Na manhã do dia 19 de julho do ano passado, o estudante Arthur Martiniano, 21, saiu para fazer uma das coisas que mais gosta: pedalar com os amigos na orla da lagoa da Pampulha, na capital. Mas um carro invadiu a contramão e atingiu o ciclista, que teve a clavícula quebrada e ficou três meses sem subir em uma bike. A colisão de Martiniano não foi um fato isolado. Estudo feito pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e divulgado recentemente mostra a avenida Otacílio Negrão de Lima como palco da maior quantidade de acidentes do tipo na cidade.
De 2010 a 2014, período analisado, foram registradas 55 ocorrências na orla, de um total de 2.141. Contudo, os frequentadores da Pampulha acreditam que a quantidade seja ainda maior, já que, em muitos casos, as vítimas não registram o acidente. “A segurança quem faz é a gente. Mas tem muito motorista irresponsável. Uma vez, um jogou o carro em cima da gente de propósito. Não sei o porquê da ignorância. A maioria dos acidentes acontece dessa forma, por pura picuinha dos motoristas que não gostam dos ciclistas”, disse o professor de spinning Robert Leal, 52, outro frequentador da orla que já ficou ferido em um acidente na região.
Conforme a BHTrans, todos os 18 km da orla têm ciclovia, e o local é o que reúne o maior número de ciclistas profissionais e de lazer na capital. Como os atletas de alta velocidade não usam as ciclovias, a empresa gestora do trânsito na capital instalou, em alguns pontos, dez placas alertando os motoristas para o treinamento desses profissionais.
Análise. Boa parte dos ciclistas entrevistados aponta o modelo da ciclovia, separada do trânsito por blocos de concreto em alguns pontos e com mão e contramão, como a principal culpada pelos acidentes. “Desde o início , alertamos a BHTrans que isso seria um suicídio. Fomos a várias audiências públicas, mas nada foi feito. A mão e a contramão são estreitas, e os blocos de concreto, um perigo”, disse o ciclista Rogério Pacheco. A empresa informou que já encaminhou à Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) uma proposta de reestruturação.
O presidente da Liga Mineira de Ciclismo, Demerson Pullis, 56, tem uma alternativa para o problema: “Sou totalmente contra a implantação de ciclovias. O que deveria acontecer é uma disciplina de educação no trânsito nas escolas”, disse.
Ranking
Lista. Depois da avenida Otacílio Negrão de Lima, as vias com mais acidentes, segundo a BHTrans, são Cristiano Machado, Tereza Cristina, Vilarinho, dos Andradas e Antônio Carlos.
CONVÍVIO
Alta na visitação exige respeito e atenção
Diante do número cada vez maior de frequentadores, principalmente depois de o Conjunto Moderno da Pampulha ganhar o título de Patrimônio Cultural da Humanidade no ano passado, bicicletas, patins, corredores, pedestres, turistas e carros dividem os mesmos espaços.
A gerente comercial Alexandra Alves, 36, que patina há dois anos e meio na Pampulha, contou que a convivência com os ciclistas atualmente é tranquila. “Quando começamos a patinar tivemos muitos problemas aqui. Mas, hoje em dia, isso acabou. Somos bem organizados, andamos um atrás do outro e tentamos ocupar pouco espaço para não atrapalhar ninguém”, disse.
A comerciante Christiane Ramos, 41, pedala pela região da lagoa com frequência e acredita que há espaço para todo mundo, desde que as pessoas saibam respeitar os direitos dos outros. “A ciclovia é apertada e ainda tem gente que anda na contramão, além de motoristas que estacionam nela”, afirmou. (GC)
FLASH
Perfil. Quarta-feira foi o dia que mais concentrou ocorrências na Otacílio Negrão de Lima. A maioria delas envolveu bikes e carros – dos 55 registros, 36 foram com veículos.
O Tempo
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