Briga é uma raridade nos oito anos de casamento de Ricardo Bittencourt, 41, engenheiro de software, e a ilustradora Ila Roberta de Oliveira, 35. Mas o conflito foi inevitável quando ele fez alguns cálculos errados e uma viagem ficou três vezes mais cara do que o previsto. Acostumados a dividir esse tipo de despesa, os dois se viram em uma pendenga para definir como o valor seria pago. “Demorou para decidirmos porque quem errou a conta fui eu”, relata. No fim do processo, ele assumiu uma parte maior, dentro das suas possibilidades.
Situações como essa refletem a complexidade de lidar com finanças e manter a harmonia entre casais. Uma pesquisa do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), realizada em fevereiro deste ano, mostrou que quatro entre dez casais brasileiros admitem que brigam por causa de dinheiro. “Os problemas surgem quando o casal discorda sobre como gastar quando não existe uma reserva para imprevistos e quando um não quer pagar a despesa feita pelo outro”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Os consultores financeiros, porém, afirmam que o maior problema entre casais no que se refere a dinheiro é a mentira, seja sobre compras ou sobre dívidas. “Muitas vezes, um membro do casal tenta esconder uma situação ruim, mas é impossível. Quando o outro descobre, se sente traído”, afirma o consultor do site de educação financeira do Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa. Ele cita uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com 23 mil pessoas em que 66% afirmam que a honestidade sobre as finanças é tão importante quanto se manter monogâmico. Ainda assim, o mesmo estudo apontou que quase metade dos homens e das mulheres mente para seus parceiros sobre dinheiro.“A pesquisa vai em direção à realidade que os casais trazem para a terapia financeira. Mentira, nessa questão financeira, não ajuda em nada. Costumo dizer que com dinheiro não se brinca. Ser verdadeiro e transparente é a melhor decisão, afinal de contas, estar casado é uma parceria a dois. Quando entra a mentira em qualquer nível é porque houve algum conflito e precisa ser resolvido”, afirma o educador e terapeuta financeiro da empresa Dsop Denilson Crespo.
A corretora de redação Amanda Caroline Siqueira dos Santos, 21, casou-se neste ano com Dâmocles Vinícius Oliveira, 21, que trabalha como autônomo em construção civil, e conta que só teve uma briga: “Só aconteceu uma vez. Quando percebi que uma quantia tinha sumido da nossa poupança e descobri que foi um empréstimo sem meu consentimento”, conta. Hoje, o casal planeja os gastos juntos. “Sentamos no início do mês e colocamos na ponta do lápis todos os nossos gastos, valores para poupar e coisas grandes que queremos comprar. O que sobrar, a gente divide, e cada um gasta com o que quer. Nós não temos conflitos”, diz Amanda.
MAIS MADURAS
Curso ajuda a superar crise sem brigas
A psicóloga Luciana Gomes, 33, e a jornalista Cristiane Chaves, 38, fizeram há três anos um curso de educação financeira para casais. “Foi importante para aprendermos a confiar uma na outra e pensar sobre dinheiro em conjunto”, relata Cristiane. Segundo ela, o curso ajudou muito quando, há um ano, as duas perderam o emprego. “Foi importante porque já tínhamos um amadurecimento e, no começo, ficamos desesperadas”, acrescenta.
Para o terapeuta financeiro Denilson Crespo, na hora da crise, o casal deve procurar ajuda profissional. “Para ajudar a direcionar o caminho para a solução”.
Hoje, Cristiane está empregada, mas mantém o hábito de avaliar as despesas. “Priorizamos gastos que as duas concordam”, diz. (LP)
PESQUISA SPC
41% brigam porque discordam sobre quais gastos serão feitos pelo casal.
32% acabam brigando por não ter uma reserva para contingências.
19% não concordam em pagar a dívida do cônjuge e, por isso, entra em conflito.
O Tempo
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