A redução do lixo marinho é alvo da campanha Mares Limpos, lançada nessa terça-feira (6) pela Organização das Nações Unidas (ONU), no Rio de Janeiro. O objetivo é convencer pessoas e empresas a reduzirem o consumo de plásticos e evitar seu descarte.
A representante da ONU Meio Ambiente no Brasil, Denise Hamú, disse que a campanha terá duração de cinco anos e espera contar com parcerias governamentais e não governamentais brasileiras. "A gente sabe o tamanho do Brasil, país número um em biodiversidade e com uma costa enorme", ressaltou.
Substituir e reduzir
Um ponto importante da campanha é obter a colaboração de empresas para substituir ou reduzir o uso de plásticos em seus produtos. "Não adianta a gente trabalhar só na consequência. Tem que trabalhar na causa. É claro que não são as empresas que jogam o lixo (nos mares), são os usuários, mas a gente precisa ter uma parceria em todo o ciclo da produção. Se a gente só limpar as praias, amanhã teremos elas sujas de novo", disse Denise Hamú.
As conversas da ONU com as empresas para que elas substituam o plástico por produtos biodegradáveis já começaram, e está em curso um trabalho para mapear quais setores podem contribuir mais para a campanha. "A gente percebe que o setor de cosméticos é interessante e dá para trabalhar muito", disse a representante da ONU Meio Ambiente.
Dentro da estratégia de promover um maior esclarecimento e conscientização das empresas para o assunto, a campanha pretende realizar seminários regionais para mapear hábitos locais que podem ser mudados, reduzindo o descarte de lixo pela população.
Mostra da fauna
O próprio local escolhido para o lançamento da Mares Limpos, o AquaRio, maior aquário marinho da América do Sul, por si só já foi bastante significativo, por trazer uma mostra da biodiversidade marinha brasileira. Inaugurado em 2016, no Porto Maravilha, como parte do projeto de revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro, o equipamento já recebeu cerca de 800 mil visitantes.
O diretor-presidente do AquaRio, Marcelo Szpilman, destacou na abertura do evento que todos podem contribuir para a redução do lixo marinho. "O descarte incorreto de lixo nas praias e rios é uma forma infantil de lidar com a situação. Você esconde o lixo e acha que sumiu do planeta", alertou Szpilman, que é biólogo marinho.
Lixo viajante
O lixo despejado nas praias e rios viaja com as correntes marinhas, e suas consequências chegam a lugares distantes e inabitados, como o Atol das Rocas, localizado no meio do oceano, a 270 quilômetros de Natal (RN), e que já tem sua fauna afetada pela poluição. A pesquisadora e ambientalista Maurizélia de Brito percorre regularmente as praias do local, recolhendo lixo como lâmpadas, sacolas pásticas, copos e garrafas.
"Mesmo sem ter população, o lixo é um problema que só não se agrava no Atol das Rocas porque a gente não permite. Chega muito lixo de Fernando de Noronha, inclusive copinhos plásticos das operadoras de mergulho", conta Maurizélia, que diz que retira os resíduos até mesmo dos ninhos de aves.
Além de trazer prejuízos à fauna marinha, que termina até mesmo ingerindo plásticos, o lixo também transporta espécies exóticas pelo oceano, fazendo com que invadam outros habitats e desequilibrem o ecossistema. "Vamos começar uma ação de fotografar e mandar para as empresas fotos das embalagens descartadas dos seus produtos no Atol das Rocas", diz a pesquisadora.
O Tempo
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