quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A Lava Jato chega aos cinemas neste feriado de 7 de Setembro

Pela primeira vez, a operação Lava Jato ultrapassou o espectro de políticos e empresários, e pode incluir no rol de suspeitos membros do alto escalão do Judiciário e dos órgãos de investigação. É nessa encruzilhada, onde a Lava Jato está entre dar um passo ainda maior ou caminhar para o fim, que a maior operação contra a corrupção no Brasil ganha às telas de cinema, com a estreia nesta quinta, dia 07/09, de “Polícia Federal: A Lei É para Todos”.

O longa, que estreia em 737 salas de 540 cinemas brasileiros, é o primeiro de uma trilogia que pretende roteirizar esse momento politicamente conturbado do país. Para dar conta do que propõe, a sequência terá que ser bem melhor.
“Polícia Federal” exagera em clichês. Há uma preocupação em explicar de forma didática o desenlace da operação que limita a criação de um roteiro melhor elaborado e uma ausência de complexidade dos personagens.

Mas a missão do diretor Marcelo Antunez não é fácil. Filmar sobre um fato histórico em andamento, retratando um passado que não é novidade para quase ninguém e sobre um tema que divide ideologias são desafios que não foram completamente superados.

Mas há acertos. As cenas de ação são bem-feitas. O didatismo que, por um lado incomoda, por outro explica de forma interessante como uma operação contra lavagem de dinheiro do tráfico de drogas desvendou o maior escândalo de corrupção brasileiro. Entre os personagens, o doleiro Alberto Yousseff, interpretado por Roberto Birindelli, é o mais carismático. Seu sarcasmo arranca boas risadas.

Em busca de uma novidade, a opção foi deixar como coadjuvantes os protagonistas da Lava Jato nos noticiários – o juiz Sérgio Moro e os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Deltan Dallagnol. Moro (Marcelo Serrado) aparecem em poucas cenas, com falas objetivas e não muito relevantes para a história. O protagonismo recai sobre os policiais federais Ivan (Antonio Calloni), Beatriz (Flávia Alessandra) e Júlio (Bruce Gomlevsky). “Pensamos: o que poderíamos trazer de novo? E vimos que a notícia é sempre divulgada depois que a operação aconteceu, e muitas vezes não mostra qual foi o trabalho que levou até esse desfecho. Por isso, o foco na investigação e nos policiais”, explica Antunez.

O protagonismo dos policiais federais é de fato uma boa sacada, mas teria um potencial de ampliar a qualidade do roteiro se os personagens tivessem maior profundidade. Há uma ausência de conflitos com a investigação, eles são lineares e apresentados com uma pureza de quem quer a todo esforço acabar com a corrupção no país.

Segundo Antunez, a necessidade de explicar a complexidade da Lava Jato para o público comum acaba trazendo uma limitação ao roteiro. “É claro que a necessidade de apresentar esse tema complexo de forma didática é uma limitação para que possamos ousar mais. Até porque o público brasileiro é heterogêneo. Mas a gente acredita que nesse segundo filme poderemos trabalhar um roteiro mais complexo”, diz
Quando o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, decide fazer a delação é o ponto de virada no filme.  É a partir daí que o enredo caminha para as prisões de grandes empresários e é a ponte para a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na história, vivido na tela por Ary Fontoura. O clímax é a condução coercitiva do petista.
A dúvida é: esse fato é mais importante do que a prisão de alguns dos maiores empresários do país? É nesse ponto que o filme encontra sua maior dificuldade: o de se apresentar como apartidário, como defendem os produtores. Os R$ 16 milhões do orçamento foram obtidos sem recursos públicos, mas os financiadores não são revelados.
No longa, Lula é apresentado claramente como um vilão. As sobrancelhas curvadas e a voz irritada presente toda vez que o personagem aparece na tela menosprezam a complexidade do Lula real. Goste-se ou não do ex-presidente, ser rabugento é algo que não combina com o petista.
“Polícia Federal” fica mesmo muito focado no PT, mas a promessa deixada pelas cenas pós-créditos é que a sequência terá como vilões o senador Aécio Neves (PSDB) e o presidente Michel Temer (PMDB).

 

E tem mais...


Musical. A Operação Lava Jato, que inspirou o livro “Polícia Federal – A Lei É para Todos" (R$ 37,90, 280 págs., Record), de Carlos Graieb e Ana Maria Santos, base do filme homônimo que estreia, também será adaptada para os palcos. O espetáculo “Lava Jato – O Musical” já recebeu autorização para captar R$ 706 mil. A estreia está prevista para o primeiro semestre de 2018.
Livros. O agente New- ton Ishii, que ficou conhecido como o Japonês da Federal, anunciou que vai lançar um livro sobre a operação. Ele contou que está trabalhando em uma biografia que tem como ápice sua experiência na Lava Jato e que a obra deverá ser lançada este ano. Paulo Roberto Costa, o primeiro executivo da Petrobras a virar delator, também disse que está produzindo um livro. “Já escrevi mais de 150 páginas. Muita coisa do tempo em que fiquei preso”, falou.
O Tempo

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