segunda-feira, 17 de julho de 2017

'Escolher Temer como vice foi a maior pedalada de Dilma'

O TEMPO

ENTREVISTA



Senador, que lança livro nesta terça (18) em Belo Horizonte, defende a saída de Temer, mas não acredita que isso acontecerá. Apesar das críticas ao presidente, Cristovam defende medidas adotadas pelo governo, como a PEC do Teto e a reforma trabalhista.


PUBLICADO EM 17/07/17 - 03









Senador, estamos com um presidente da República denunciado por corrupção e que tem manobrado para manter-se no poder. Como o senhor avalia esse cenário pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)?Olhando esse cenário, o ideal era retirar esse governo. O impeachment de Dilma Rousseff foi incompleto porque ficou o vice. Vice mal-escolhido por ela. Agora, eu não vejo que o Congresso tenha força, hoje, para derrubar o presidente Michel Temer (PMDB). A pior pedalada cometida por Dilma foi escolher Michel Temer como vice. Esse foi o seu maior erro.

Mas o senhor votou favoravelmente ao impeachment e sabia naquele momento que quem assumiria o governo seria Michel Temer. Não fui eu que coloquei o Michel Temer no poder, mas sim os que votaram na chapa da ex-presidente Dilma. No momento do impeachment, cumprimos a Constituição, precisávamos mostrar para o futuro que não se pode aceitar presidente que comete pedalada fiscal. Dilma cometeu um crime. Lamento que o vice dela fosse o Temer, mas não fomos nós que o escolhemos. E nós já tivemos uma experiência com impeachment, o do Fernando Collor. Hoje, ninguém se arrepende. Por incrível que pareça, o Collor escolheu muito melhor seu vice (Itamar Franco) do que Dilma.

Ao longo de sua carreira política, o senhor sempre foi identificado ideologicamente com a esquerda. Hoje, o senhor continua a ser um político de esquerda? Eu continuo e me considero de esquerda. A esquerda não pode compactuar com corrupção. Esse pessoal que compactua com corrupção não pode ser considerado de esquerda. A esquerda não pode ignorar as mudanças que houve no mundo. Esse pessoal que defende o antigo e se diz de esquerda eu chamo de “ex-querda”. A esquerda tem sempre que defender ideias novas, o progresso, e nunca defender que tudo fique como está. Essa “ex-querda” ficou reacionária. São essas pessoas que foram contra as privatizações das empresas de telefonia. Se eles tivessem conseguido derrubar a privatização, hoje não tinha celular no Brasil. Um ponto que a esquerda precisa compreender é que não é possível defender o Estado, mas o público. E o que eu vejo é que essa “ex-querda” é capaz de ficar contra o público para defender o Estado. Toda vez que as pessoas ficam contra o progresso na mudança das leis, elas deixam de ser esquerda. Não perceber que houve globalização e não perceber que se não houver uma atualização nossas exportações caem é um erro dos que se dizem de esquerda.

O senhor fala da reforma trabalhista, projeto que votou a favor? Sim. Como ficamos com uma legislação trabalhista que tem 74 anos? Se você pegar o discurso de quem era contra as privatizações dos serviços de telefonia há mais de 20 anos, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), você vai ver que o discurso é muito parecido com o de quem votou contra a reforma trabalhista. E hoje ninguém questiona que a privatização estava correta. O mundo mudou, e o trabalho mudou. Antes tínhamos trabalhadores que sequer tinham o ensino médio completo. Hoje, o número de trabalhadores com curso superior é muito maior do que era. Houve uma mudança do perfil do trabalhador, e essa legislação tem que ser atualizada. Por exemplo, temos pessoas que trabalham, estudam e precisam sair mais cedo do trabalho. A reforma permite que ela faça um intervalo menor na hora do almoço para que possa sair meia hora antes. Tem que respeitar a capacidade do trabalhador de decidir o que é melhora para ele. Durante a abolição, um dos argumentos dos escravagistas era de que o negro, uma vez liberto, não iria conseguir se alimentar e se manter. Que não iriam sobreviver à liberdade. Agora, eles dizem que os trabalhadores não têm condições de negociar o que é melhor para eles, organizar-se para conseguir suas reivindicações. Eu acredito que os trabalhadores têm condições para decidirem e buscarem o que querem.

A desigualdade é o principal tema do livro “Mediterrâneos Invisíveis” que o senhor está lançando. Como combater esse problema no Brasil? Só há uma solução, e vou falar sem demagogia: colocar todas as crianças do Brasil em escolas de qualidade. Não há como tirar todos do lado da pobreza para o lado da riqueza com transferência de renda. Até porque a renda per capita brasileira manteria todos na pobreza. É preciso haver a federalização da educação básica. Se há desigualdade entre as pessoas, há desigualdade ainda maior quando comparamos municípios com realidades completamente diferentes.

Mas como convencer os governos a investirem em educação, ainda mais em um momento em que há uma busca pelo equilíbrio fiscal com a aprovação da PEC do Teto dos Gastos? Nós vamos trocar todos os deputados nas eleições do ano que vem. Vamos trocar dois terços do Senado, todos os governadores e o presidente. A mágica se chama voto. É preciso votar em quem vai defender o investimento em educação. Eu nunca apoiaria um ditador que investisse em educação. Garantir recursos para educação depende do convencimento dos governos, e a melhor forma de convencer o governo disso é pelo voto em quem vai defender os investimentos para a área.
Mas e a PEC do Teto? Sobre o teto, elo não impede que se destine mais dinheiro para a educação. Isso é óbvio. O que ele diz é que, para investir em educação, é preciso retirar de outras fontes. Com a PEC do Teto, o político não vai poder prometer que vai construir estádios e escolas porque ele terá que ter prioridade para não gastar mais do que tem. Isso é aritmética. Eu mesmo apresentei agora uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que permitiria aumentar em 15% o Orçamento da educação já no ano que vem. Mas os parlamentares que dizem que defendem a educação não se mobilizaram, a população não se mobilizou, e a emenda foi derrotada. Eles não gostam de lutar.

E de onde sairiam os recursos para garantir esse aumento de investimentos na educação? Para investir de um lado, é preciso tirar de outro. Hoje (na última sexta), eu me encontrei com o ministro da Educação, Mendonça Filho, e apresentei para ele as dez emendas que apresentei à LDO, e vamos estudar quais poderão ter o apoio do governo na hora da votação da Lei Orçamentária, neste segundo semestre. Entre as medidas propostas está a que determina o repasse mínimo ao Fundo Partidário, o que geraria uma economia de R$ 600 milhões que seriam revertidos para a educação. Outra medida é retirar 1% do Orçamento dos demais ministérios e reverter para a educação. Também apresentei a proposta de obrigar que 25% das emendas parlamentares e 50% das emendas de bancadas sejam destinadas a investimentos em escolas. Há ainda a emenda que prevê a reversão dos recursos de novas edificações públicas dos poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público para a educação.

O senhor tem o desejo de concorrer novamente à Presidência? Eu tenho uma disposição de concorrer. Mas, hoje, não vejo a possibilidade de ganhar. Há um apego ao passado, e ao que tudo indica teremos um segundo turno entre Lula (PT) e Bolsonaro (PSC). Um populista e um autoritário. Seja quem ganhar, eu não vejo um bom futuro.

Como viu a condenação do Lula? Eu não me meto a dar opinião sobre julgamento. Se é culpado, se a pena foi boa. Como brasileiro, como pernambucano, eu lamento que o Lula tenha terminado nessa situação. Era melhor para o Brasil se ele pudesse ter se afastado disso tudo e se mantido como um grande estadista. Não foi possível. (Bernardo Miranda)
O Tempo

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