União Nacional dos Estudantes (UNE) chega aos seus 80 anos de fundação com motivos para comemorar, mas também com o reconhecimento amargo de que ainda precisa se mobilizar por lutas semelhantes às enfrentadas há quase 30 anos. “Mais uma vez a gente volta a defender a bandeira das diretas. Parece que estamos voltando, infelizmente, ao passado, ao ter que discutir coisas tão elementares”, analisa Carina Vitral, presidente da instituição.
Carina e outros 10 mil estudantes de todo o país estarão em Belo Horizonte a partir desta quarta-feira (14) para participar da 55ª edição do Congresso da UNE. O evento abre as comemorações pelos 80 anos da entidade, e terá como ponto alto o manifesto “Minas pelas Diretas”. Marcado para sexta-feira, a partir das 16h, o ato deve mobilizar milhares de pessoas em uma passeata pelas ruas do centro, seguida de shows na praça da Estação.
O atual momento político e os novos rumos do movimento estudantil no Brasil serão discutidos durante todo o feriado, em debates que contarão com a presença de mais de cem convidados do mundo político, artistas e representantes de movimentos sociais.
Nesta quarta (14), na abertura oficial do Congresso, o Cine Belas Artes receberá o documentário Praia do Flamengo 132, que relata os 80 anos da UNE a partir da história de sua sede do Rio de Janeiro, atacada e demolida durante a Ditadura Militar. De autoria do cineasta Vandré Fernandes, o filme será exibido a partir das 19 horas, com entrada gratuita.
Em conversa com a reportagem de O TEMPO, Carina Vitral falou sobre a dificuldade de sua geração de aceitar os “retrocessos” do atual governo e da necessidade de carregar bandeiras que já pareciam superadas: “O período atual tem uma marca muito forte de um ‘déjà vu’ com o que aconteceu na época da ditadura, seja resquícios do golpe, seja características de repressão dos movimentos sociais, com estudantes perseguidos”. Confira:
Qual o papel e quais as contribuições da UNE para o país ao longo desses 80 anos?
Contar os 80 anos da história da UNE é contar a história do Brasil nesse tempo, porque os marcos da história da UNE também são marcos da história do Brasil. A UNE é fundada em 1937, naquela época da luta anti-fascismo e contra a guerra. A primeira fundadora da UNE era uma miss estudante, que acabou fazendo um papel de representação dos estudantes contra a guerra e foi assim fundada a UNE, nessa luta pela paz. Depois disso veio "O petróleo é nosso", a campanha pela soberania e tudo mais, e logo depois a luta pelas reformas de base. A UNE foi muito protagonista dessas reformas, é aí que surge no Brasil a luta pela reforma universitária. E vem o golpe de 1964 e a luta contra a ditadura posteriormente. O primeiro ato da ditadura militar foi incendiar a sede da UNE, que ficava na praia do Flamengo, número 132. Essa sede que mais tarde a gente consegue retomar, e hoje está reconstruindo. Então a gente tem toda essa resistência à ditadura, muitos dos estudantes da diretoria da UNE vão para o exílio, outros vão para a guerrilha armada, muitos mortos, desparecidos, perseguidos, torturados. Tiveram tentativas nesse período de reconstruir a UNE várias vezes, uma delas é no ENE (Encontro Nacional de Estudantes), que tentou se realizar aqui em Minas Gerais, faz 40 anos desse episódio. E em 1979 na Bahia a gente consegue reconstruir a UNE. Esse Congresso é dirigido pelo José Serra, que foi nosso último presidente eleito da UNE, ele era o presidente de 64, na época do golpe.
Depois disso vem a redemocratização. Em todo esse período a UNE ficou clandestina, tentou se reorganizar em vários Encontros Nacionais de Estudantes, mas não dava certo, toda vez que a UNE se reunia era todo mundo preso. Teve em Ibiúna (SP), teve aqui em Minas Gerais, teve várias tentativas e sempre a repressão vinha. Em 79 se reconstrói a UNE e aí a gente pega toda a luta pelas eleições diretas, o colégio eleitoral, o apoio a Tancredo. Depois que a primeira eleição direta acontece e elege o Collor, a gente derruba o Collor através de um impeachment, então em todo o processo político no Brasil a UNE sempre esteve muito implicada. Depois vem Itamar, que concede o terreno da Praia do Flamengo pra UNE de volta, depois vem FHC e a luta pelas privatizações, o governo Lula e o governo Dilma também, com muita luta para mudar a educação. Aí existe uma mudança de oportunidade, porque a gente passa também a formular políticas públicas. A UNE teve um papel relevante na formulação do ProUni, do Fies, na expansão das federais, das cotas, do ENEM, ou seja, em todo tipo de política pública a UNE tinha a digital da sua luta. E agora, no momento de crise, tanto na crise do impeachment, golpe no país, quanto agora no Fora Temer, a UNE volta a ser protagonista. Essa é um pouco da história de 80 anos da UNE. Mas tenho certeza que (é possível fazer) uma comparação da UNE do passado e a UNE do presente; primeiro porque o período atual tem uma marca muito forte de um 'déjà vu' com o que aconteceu na época da ditadura, seja resquícios do golpe, seja características de repressão dos movimentos sociais, com estudantes perseguidos. A UNE na época do Serra viveu uma CPI, e na minha gestão a gente também teve a tentativa de criminalizar a UNE através de uma CPI. Muito paralelo se pode fazer nessa época e mais uma vez agora a gente volta a defender a bandeira das diretas. Parece que a gente está voltando infelizmente ao passado, ao ter que discutir coisas tão elementares.
O que representa para vocês estar vivendo de novo esses momentos? Dá a sensação de estar andando para trás?
Para a minha geração é muito difícil aceitar isso, porque a gente é uma geração acostumada a só andar para frente. A minha consciência política, inclusive, foi formada em um período onde a UNE lutava para fazer as coisas avançarem. As grandes conquistas da UNE eram aprovar projetos importantes, como o Plano Nacional de Educação, então a gente discutia futuro, a gente não olhava para o passado, olhava para o passado apenas para reverenciar nossa história. É um período muito difícil. Agora as nossas maiores vitórias são vitórias de resistência: aquele projeto de lei que não passou e não acabou com a educação pública. As vitórias são as nossas próprias lutas: fiz aquela passeata gigante, conseguimos ocupar 130 universidades em todo o Brasil; essas são as nossas vitórias, porque ganhar uma batalha está difícil.
Qual o papel da UNE hoje no Fora Temer e na crise política, considerando os novos pedidos por Diretas Já? Como vocês têm se engajado no atual momento político?
Na nossa opinião, Temer não tem mais condição política de continuar. Ele já não tinha legitimidade, porque na opinião da UNE o impeachment foi um golpe à democracia, não tinha crime de responsabilidade, foi um golpe forjado para colocar e manter os corruptos no poder. Pra gente tem uma coisa bem impressionante: a gente hoje percebe qual foi o motivo do golpe. Primeiro, aplicar um programa que não foi eleito nas urnas, um programa de retrocesso que o povo claramente rejeitou, e segundo, manter os corruptos no poder. Apesar da campanha do impeachment ser uma campanha anti-corrupção, na verdade era para manter todo mundo no poder, continuando com todos os absurdos que acontecem. Então, a máscara vai caindo e a bandeira do Fora Temer ainda é atual, porque a bandeira das diretas sozinha é uma bandeira que unifica o lado de lá contra as diretas e aí o Temer enquanto isso vai ficando. Então estas duas bandeiras combinadas são as bandeiras de luta da UNE: o Fora Temer e as eleições diretas.
Para defender essas bandeiras em BH, sexta-feira tem comício, certo?
A passeata tem concentração na praça Afonso Arinos, às 16h, e a gente caminha até a praça da Estação, onde vai ter um ato show, como teve no Rio, em São Paulo, na Bahia, Porto Alegre. A gente vai chegar em Minas nessa grande manifestação. Já tem vários artistas confirmados: Marina Machado, Chico Amaral, Renegado, Pedro Moraes, Dudu Nicácio, Titane, Juarez Moreira, Samuel Rosa, Luiz Gabriel, Vitor Santana, Aline Calixto, Érica Machado, Pereira da Viola, Sérgio Pererê, Fernanda Takai, Afonsinho e Manu Dias. São artistas confirmados até agora, mas ainda vai crescer essa lista. Será a partir das 19h na praça da Estação, com concentração às 16h, fazendo caminhada junto com os blocos de Carnaval.
Algumas pessoas fazem críticas com relação à atuação da UNE durante os governos petistas, de que não teria sido tão combativa, tão presente. Como você vê essa crítica? Isso procede? Foi uma luta diferente?
É uma nova forma de lutar. Toda a nossa luta de 60 anos se desaguou nos anos 2000 como uma oportunidade de a gente tirar do papel aquelas lutas. A UNE lutava há mais de 60 anos pelos 10% do PIB na educação, e foi nos anos 2000, no período dos governos Lula e Dilma, que a gente conseguiu efetivamente aprovar isso no Congresso Nacional. Da mesma forma que a democratização das universidades, a UNE sempre lutou pela universidade pública, e a gente conseguiu triplicar a universidade pública com intenso apoio da UNE. Essas mudanças não acontecem sem muita luta. Tinha gente dentro da universidade que era contra a expansão, inclusive dentro do movimento estudantil, e a UNE foi a entidade que liderou a luta pela expansão da universidade, pelas cotas, pela mudança da composição social da universidade. Então a gente fica muito orgulhoso da luta que a gente fez nos anos 2000.
O segundo governo Dilma foi alvo de muitas críticas, inclusive por parte de movimentos sociais e de esquerda. Como a UNE enxergou a condução do governo Dilma, especialmente no período final?
Nós achamos que o governo Dilma também cometeu equívocos que ajudaram a perder sua base social. Dilma fez uma campanha muito combativa, em que demarcou claramente a sua política econômica, pró-desenvolvimento, falou que não ia mexer em nenhum dos direitos, e essa foi a tônica que convenceu o povo que fez uma escolha consciente pela manutenção dos direitos. Quando Dilma começa a errar na política-econômica, quando começa a propor a reforma da Previdência, quando começa a mexer naquilo que ela disse que não ia mexer, ela começa também a perder a base social, e isso precisa ser dito, para que não volte a acontecer. A outra questão é a forma como se trata os aliados políticos, seja como isso refletiu no Congresso Nacional, porque isso resultou que Dilma não tivesse condição de derrotar o impeachment, mas também com relação aos movimentos sociais. É preciso dizer: Dilma ficou seu primeiro governo inteiro sem receber os movimentos sociais, e isso é muito ruim. A UNE não deixou de por causa disso defender a legitimidade do seu governo, porque defender o governo Dilma era defender a escolha do voto em urna, o que estava em jogo não era um governo qualquer, mas a democracia. E a gente viu que mesmo quem teve esperança de que tirando a Dilma as coisas iam melhorar está vendo que o Brasil só está afundando em uma crise.
Vocês enfrentam resistências e radicalismos na UNE? Teve aquele episódio da sua foto com o senador José Serra, que gerou uma avalanche de críticas...
Eu acho que isso é um sintoma do momento atual. O Brasil está polarizado e criou-se como se fosse uma torcida organizada à esquerda e à direita. E ambas estão erradas, porque recaem em um radicalismo, em uma estreiteza muito grande. E nesse radicalismo, parte das pessoas tem expectativa de que a UNE fosse uma entidade de direita, e parte tem a expectativa de que a UNE fosse de esquerda, e o fato é que a UNE precisa representar a todos os estudantes. Isso nunca impediu de a UNE tomar posição, porque a UNE tomou posição em conjunto com a base do movimento pela maioria do movimento, faz os seus congresso para isso, realiza os seus fóruns, mas a gente sempre também precisa não romper com o diálogo com figuras importantes. Então a minha foto com o Serra era uma coisa muito clara, a gente tinha ido gravar um depoimento dele para o filme, que inclusive vai ser estreado no Congresso da UNE, na quarta-feira, no Belas Artes, e era super claro, ele como ex-presidente, um dos presidentes mais importantes da nossa história, porque foi o presidente na época da ditadura militar, o presidente golpeado, que depois reconstruiu a UNE. Essa relação da UNE com o Serra é uma relação de respeito à sua história, de reconhecimento pela sua luta, não é uma coisa nova, da gestão da Carina, a gente tem um reconhecimento público sobre a história dele. É claro que ele passou para o outro lado, mas também nunca impediu a UNE de fazer críticas a ele. Mas nós vamos respeitar para sempre a história do Serra na UNE.
Ainda sobre a polarização, como vocês enxergam movimentos como MBL, Vem pra Rua, Patriotas?
Eu acho que eles não são movimentos, eu acho que são agências de marketing que foram criadas para tentar levar a juventude para a rua pelo impeachment. Se você for ver as passeatas pelo impeachment eram passeatas envelhecidas e elitizadas. O perfil das passeatas pelo impeachment era velhos e ricos. Se pegar fotos de junho de 2013 e as fotos das passeatas pelo impeachment são composições sociais completamente diferentes. E o fato é que eles não conseguiram que a juventude embarcasse na campanha do impeachment. Acho que esses movimentos são agências de marketing que trabalham nas redes sociais para convencer os estudantes daquelas pautas. Acho que eles são até eficientes, mas não conseguiram levar gente para a rua, pelo menos não os jovens. Continuam influenciando nas políticas, são bancados pelo governo Doria para pautar as suas políticas, pautados por outros governos porque, como agências de marketing, fazem campanhas.
E como você vê hoje esse ativismo de internet? Até que ponto é uma luta válida?
Acho que a internet é um grande instrumento de mobilização. E como bom instrumento, pode ser usado por pessoas boas e por pessoas ruins. A internet também tem potencializado as lutas da esquerda. Hoje tem grandes veículos de comunicação que potencializam as nossas lutas, que cobrem as nossas lutas. Antes a gente ficava, por exemplo, se martirizando porque fazia uma passeata gigante e não aparecia nos principais veículos de comunicação. Hoje isso não é relevante, porque uma Mídia Ninja, um Jornalistas Livres, às vezes tem mais alcance que outros veículos tradicionais. Então essa disputa é importante. Mas só as redes não bastam, não mudam o país. É preciso ir das redes para as ruas e das ruas para as redes.
Como você vê o engajamento político do movimento estudantil de hoje? É forte como no passado, é diferente?
Eu acho que, relativamente, a gente está vivendo um momento de ascenso das lutas juvenis. Junho de 2013 é um marco importante pras lutas da juventude. Hoje você vai em uma sala de aula e 100% das pessoas já foi para uma passeata. Antes era coisa só do movimento estudantil, só do DCE, só da UNE, mas hoje todo mundo já foi para uma passeata. Existe um ascenso grande e as ocupações estudantis são as maiores provas disso, seja os secundaristas, seja os universitários, porque foi muito massivo. 100% das universidades foram ocupadas no país, isso é muito forte, e eram ocupações gigantes, com assembleias gigantes, então isso é muito legal.
A gente está diante de um momento de oportunidade?
Com certeza, porque a UNE serve para mobilizar os estudantes. Se os estudantes já estão mobilizados, a gente tem um trabalho a menos, é só organizar as lutas e ir para a rua.
Qual história do filme "Praia do Flamengo 132", que será lançado nesta quarta-feira?
O filme tem direção do Vandré Fernandes, um diretor de São Paulo que já fez outros documentários. Chama Praia do Flamengo 132 porque é o endereço da sede da UNE que está sendo reconstruída no Rio. É um filme que conta os 80 anos da UNE, mas sob o recorte da sede da praia do Flamengo. Então, tudo que se passou lá, o que funcionava, desde a fundação, antes era um clube alemão, chamava Clube Germano, quando acaba a guerra os estudantes ocupam aquela sede e ali vira a sede da UNE. Depois disso, tudo que se passou naquela sede, todo o Centro Popular de Cultura da UNE, porque a sede era basicamente ocupada pela cultura. Ali foram revelados grandes nomes da política, passaram por ali grandes nomes, então tem várias curiosidades sobre o que aconteceu na sede. Depois tem uma parte que é o incêndio em si, então ali já nos momentos da ditadura, estudantes perseguidos e a falta que fez aquela sede, e depois a retomada da sede, todos os fatos históricos da retomada, que tem pelo menos três momentos: a devolução do terreno pelo Itamar, a ocupação do terreno na gestão do Gustavo Peta, depois disso a aprovação da indenização da UNE e agora a reconstrução da sede com esse recurso. Então a gente está prestes a inaugurar o prédio, o prédio está em construção, e esse vai ser um filme que conta essa história. Foram dois anos de produção e gravação e faremos um pré-lançamento no Congresso, para no segundo semestre ir para todas as bilheterias.
No Congresso você encerra o seu mandato. Que balanço você faz da sua gestão, quais foram as principais conquistas e desafios?
Foram dois anos muito intensos na história do país, e como sempre a UNE se destaca muito. Saio da UNE com a sensação de dever cumprido, porque a gente esteve do lado certo da história. Basicamente a minha gestão foi a gestão da luta contra o golpe, e nós nos orgulhamos dessa posição, mesmo tendo sido derrotados no Congresso Nacional. A gente se orgulha de não ter compactuado com o impeachment da Dilma, com esse golpe, que gerou retrocessos sem tamanho para a juventude brasileira e para os trabalhadores. As nossas vitórias como eu disse são vitórias da resistência, então a gente se orgulha de ter feito o maior levante de ocupações universitárias do país, a gente se orgulha de ter impedido de instalar a CPI da UNE, porque era uma CPI que visava criminalizar, perseguir estudantes no país todo, a gente se orgulha de ter enfrentado e derrubado Eduardo Cunha, de ter enfrentado Aécio Neves, ter enfrentado todos esses que hora ou outra vão ser derrotados. E a gente se orgulha de ter contribuído para a resistência no último período e para a unidade dos movimentos sociais, porque isso é importante. A gente é a gestão que ajudou a construir a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, que foram as responsáveis por colocar muita gente na rua e fazer a resistência nesse período. O momento é de clara visão sobre esse estado de exceção, muita gente perseguida. Um dos nossos heróis é o Mateus, que é o estudante lá de Goiás que provavelmente vai estar aqui com a gente no Congresso da UNE, que é o estudante ferido por um cassetete na passeata de Goiás, teve que fazer cirurgia de reconstituição facial, ficou internado há até pouco tempo.
Você disputou as últimas eleições municipais em Santos. Tem outras pretensões eleitorais?
Eu saio agora da UNE, vou também estabilizar um pouco a vida, terminar a faculdade, que falta pouco, e a ideia é que eu seja pré-candidata a deputada estadual pelo PCdoB, em 2018.
Por que BH foi escolhida para esse Congresso? Quais serão as principais discussões?
A gente escolheu Belo Horizonte por causa dessas lutas que estão acontecendo aqui. O Estado foi um dos que mais mobilizou nesse período todo, isso é muito importante, uma das outras possibilidades era Goiás, mas Goiás é isso, o governo está privatizando escola, militarizando escola, enquanto aqui você consegue ver uma resistência importante, a defesa da educação pública, uma coisa mais de contraponto à situação do governo federal. Vai ser um grande palco das lutas estudantis nos últimos dois anos. Quarta-feira é a abertura, com o lançamento do filme, onde vai ter a presença do governador, do prefeito, do reitor da UFMG e as autoridades, no Belas Artes, com debate com o diretor do film. Na quinta e na sexta vão ser debates que vão acontecer na UFMG, com muitos nomes confirmados, como Fernando Haddad, Celso Amorim, Flávia Oliveira, aquela jornalista da Globo News falando sobre racismo, ou seja, grandes nomes da política, das artes, da intelectualidade, das universidades, uma programação super recheada.
E na sexta-feira o ponto alto do Congresso que vai ser o ato Minas pelas Diretas, que vai acontecer com concentração na Praça Afonso Arinos, vai sair dali com um arrastão dos blocos, uma grande manifestação até a Praça a Estação, e às 19h começam os shows que vão até a noite com todos esses artistas que eu falei. Vai ser um ato muito simbólico, e esse é um momento que a gente empresta do Congresso da UNE para fazer uma coisa que envolva toda a cidade de BH e toda a Minas Gerais. Os artistas e os movimentos já queriam fazer esse ato dos artistas pelas Diretas aqui em Minas, e a ideia é a gente emprestar o Congresso da UNE para transformar o Congresso em um grande palco das lutas aqui de BH também. E aí no sábado e no domingo são as votações, aí a gente se fecha mais lá no Congresso mesmo, com os estudantes, e elege as propostas que vão guiar a UNE nos próximos dois anos e a nova diretoria. São esperados 10 mil estudantes, sendo que estão aptos a votar no Congresso mais de 8 mil delegados. O Congresso funciona assim: são feitas eleições diretas na base (universidade), que elegem os delegados para vir ao Congresso votar, e foram atingidas 98% das universidades brasileiras que tiveram eleições para o Congresso da UNE, isso é muito significativo. Na UFMG vão acontecer os debates, e os alojamentos e barracas vamos fazer pelas escolas da Pampulha. Quem é de BH não precisa se inscrever, só se quiser ter direito a alimentação e alojamento. Mas a entrada é livre.
Como você resumiria em uma palavra o atual momento político?
Caos. Acho que na confusão institucional e política que a gente vive no país, todo mundo tem um pouco de culpa: Poder Executivo, Poder Judiciário, Poder Legislativo. Cada um ali contribuiu de forma oportunista com uma desestabilização do país que até algum momento veio a convir. Temer sabotou o governo Dilma até onde pôde, desestabilizou e se uniu ao Ministério Público, se uniu ao setor do Judiciário para derrubar a Dilma e agora está aí, enrolado até o pescoço com as mesmas arbitrariedades. Nós da UNE achamos que precisa ser investigado todo tipo de corrupção, mas precisa ser respeitado o devido processo legal. Então da mesma forma que a gente não achou legal a Dilma ser grampeada, a gente também não acha legal considerar as provas de grampo no Michel Temer, de gravação ilegal e escuta ou os pedidos de prisão que acabam sendo feitos de forma preventiva só para propiciar a delação premiada. Isso é muito ruim. Existe muito abuso em setores do Judiciário. E o que não está sendo investigado é a corrupção também no setor Judiciário, porque o que tem de juiz corrupto, policial corrupto, não está escrito, e isso a Lava Jato não está investigando. Agora porque o Aécio está enrolado, o Temer enrolado, tem gente questionando a seletividade, mas eu acho que a tese da seletividade não está descartada, porque não foram investigar a própria Justiça, que também tem muita corrupção, então ainda existe muita seletividade.
Na semana passada, houve muitas críticas ao ministro Gilmar Mendes, que votou pela continuidade da ação de cassação da chapa Dilma-Temer quando Dilma era presidente e, agora, votou pela absolvição de Temer.
Eu desacredito no que é imparcial. Ainda mais quando o órgão é escolhido pelo Poder Executivo, não tem nada de imparcial, é mentira, nunca teve, nunca terá. Acho que a gente precisa discutir a reforma do Judiciário. Por que não eleger os juízes, os delegados de todas as Cortes? Tem países que desde o diretor da escola ao delegado da cidade, o xerife, são eleitos. Acho que a gente pode também democratizar o setor judiciário. Porque aí eles vão parar de fingir que são imparciais, quando na verdade são parciais como todos os outros poderes.
O Tempo
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