O TEMPO
Paulo César de Oliveira
PUBLICADO EM 10/04/18 - 03h00
Essa foi a manchete da maioria dos jornais brasileiros e dos principais do mundo no domingo. Nem poderia ser diferente, afinal poucos acreditavam que tal fato fosse acontecer. Confesso que fiquei triste ao ver aquele que poderia ter se transformado num líder mundial ir dormir, não se sabe por quanto tempo, numa cela de 15 metros quadrados, bem confortável, diga-se, para os padrões das prisões brasileiras.
O ex-presidente se deixou envolver pelo deslumbramento do poder – infelizmente, é o que acontece com 90% dos que chegam lá – e do dinheiro. O Brasil, onde se diz, com propriedade, que o poder corrompe, sempre foi considerado o país da impunidade.
Há anos venho escrevendo que esse é o nosso grande problema. Agora, desde que se deflagrou a operação Lava Jato, pode-se dizer que há um tímido combate à endêmica corrupção brasileira, graças ao juiz Sergio Moro, que tem sido destemido e corajoso, até agora mostrando-se incorruptível.
Recentemente, um empresário português me disse que a corrupção existe no mundo inteiro, mas o que está assustando são os números dela no Brasil. Com a prisão de Lula e tantos outros, embora muita gente ainda esteja impune e fazendo tudo na maior desfaçatez, a esperança é que o Brasil volte a crescer e se desenvolver. Isso, porém, não basta. É necessário que a profilaxia continue com a prisão de outros notórios corruptos.
Lula, em seu discurso de sábado, não demonstrou o menor respeito à inteligência do brasileiro – e mesmo a seus fanáticos seguidores – ao dizer que ele agora “não é um ser humano, é uma ideia”, além de insistir na mentira de que não tem nada com a corrupção. Extrapolou ainda ao atacar a imprensa, o Ministério Público e todas as outras instituições que julga culpadas por sua condenação.
As eleições de outubro, se houver renovação, podem ser um início de recuperação moral do país. Caso contrário, vamos continuar do jeito que estamos. Se não piorarmos ainda mais. O risco de que o Brasil entre num processo de “venezuelização” não é pequeno. O país assiste a uma rápida degradação de suas instituições, vítimas maiores da crise política que se mantém desde o início do segundo mandato de Dilma, ou, se quisermos ser ainda mais precisos, desde as denúncias do mensalão, ainda no governo Lula, quando a já desmoralizada classe política se mostrou, com toda a clareza, suja pela corrupção.
O sucesso relativo do segundo mandato de Lula, graças ao bom momento da economia mundial, deu sobrevida aos políticos, mantendo escondidos os escândalos. O desmoronamento do país nos dois mandatos de Dilma reabriu a ferida, levando os políticos a chafurdar na lama da corrupção e da lavagem do dinheiro. No debater dos afogados, vão puxando para a lama as instituições que os acusam, promovendo a desmoralização total do Estado brasileiro, situação que em nada colabora para a democracia e que assanha nossa alma totalitária.
O Tempo
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