segunda-feira, 12 de junho de 2017

Para João Doria, Lula e Aécio não se comparam na Lava Jato


Seu pai criou o Dia dos Namorados num momento de dificuldades do comércio. Como foi essa ideia? 

Foi em 1949. Primeiro foi o Dia das Mães e, na sequência, no ano seguinte, o Dia dos Namorados. Meu pai era presidente da Standard, a maior agência de publicidade do país naquela época, e ele tinha um cliente importante que era a Exposição Clipper, uma loja de departamentos na época muito famosa no centro de São Paulo. Ele criou esse projeto inspirado no Valentine’s Day dos EUA que ele conhecia e ele propôs a criação do Dia dos Namorados próximo da comemoração do Dia de Santo Antônio. A partir de então foi institucionalizado: em 1948, o Dia das Mães e, em 1949, o Dia dos Namorados, as duas maiores datas do varejo brasileiro ao longo dos últimos 70 anos. A criação dessas datas no Brasil tem gerado ano após ano empregos, movimento para a economia, gestos de solidariedade, amor e carinho.

O que aprendeu com seu pai?

As grandes lições foram o seu exemplo, o legado moral. Ele foi eleito deputado federal em 1962, cassado em abril de 1964, foi exilado e ficamos dois anos no exílio. Meu pai teve que cumprir dez anos no exílio e ele não vergou. Manteve a sua posição de defensor do Brasil, da democracia, pagou muito caro porque, além da ausência da família, pagou com o prejuízo de tudo o que havia conquistado no plano empresarial. Voltou ao Brasil sem nada. Nossa vida também foi muito fustigada. Saímos de uma condição de classe média alta para uma condição de muita dificuldade a ponto de minha mãe ter dificuldade de pagar a conta de luz. Ficamos muitas vezes sem luz porque minha mãe não tinha dinheiro para pagar a conta de energia.

“O país é maior que suas crises”, o senhor já disse. Mas como o país vai sair desse turbilhão? 

Com serenidade e com equilíbrio. ‘Não será nem no grito e nem na violência, esse será o pior caminho. Estamos vivendo um momento difícil. É preciso conjugar coração com razão. É preciso que haja proteção às reformas, compromisso do Congresso Nacional para avançar nas reformas trabalhista e previdenciária. É um bom sinal, que ajuda o Brasil, ativa os mercados, melhora a confiança dos investidores e isso é que pode estancar o desemprego e iniciar um processo de retomada do emprego e de novos investimentos.

O João Doria que se autointitula guerreiro pode ser o candidato à Presidência da República?

Eu não postulo, não formulo e não me intitulo. Eu sou o prefeito eleito da cidade de São Paulo. A mim me cumpre ser um bom prefeito, essa é a minha responsabilidade. Esse é o meu dever. E fazendo assim, estarei contribuindo para a democracia do país e estarei contribuindo para o processo eleitoral de 2018, para garantir a ação eficiente dos governos no plano estadual e municipal, como eu em um mandato recém-outorgado pela população. Essa é a minha responsabilidade. Portanto, vou me manter como um bom candidato para ser um ótimo prefeito da cidade de São Paulo.

Jair Bolsonaro: como você vê a candidatura mais extremada para o país?

Vejo com normalidade. Eu não conjugo das ideias do deputado Bolsonaro, mas não posso criticá-las. Ele está no direito de promover suas ideias. Percorrer o Brasil como tem feito é um direito que lhe assiste. Ele tem procurado fazer isso de forma ampla e tem convencido uma parcela da população sobre as suas ideias. Isso é democracia. Isso é o contraditório. Eu não penso como ele, mas respeito as suas posições e o conceito democrático do debate que é construtivo, é positivo. Só não é positivo a agressão, a conturbação, o emparedamento, a intimidação, isso não é bom. E até aqui tenho visto nas manifestações do deputado Bolsonaro o sentimento de alguém que quer discutir as suas ideias e tem muitas pessoas que acreditam nelas.

O que o senhor acha de Ciro Gomes como um nome que vai surgindo como o representante da esquerda?

É um caso diferente. O ex-governador do Estado do Ceará tem um grau de destempero, de desequilíbrio muito grande. Eu sempre temo que as pessoas descontroladas tenham gestos descontrolados, palavras descontroladas, isso não é bom para a democracia. Pode ter firmeza nas suas posições, como eu tenho, e outros também. Isso é aceitável. O que não é razoável é o extremismo, palavras chulas, comportamentos inadequados, agressões, ameaças: ‘vou bater, vou matar, recebo a tiro’. A população não apoia isso. Depois, não vejo nenhuma construção democrática em destruir os adversários com intimidações. Não creio que a população deseje esse tipo de candidato.

Qual é a diferença entre Aécio Neves e Lula na Lava Jato?

A história do Aécio Neves não é a historia do Lula. Apesar de todas as circunstâncias – o senador Aécio Neves vive um mal momento –, mas não há como comparar e nem traçar um paralelo entre a vida de Aécio Neves e a vida de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, ao longo desses 13 anos (2003 a 2016), promoveu, aceitou, divulgou e contribuiu para o maior assalto aos cofres públicos que já se viu na história brasileira, permitindo e estimulando ações de assalto a estatais e ministérios, além de multiplicar formatos de corrupção para garantir a eleição até fora do Brasil. Então não há paralelo nisso. Agora, entendo que a operação Lava Jato deva seguir investigando, garantindo livre defesa a todos, inclusive ao ex-presidente e ao senador e estabelecer o resultado desse julgamento a quem quer que seja.

Como membro do PSDB e diante das denúncias contra ele, o senhor acredita que Aécio deve ser expulso do partido?
 

Desde que as denúncias se comprovem. Precipitar uma medida é fazer o julgamento antes da hora. Os tribunais estão analisando os indiciamentos. Feito o juízo e havendo uma situação de culpabilidade, cabe ao PSDB essa análise. Mas avaliar isso ou decidir isso sem o transitado e julgado a mim me parece precipitar os fatos.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso continua sendo o grande conselheiro do PSDB mesmo depois de ter errado a previsão de que o senhor não ganharia a eleição de São Paulo?

Continua. É um homem de bem e com enorme sabedoria. Ele não precisa concordar comigo para ter minha admiração. Mesmo em discordâncias, com erros em prognósticos, não muda a minha posição de profunda admiração pelo ex-presidente. Ele é um sábio, uma figura política de grande estatura, não apenas para o PSDB, mas para o Brasil e para a América Latina. Eu o respeito muito, não apenas os cabelos brancos, como sua biografia pessoal, acadêmica e política.

Pesquisa da “Folha de S.Paulo” diz que aumentou o número de paulistanos que consideram que o senhor fez menos do que poderia em seu bairro: eram 67% há dois meses, agora são 75%. Por que isso aconteceu? O sistema público é mais lento ou não dá para agradar todo mundo?

Primeiro um protesto. Foi uma pegadinha do Datafolha. Nunca antes as pesquisas do Datafolha tinham investigado o interesse da população sobre o seu bairro. Eu disse isso publicamente, e a “Folha” não respondeu. Por que não fez essa pesquisa com Fernando Haddad, Gilberto Kassab, José Serra? Introduziu a pergunta do bairro na gestão do prefeito João Doria? Pegadinha. Evidentemente que uma pergunta desse tipo induz uma resposta que jamais será positiva. Pergunte a você mesmo, com qualquer prefeito que tenha passado por Belo Horizonte, se está satisfeita com a ação do seu prefeito no seu bairro. Seguramente sua resposta seria não. Sai do plano macro para o plano micro. Absolutamente impossível essa relativização. É um gesto ruim do Datafolha, embora seja um instituto sério, fazer esse tipo de pegadinha comigo ou com qualquer outro prefeito. A resposta será sempre negativa. Por outro lado, vale lembrar que eu continuo sendo o prefeito com a melhor aprovação no Datafolha, inclusive nos últimos 28 anos desde que começou a fazer pesquisas. Estou no meu quinto mês como prefeito da cidade com uma aprovação de 67% da população. É uma aprovação bastante enaltecedora.
O Tempo

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