A trajetória de Machado de Assis, como suas narrativas, é atravessada por mistérios e ambiguidades. Um olhar para as interseções, muitas vezes pouco abordadas, entre a vida e a obra do escritor – reconhecido como o mais importante do país –, é o que o autor, crítico literário e pesquisador Silviano Santiago lança no romance “Machado”, publicado no ano passado.
Convidado para participar do projeto Letra em Cena, a ser realizado nesta terça (11) no Café do Centro Cultural Minas Tênis Clube, ele vai trazer à tona alguns pontos que permitem outras leituras do legado do Bruxo do Cosme Velho, alcunha recebida por Machado e difundida pelo poeta Carlos Drummond de Andrade.
“Eu gosto de buscar uma brecha que me permita trazer certa originalidade para algum tópico, seja ele relacionado às obras de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa ou Machado de Assis. No caso de Machado, a brecha que mais me interessou foi a relação dele com a questão da doença”, afirma Santiago.
Ele recorda que o escritor carioca, diagnosticado com epilepsia, passou a ter um acompanhamento médico, após a morte de sua mulher, Carolina Augusta Xavier de Novais. “No século XIX e até hoje, a epilepsia é um tabu, e o distúrbio de Machado começa a ficar mais óbvio depois que o Dr. Miguel Couto, que cuidou de sua mulher, também orienta seu tratamento. A partir daí, se concretizou uma situação dramática que me interessava”, relata.
No Brasil, essa temática é raramente mencionada, diferentemente da atenção que a crítica francesa destinou ao assunto ligado também à vida de Gustave Flaubert. Essa bibliografia estrangeira serviu de referência para Santiago, que se guiou por uma escrita, a seu ver, híbrida. “Há dados biográficos de Machado que se somam a uma leitura textual e a uma descrição bastante original do contexto sócio-histórico do Rio de Janeiro do século XIX”, completa ele, que ressalta como a reflexão em torno da epilepsia pode contribuir para compreender melhor a forma da ficção Machado de Assis.
“O romance dele funciona numa base de zigue-zague, de pequenas mortes e ressurreições. Isso torna obviamente um pouco difícil a leitura de Machado, que requer um leitor atento às paradas bruscas e às reflexões, aparentemente sem sentido que aparecem nos textos dele. Isso tudo dialoga com o que outros críticos disseram sobre algumas características da obra de Flaubert, principalmente a maneira como nelas sobrevivem sucessivas mortes e renascimentos”, conclui ele.
AGENDA
O quê. Letra em Cena, com Silviano Santiago
Quando. Nesta terça-feira (11), às 19h
Onde. Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2244, Lourdes)
Quanto. Ingressos esgotados
Quando. Nesta terça-feira (11), às 19h
Onde. Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2244, Lourdes)
Quanto. Ingressos esgotados
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