Os conservadores alemães venceram as eleições legislativas deste domingo (24), mas a entrada histórica da direita nacionalista e populista no Parlamento pode azedar a festa de Angela Merkel, que vai encarar um quarto mandato como chanceler.
A União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) da Baviera conquistaram entre 32,5 e 33,5% dos votos, à frente dos social-democratas do SPD de Martin Schulz, com entre 20 e 21 %, segundo as pesquisas de boca de urna dos canais públicos ARD e ZDF.
Caberá a Merkel buscar um ou mais parceiros para formar o próximo governo. O SPD já indicou que permanecerá na oposição, após quatro anos no governo.
A vitória já esperada de Merkel é ofuscada pelo resultado do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) que, com 13% dos votos, segundo as pesquisas, será a terceira força política do país.
"Vamos mudar o país (...) vamos caçar Madame Merkel. Vamos recuperar nosso país", prometeu Alexander Gauland, um dos líderes do AfD.
Anti-imigrante, anti-Islã, anti-europeu e revisionista, o AfD, que fracassou em 2013 em sua tentativa de entrar no Bundestag, superou neste domingo o partido de esquerda radical Die Linke (9%), os liberais do FDP (10%) e os Verdes (9%).
Respondendo à chanceler, que durante a campanha defendeu a continuidade na prosperidade num contexto mundial bastante complexo, o AfD não hesitou em atacar Merkel, tomando como modelo o presidente americano Donald Trump e os partidários do Brexit.
Radicalização
Durante a campanha, o AfD acusou a chefe de Estado de "traição" por abrir as portas em 2015 a centenas de milhares de requerentes de asilo, principalmente muçulmanos, e garantiu, entre outras coisas, que a Alemanha se tornou "um paraíso para criminosos e terroristas de todo o mundo".
O partido de extrema-direita conseguiu conquistar importantes votos no final da campanha, apesar de uma radicalização de seu discurso, defendendo, inclusive, os atos dos soldados alemães na Segunda Guerra Mundial.
Este avanço da extrema-direita, muito popular na antiga Alemanha Oriental, representa um verdadeiro terremoto para um país cuja identidade desde o fim da Segunda Guerra Mundial foi construída sobre o arrependimento pelo nazismo e a rejeição ao extremismo.
Neste sentido, o ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, estimou pouco antes da votação que a entrada do AfD no Bundestag marcaria o retorno dos nazista "pela primeira vez em mais de 70 anos".
O grande perdedor destas legislativas é o ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que não conseguiu incorporar a mudança, em parte porque seu partido social-democrata governa com Merkel desde 2013.
Sua mensagem de justiça social teve pouco impacto em um país em pleno crescimento econômico e com níveis historicamente baixos de desemprego.
Difícil coalizão
A CDU-CSU também esteve distante de alcançar o seu objetivo, de 40% dos votos. Este resultado, associado à presença expressiva do AfD, prometem complicar os cálculos de Angela Merkel para formar uma maioria para governar o país.
A opção mais simples seria voltar a formar uma grande coalizão com os social-democratas do SPD, mas este partido, em plena crise existencial, prefere se manter na oposição.
Segundo as pesquisas, restaria uma única opção: uma coalizão do CDU-CSU com os liberais do FDP e os Verdes, dois partidos com muitas diferenças em questões como o futuro do diesel ou a imigração.
As negociações podem se arrastar até o fim do ano.
Os partidos que fizerem parte da próxima coalizão terão pela frente questões complexas a nível internacional: reforma da zona do euro, negociações do Brexit, futuro da relação com os Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump ou a questão das sanções contra a Rússia.
O Tempo
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