quarta-feira, 26 de abril de 2017

A arte da gênese da vida

A fertilidade expressa no verde da natureza, os processos naturais (e ancestrais) que lhe deram cor e forma. Em síntese, a gênese da vida. Esses são alguns aspectos que nortearam “The First Green”, exposição do artista mineiro Thiago Rocha Pitta, 36, em cartaz até sábado (29) na galeria Marianne Boesky, no bairro de Chelsea, em Nova York.
Tendo a ciência a serviço da arte, Pitta apresenta uma série de afrescos e uma instigante escultura que sugerem uma conexão da história natural com a origem da vida no planeta. “Tudo surgiu há dois anos, quando, após retornar de uma longa viagem, encontrei meu jardim morto, seco. Comecei a trabalhar nele e, ao mesmo tempo, estava pesquisando sobre divindades ctônicas (deuses gregos relacionados ao submundo), femininas, férteis etc”, conta o artista.
“Logo, decidi que faria um trabalho com verde – cor difícil, que até então não tinha me ocupado. Demorei a obter algum resultado, só quando comecei a misturar amarelo e azul primários foi que encontrei alguma satisfação. Súbito, me lembrei da história das cianobactérias e da origem do oxigênio”, explica Pitta, que, a partir de sua pesquisa sobre os micro-organismos – a forma de vida mais antiga encontrada –, responsáveis pelo (longo) processo de oxigenação da Terra, partiu para a Austrália.
No país, o artista visitou Hamelin Pool, reserva marinha onde as cianobactérias se acumulam, formando os estromatólitos, estruturas semelhante a rochas e que estão lá há bilhões de anos. “Lá, fiz o vídeo ‘Before the Dawn’. A mostra consiste na exibição do vídeo numa antessala, a qual você deve passar antes de alcançar a sala principal, onde estão os afrescos e a escultura”, descreve o artista.
Nesse trajeto, que começa na escuridão e atravessa a aurora até se chegar à luz – assim como a vida –, Thiago Rocha Pitta tece uma trama de situações metafóricas que reverberam na origem da vida, a partir dos trabalhos expostos, nos quais a natureza é coautora. “A natureza é coautora de tudo que existe; eu, você e, incluso, meu trabalho”, aponta.
No caminho. “Não sei aonde quero chegar. Se soubesse, talvez desistiria. Prefiro continuar caminhando”, diz Rocha Pitta, para quem as referências, as experiências e as distintas expressões artísticas, desde cedo, indicam caminhos.
Nascido em Tiradentes, Pitta, já na infância, aprendeu (e absorveu) a arte. De lá, a adolescência em Petrópolis (RJ), a juventude no Rio de Janeiro e, agora, a vida na capital paulista são experiências que alimentaram seu fazer artístico.
“Meu pai era artista, fui criado no ateliê. Evidentemente, aquele contexto me influenciou muito. Fui para a serra dos Órgãos, onde aprendi a olhar o mundo de uma forma poética, sem a mediação cultural paterna ou barroca (de Tiradentes). De lá, aos 18 anos, fui para o  Rio, onde estudei Belas Artes na UFRJ e trabalhei de assistente para alguns artistas, como Lygia Pape, Tunga, entre outros. Aos 28, me mudei para São Paulo, onde vivo até hoje”, sublinha.
Todos esses caminhos e experiências, somados a “outras menos íntimas, mas não menos importantes: Turner, Guignard, Reverón, a pintura pompeiana, a gravura japonesa, aquarelas chinesas, muita música e muito cinema”, formaram um artista plural, que não se guia por um “modelo” artístico. “Por isso, acho que o trabalho passeia por diferentes plataformas e formatos. Há um modelo temporal. Líquido”, destaca.


MUITA ARTE

Nova York. “The First Green” é a segunda exposição individual do artista em Nova York. Em 2015, Pitta também expôs na galeria Marianne Boesky a mostra de vídeos “Mapas Temporais de uma Terra Não Sedimentada”.

Outros países. Ele ainda já apresentou obras na Alemanha, na Dinamarca e na Itália, além de integrar eventos como a 30ª Bienal de São Paulo e a 9ª Bienal do Mercosul. Sua próxima mostra será em junho, em Milão (Itália).
O Tempo

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