Os alemães votam, neste domingo (24), em eleições legislativas que devem reconduzir a conservadora Angela Merkel à Chancelaria para seu quarto mandato, mas que também devem ser marcadas por um resultado histórico da extrema-direita.
As assembleias de voto abriram às 08h00 (03h00 de Brasília) para receber os cerca de 61,5 milhões de eleitores em 299 círculos eleitorais para eleger os deputados num sistema que mistura princípios majoritários e proporcionais.
Com exceção de uma grande surpresa de última hora, todas as pesquisas indicam a vitória dos conservadores de Angela Merkel (34-36%), à frente dos social-democratas de Martin Schulz (21-22%), que poderiam sofrer a sua pior derrota até o momento.
"Não me agrada a política de acolhimento de refugiados", diz Jörg, um eleitor de 42 anos no bairro de Lichtenberg, em Berlim. Mas "me agrada muito a política do governo atual" e "não vejo nenhuma alternativa para Merkel", afirma, resumindo o que, à luz das pesquisas, parece ser o sentimento de muitos alemães.
Schulz, que votou às 08h00 GMT (05h00 de Brasília) em Würselen (oeste), não conseguiu incorporar a mudança, em parte porque seu partido social-democrata (SPD) governa com Merkel desde 2013.
Sua mensagem de justiça social teve pouco impacto em um país em pleno crescimento econômico e com níveis historicamente baixos de desemprego.
A chanceler defende manter as mesmas políticas econômicas e dar confiança aos alemães, em um contexto internacional agitado.
Mas a coalizão de Merkel, formada pela União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) da Baviera, poderia ter uma vitória menos contundente do que em outras eleições.
Espera-se o auge tanto do partido de esquerda Die Linke quanto da forçação de extrema-direta Alternativa para a Alemanha (AfD), que visa entrar no Parlamento pela primeira vez.
Com entre 11 e 13% nas pesquisas, o AfD aparece como terceira força política, à frente do Die Linke, dos liberais do FDP e dos Verdes.
Este movimento que milita contra o Islã, as elites, o euro e a imigração, radicalizou ainda mais seu discurso durante a campanha, garantindo, entre outras coisas, que a Alemanha se tornou "um paraíso para criminosos e terroristas de todo o mundo".
O AfD também denuncia a "traição" de Merkel, de 63 anos, por abrir as portas em 2015 a centenas de milhares de requerentes de asilo, principalmente muçulmanos.
O avanço da extrema-direita, muito popular na antiga Alemanha Oriental, representaria um verdadeiro terremoto para um país cuja identidade desde o fim da Segunda Guerra Mundial foi construída sobre o arrependimento pelo nazismo e a rejeição ao extremismo.
De acordo com Jörg Forbrig, do German Marshall Fund, a entrada no Parlamento de deputados de um partido "xenófobo, revisionista e anti-europeu" é "o maior prova de resistência que a democracia alemã já enfrentou".
Além do avanço do AfD, Angela Merkel também poderia enfrentar negociações complicadas para formar uma maioria de governo.
A opção mais simples seria voltar a formar uma grande coalizão com os social-democratas do SPD, mas este partido já deixou claro que pode optar por se manter na oposição.
Segundo as pesquisas, restaria a opção de uma coalizão do CDU-CSU com os liberais do FDP e os Verdes, dois partidos com muitas diferenças em questões como o futuro do diesel ou a imigração.
Os partidos que fizerem parte da próxima coalizão terão pela frente questões complexas a nível internacional: reforma da zona do euro, negociações do Brexit, futuro da relação com os Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump ou a questão das sanções contra a Rússia.
O Tempo
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