pesquisa da International Stress Management Association, realizada no Brasil em 2015, 72% das pessoas não estão felizes com o trabalho. Christyano Malta, que é advogado e hoje atua como coach, percebe no dia a dia a infelicidade em ascensão. “Das pessoas que me procuram, de 70% a 80% não sabem exatamente o que querem. Muita gente está insatisfeita”, diz.

Essa desilusão vem de vários formas, além da crise no mercado de trabalho. As pessoas também querem mudar de profissão na busca da realização de um sonho ou por mais qualidade de vida. Malta ressalta que várias pessoas fazem as escolhas profissionais sem pensar muito, ou optam pela profissão por outros motivos que não incluem a vocação. “Cerca de 70% daquelas que fazem direito, por exemplo, escolhem o curso para passar num concurso e ter estabilidade, segurança. Assim, acabam trabalhando pensando no fim de semana”, afirma.

A pesquisa da Giacometti confirma que 86% das pessoas na faixa dos 30 anos querem estabilidade, enquanto 83% sonham em passar em um concurso público.
Malta, que hoje ajuda as pessoas no direcionamento de carreira, foi um dos jovens que buscaram novos rumos. O pontapé para a troca de área foi a síndrome do esgotamento profissional, também conhecida como “burnout”. “Eu era o primeiro a chegar ao escritório e o último a sair, mas minha produtividade caiu. Coisas que eu demorava de três a quatro horas para fazer passaram a ser feitas em três ou quatro dias. Além disso, eu estava impaciente e intolerante”, conta.
Para tentar resolver o problema, ele procurou psicólogos e psiquiatras, e o diagnóstico foi depressão. “Só que eu pesquisei e vi que não era quadro de depressão”, frisa. Ele foi para os Estados Unidos tratar-se e acabou descobrindo o coaching, aos 36 anos. Hoje, aos 42, Malta orgulha-se de ter energia até tarde da noite. “Faço o que gosto, aprendo todos os dias”, diz.
A crise e a insatisfação fazem profissionais procurarem reinventar-se. Eles até voltam para os bancos escolares, mesmo já tendo uma graduação. Ao mesmo tempo, muitos decidem abrir um negócio numa área totalmente diferente daquela em que se graduaram. Na Faminas-BH, por exemplo, 30% dos alunos já têm formação superior, conforme o pró-reitor da Faminas, Everton Reis. Já no curso Positivo, com unidades no Sul do país, 2% dos matriculados no pré-vestibular têm 30 anos ou mais.
Para Reis, a busca de oportunidades numa nova área é um dos motivos que levam uma pessoa a voltar a estudar. “Há também aqueles que já criaram os filhos e querem se dedicar ao que gostam, fazer um curso por hobby”, acrescenta. Entre os mais procurados por quem já tem uma graduação estão direito, filosofia, psicologia e gastronomia, diz ele.
Frustração pode causar doenças
As frustrações profissionais podem causar doenças, entre elas a síndrome do esgotamento profissional, alerta a especialista em gestão estratégica de pessoas Cláudia Santos. “As empresas precisam se conscientizar de que pessoas felizes produzem mais e melhor”, observa. Conforme pesquisa da International Stress Management Association (Isma), realizada entre 2013 e 2014, cerca de 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem do mal.
Cláudia explica que não é só a falta de emprego que leva à busca de outras opções. “A insatisfação pode motivar também o empreendedorismo”, frisa. Prova disso é que ter um negócio próprio está nos planos da geração de 30 anos, segundo pesquisa encomendada pela Giacometti Comunicação. A intenção de empreender foi citada por 67% dos mil entrevistados nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre.
Autoconhecimento evita escolha errada
A falta de autoconhecimento também leva a escolhas profissionais equivocadas, fazendo com que uma pessoa faça diversas graduações ou não termine o curso que começou, segundo a diretora da TAO Coaching e Treinamentos, Raquel Couto. “Eu fui exemplo disso”, diz.
Antes de virar coach, ela passou por dois cursos de graduação – administração e direito. “A intenção ao fazer administração era trabalhar com meu pai. Antes disso, trabalhei em várias empresas. Só que depois, devido ao meu senso de justiça, quis fazer direito para ajudar as pessoas. Porém, no meio do curso, decepcionei-me ao ver uma injustiça quando era estagiária”, conta a coach.
Raquel Couto concluiu o curso de direito, passou na prova da OAB, mas não exerceu a profissão. Em 2010, começou a mudança de carreira. “Fiz os treinamentos. E em 2013, depois de quase morrer no hospital, comecei a refletir sobre a minha vida e decidi colocar em prática o que eu queria fazer”, afirma.
O Tempo

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