domingo, 23 de abril de 2017

Na escola do futuro, o ensino é personalizado

Os estudantes, a sociedade e o mercado de trabalho já se transformaram, mas ainda são poucas as escolas que resolveram quebrar os paradigmas do modelo de aprendizagem usado até então. Para os especialistas, o uso da tecnologia como único caminho para a inovação não é unanimidade, mas todos concordam que o sistema educacional parou no século XIX e que é preciso levar o século XXI para dentro das instituições.

As principais tendências passam por formatos de ensino mais integrados com a realidade do mundo atual, incluindo aprendizado mais divertido por meio de jogos e atividades “mão na massa” – com foco na fabricação de objetos e produtos. Isso possibilita o ensino personalizado e híbrido, em que diferentes técnicas pedagógicas são aplicadas de forma individualizada, levando em conta o tempo de aprendizagem de cada aluno. Nesses modelos, notas e exames são apenas uma pequena parte da vida e da aprendizagem.

Segundo o livro “Viagem à Escola do Século XXI: Assim Trabalham os Colégios Mais Inovadores do Mundo”, do psicólogo e pesquisador espanhol Alfredo Hernando Calvo, um ensino baseado somente na transmissão de informação já não atende os anseios das novas gerações, que pedem novos espaços, novos métodos e maneiras mais colaborativas de aprendizagem. Para Calvo, a própria sala de aula deve ser redesenhada, abandonando aquele modelo com quadro e carteiras enfileiradas.

Em sua obra, ele descreve 80 exemplos de ações transformadoras realizadas em escolas ao redor do mundo (também disponíveis pelo site www.escuela21.org). Outras 96 experiências inovadoras, que podem transformar práticas pedagógicas, também foram mapeadas pela plataforma InnoveEdu.org. São ferramentas e metodologias que traduzem importantes tendências capazes de tornar o aprendizado significativo e conectado com as demandas do século XXI.

Um estudo piloto, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que analisou 28 sistemas educacionais no mundo, concluiu que, ainda que não haja uma relação facilmente comprovável entre tecnologias e melhorias na educação, “em geral, países com maiores níveis de inovação veem aumento em alguns resultados educacionais, incluindo melhor performance em matemática na oitava série (13 e 14 anos), resultados de aprendizado mais igualitários e professores mais satisfeitos”.

O educador e escritor André Gravatá fez uma viagem pelo mundo que culminou na coautoria do livro “Volta ao Mundo em 13 Escolas”. Ele critica o fato de a palavra “inovação” ter-se tornado um clichê e, muitas vezes, servir para encobrir o “resgate de práticas nada novas”. “As escolas (retratadas) no livro apontam que pilares essenciais da educação são a diversidade e a sensibilidade, que o aluno pode ser mais protagonista de seu caminho de aprendizagem e que a educação acontece dentro e fora da escola. Por isso, é tão importante pensar inclusive como os territórios podem tornar-se espaços mais educadores”, diz.


ANÁLISE

Tecnologia sozinha é ‘parafernália’, afirma autor


Os investimentos em tecnologia e inovação não são unanimidade entre estudiosos da educação, uma vez que nem sempre esses recursos se traduzem em melhor desempenho e benefícios. Para um dos autores do livro “Volta ao Mundo em 13 Escolas” André Gravatá, a tecnologia sozinha é “parafernália, é falsa mudança”. “Para mudar a educação de verdade, é imprescindível que a tecnologia venha acompanhada de uma concepção de educação transformadora, democrática, que instigue a autonomia e o protagonismo dos alunos”, afirma.

Há escolas cheias de tablets e profundamente vazias de estímulos à autonomia, curiosidade e leitura de mundo dos alunos, diz ele. Gravatá acredita que é importante ter cuidado com esse conceito, para não identificar a tecnologia como um remédio capaz de resolver todos os problemas. “O essencial é que a tecnologia digital seja percebida como uma ferramenta entre outras, que pode potencializar essas descobertas e jornadas por diferentes linguagens e dimensões. Ter um tablet na escola com um aplicativo sobre plantas não substitui colocar a mão na terra e fazer uma horta”, exemplifica.

Ele diz ainda que, se a tecnologia for utilizada a serviço da autonomia e do protagonismo, por exemplo, ela pode ser transformadora. “Mas, se ela der continuidade ao modelo de ensino mais comum, apenas para passar no vestibular ou entrar no mercado de trabalho, aí ela perde sua potência transformadora”, conclui.
O Tempo

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