FORTALEZA. A arte fotográfica tem mais um ambiente museológico, no Brasil, dedicado exclusivamente a ela, a partir da inauguração do Museu da Fotografia, que aconteceu na última sexta-feira (10) em Fortaleza (CE). Até o presente, apenas o Museu da Fotografia de Curitiba, no Paraná, tinha uma proposta semelhante. Idealizado pelo empresário e colecionador Silvio Frota, o equipamento é fruto da reforma de uma antiga sede do Instituto Brasil-Estados Unidos no Ceará e possui 2,5 mil m². O local funcionará de quarta-feira a sábado e a entrada custará R$ 10 (à exceção das quartas, que terá acesso gratuito).
Essa área abrange três andares que contemplam mais de 400 obras, selecionadas de um conjunto de cerca de 2.000 peças. Contribuições de grande importância para a trajetória da fotografia no mundo e no país estão ali representadas por meio de trabalhos assinados por nomes como Marc Ferrez, Henri Cartier-Bresson, Man Ray, Thomaz Farkas, Germa Lorca, Sebastião Salgado, Margareth Bourke-White e Cindy Sherman, entre vários outros, traçando um percurso do século XIX aos dias atuais.
Nesse espaço encontra-se também um auditório no segundo andar, planejado para atender a vários usos, além de um café, uma livraria e uma biblioteca que estão situados no térreo. Frota conta que esse projeto começou a ser pensado quando sua coleção de fotografias – iniciada há nove anos com a aquisição, nos Estados Unidos, do icônico retrato de uma garota afegã produzido pelo fotojornalista Steve McCurry – ganhou robustez e ele percebeu nisso um potencial atrativo para o público.
“Não era justo termos uma coleção dessa e não darmos o acesso a quem não tem chance de poder ver essas obras. Uma das coisas que motivou a montagem do museu foi o fato de que a gente achava um absurdo existirem grandes coleções que permanecem guardadas dentro das casas e quase ninguém pode conhecê-las”, afirma ele, que iniciou a compra de obras de arte na década 80.
Frota não divulga o valor do investimento e diz que todo o financiamento para a reconstrução do edifício e a montagem da mostra saiu do próprio bolso. “Infelizmente, não tive ajuda de ninguém, mas espero que, principalmente, na outra fase, a de manutenção, que é a principal, após erguer o museu, algumas parcerias sejam possíveis. Mas quando elaboramos o projeto não procuramos ninguém porque a paixão era nossa e a obrigação também. Temos que dar nossa parcela junto a sociedade, permitindo que as pessoas tenham acesso a esse acervo”, afirma ele.
Eixos. O conteúdo expositivo está dividido em quatro eixos principais: “Um Imaginário de Cidades”, “Sobre Crianças”, “Jogos de Olhares: aspectos da fotografia moderna e contemporânea” e “O Norte e o Nordeste”. O primeiro aproxima criações de diversas épocas que têm o espaço urbano como uma de suas principais temáticas. “Nós identificamos que, na coleção, há muitas imagens sobre as cidades por meio de olhares para a arquitetura, cenas cotidianas ou manifestações, como a Passeata dos Cem Mil, durante a ditadura militar no Brasil, período também abordado em séries inteiras de fotorreportagens”, sublinha o curador Ivo Mesquita, que reforça a maneira como este segmento da exposição visa relacionar o surgimento da fotografia e as modificações urbanas desencadeadas no século XIX.
“As transformações que aconteceram na capital francesa, por exemplo, foram registradas pelos fotógrafos que vão propagar a imagem de Paris no mundo e isso vai fazer, inclusive, que a imagem dela seja muito copiada ao redor do planeta e compreendida como símbolo de modernidade. Da mesma forma que Brasília se tornou para nós um grande signo da arquitetura moderna”, pontua.
O segundo momento, por sua vez, abarca imagens que trazem à tona o universo infantil. De acordo com Mesquita, essa foi uma estratégia para facilitar o desenvolvimento de atividades pedagógicas. “As crianças poderão se identificar com aquelas apresentadas em cada uma dessas imagens. Essa é uma maneira de elas terem um primeiro contato com a linguagem fotográfica”, relata.
Em “Jogos de Olhares”, de acordo com Mesquita, são priorizados alguns destaques da coleção Paula e Silvio Frota. Os trabalhos são bastante diversos e há uma atenção para aqueles que dialogam com as artes plásticas, a exemplo das obras da mineira Rosângela Rennó e dos cariocas Adriana Varejão e Daniel Senise. “Há algumas propostas mais conceituais, como a de Rennó, e outras que são fundamentais para a história da fotografia, em diferentes aspectos, dialogando com o universo das artes plásticas e da moda”, completa.
Por fim, “O Norte e o Nordeste” celebra a produção de artistas dessas regiões brasileiras e acolhe trabalhos que tratam de questões possíveis de serem relacionadas a elas. Legados como o do cearense Chico Albuquerque, que trabalhou junto com Orson Welles quando o diretor esteve no Brasil em 1942, do piauiense José Medeiros e do francês Pierre Verger se situam nesse recorte.
O jornalista viajou a convite do museu.
O Tempo
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