O Tempo
LANÇAMENTO
PUBLICADO EM 21/01/17 - 03h00
Imbolo Mbue escreveu romance que é, ao mesmo tempo, norte-americano e africano
SÃO PAULO. O primeiro livro de Imbolo Mbue, 36, chega no momento oportuno e fazendo barulho: em 2014, ele foi comprado por uma soma de sete dígitos em Frankfurt, e no ano seguinte seus direitos foram vendidos para o cinema com o mesmo bafafá. “Aqui Estão Os Sonhadores”, que chega ao Brasil em edição da Globo Livros (424 págs., R$ 49,90), conta a história de duas famílias durante a explosão da bolha financeira de 2008 em Wall Street: uma de camaroneses tentando se estabelecer em Nova York (cidade em que a escritora vive há 18 anos) e outra de norte-americanos brancos e ricos, lidando com as consequências da crise.
O grande triunfo do romance é humanizar essas relações e colocá-las no mesmo pedestal, o que o faz, segundo a própria autora, um livro mais sobre famílias do que propriamente sobre imigração.
Para Mbue, o senso de otimismo do livro, apesar da situação econômica, tem a ver com os personagens. “Essa atitude faz parte da nossa cultura. As pessoas (de partes da África) encontram jeitos de serem alegres e felizes com coisas que não estão indo tão bem. Esse sentido de tentar se manter e ainda não ficar todo deprimido. Quer dizer, nós realmente sofremos, mas os camaroneses têm uma atitude mais positiva”, explica.
Ela ainda conta que não é uma grande fã do “sonho americano”, graças à desigualdade que vê no país. “Enquanto a América foi um grande país para mim em vários sentidos, eu ainda vivi muitas dessas desvantagens. Eu sei que pessoas virão para cá com o ‘american dream’ na cabeça, mas e se ganharem US$ 2 por hora? Como alguém vai comprar uma casa com isso?”, questiona.
Imigração. Com a temática da imigração, a obra se torna ainda mais relevante nos EUA com a posse do presidente Donald Trump. “Há 11 milhões sem documentos legais, e muitos são trabalhadores com grande chance de contribuir para o país e viver nele. Há essa retórica de que ‘estão roubando nossos empregos’, eu não entendo isso. Fico preocupada com pessoas sendo transformadas em vilãs, e toda essa negatividade. Quando eu vim, a América era um lugar mais acolhedor. Fiquei desapontada com a eleição. Mas quero ser otimista. Há alguma fé por aqui. Vou manter meus olhos abertos. Nós não vamos só sentar e esperar, vamos nos engajar, estamos todos querendo que o país se mova na direção certa”, torce.
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