domingo, 9 de julho de 2017

Lugar merecido, mas negado


É inegável a importância da Academia Brasileira de Letras para a língua portuguesa e a literatura nacional. Suas 40 cadeiras já foram ocupadas por importantes nomes do universo literário, como Machado de Assis, Guimarães Rosa e Manuel Bandeira. No entanto, escritores que produziram obras de grande relevância nunca ocuparam um dos lugares da ABL. A constatação inspirou a criação de “Cadeira 41”, ciclo de palestras realizado pela ABL no Rio de Janeiro, em que estudiosos cometam a obra de autores que poderiam ter integrado a instituição. São eles: Júlia Lopes de Almeida, Lima Barreto, Lúcio Cardoso e Clarice Lispector.

Nome menos conhecido do grupo, Júlia Lopes de Almeida foi uma escritora de grande destaque em sua época, devido ao vanguardismo feminista. Escritor e estudioso das obras da autora, Luiz Ruffato credita ao machismo a não participação de Júlia na ABL. “O livro ‘A Falência’ é uma das mais importantes obras do século XX. Nessa época, com exceção de Aluísio de Azevedo e Lima Barreto, todos os autores são absolutamente inferiores”, diz Ruffato.

Lima Barreto chegou a se candidatar três vezes para integrar a ABL. Segundo Felipe Correa, que estuda e escreve sobre o autor, o perfil dele não era parecido com o dos então membros da academia. “Apesar de ter sido funcionário público do governo federal até 1918, Lima Barreto não se encaixava nessa postura oficial, tanto por sua verve satírica, que atirava farpas contra a elite, quanto por sua vida boêmia e desregrada”, diz.

Lúcio Cardoso chegou a ganhar o Prêmio Machado de Assis da ABL em 1966, mas a estudiosa Valéria Lamego afirma que o escritor não deixou registros de que gostaria de participar da instituição. “Não consigo imaginar o boêmio Lúcio na ABL”, fala, completando que “o simples fato de ele não ter essa intenção e de divulgar isso nos jornais tornou-o um não-candidato”.

Cardoso era amigo de Clarice Lispector, que também não ocupou uma das cadeiras. “Ela é uma das melhores escritoras brasileiras, se considerarmos aí não só as mulheres escritoras, mas também os homens escritores. Isso já é motivo suficiente para justificar sua presença na academia”, defende a estudiosa Nádia Gotlib.
O Tempo

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