domingo, 10 de setembro de 2017

Trabalhadores migram para o interior em busca de emprego

Luciana Gomides, 36, trabalha em Itabira, a 110 km de Belo Horizonte. Já Leandro Mol Barbosa, 35, trabalha em Congonhas, a 80 km da capital mineira. É assim, separados por 190 km, que os dois engenheiros organizam o casamento, marcado para dezembro deste ano, em Belo Horizonte. Mas onde vão morar? “Primeiro, temos que pensar no emprego; depois, traçamos o caminho”, afirma o casal, que, por enquanto, se encontra todo fim de semana em Belo Horizonte, em uma rotina milimetricamente definida, para comportar preparativos do casamento e reforma do apartamento, além do tempo para matar as saudades.

Esse fluxo migratório, de ir aonde a vaga está, pode ser comprovado pelos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad Contínua), a taxa de desocupação na região metropolitana de Belo Horizonte chegou a 16,2% no segundo trimestre de 2017. Quando o indicador considera toda Minas Gerais, incluindo as cidades do interior, o índice cai para 12,2%. De 2012 até agora, enquanto o desemprego cresceu 71,8% no Estado, na capital ele mais do que dobrou: aumentou 116%.

“Até 2012, a empresa onde eu trabalhava tinha grandes contratos, mas aí vieram a crise e os cortes. Eram mais de mil funcionários, e caiu para 50. Saí de lá em 2016, com vários salários atrasados, e ainda não recebi. Como já não existem mais grandes projetos, resolvi me dedicar exclusivamente a dar aulas”, conta Barbosa, que vai e volta de Congonhas três vezes por semana.

Luciana, após trabalhar em multinacionais, também viu as portas se fecharem. Passou em um concurso há quatro anos, mas só foi chamada agora. “Tive 15 dias para arrumar apartamento, me organizar e mudar”, conta a engenheira mecânica, que chegou a dar aulas como professora substituta em faculdades em Curvelo e Sete Lagoas.

Afetados por tabela. Não é só a vida de quem vai que muda totalmente. Quem tem marido, mulher ou filhos trabalhando em outra cidade também tem a rotina alterada totalmente. “Meu marido está trabalhando em São João del Rei desde fevereiro. Se antes eu achava que ele fazia pouca coisa em casa, hoje sei que ele fazia muito. Tenho que resolver tudo do dia a dia sozinha”, brinca a professora Maria Luiza Pedrosa, 35.

Já a vendedora Kamylla Kineip, 32, deixou a loja em que trabalhava e foi tentar a sorte em Três Corações, como corretora. Os dois filhos, um de 7 e outro de 13, ficaram com a avó. Sozinha, Maria de Lourdes Kinep, 65, se desdobra para dar conta dos netos e deixar a filha trabalhar tranquila. “Em Belo Horizonte, eu não tinha oportunidade. É muito pai de família desempregado. Se eu ficasse, só conseguiria dar a eles o básico do básico”, conta.

O coordenador da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo, explica que é comum o desemprego ser maior na região metropolitana, e que isso cresce na crise econômica. “Muita gente que veio para trabalhar perdeu o emprego. São pessoas com menor nível de escolaridade, muita gente dispensada de obra ou chão de fábrica. No interior, a pressão é menor. Por isso, muitos voltam para procurar uma casa de parente ou um custo de vida menor”, justifica.


Quem fica tem que mudar a vida

Um emprego fora de Belo Horizonte virou a vida da professora Maria Luiza Pedrosa, 35, de cabeça para baixo. Quem se mudou foi o marido, que está trabalhando há seis meses em São João del Rei. Mas, sem poder dividir as tarefas cotidianas, como fazer para casa das crianças, levá-los à aula de capoeira e até mesmo ir ao supermercado, ela teve que reformular toda sua rotina. E, para tudo dar certo, outras pessoas, como as colegas de trabalho e a ajudante, também tiveram que mudar a vida.

“Minha ajudante chegava às 8h, horário que ele saía de casa. Agora, ela tem que chegar às 6h30, porque é a hora que eu saio. Dou aulas em Nova Lima três dias por semana. E, para conseguir buscar os meninos na escola, as outras professoras também mudaram seus horários. Toda quinta-feira tenho reunião à noite. Então, conto com a ajuda de alguém para buscá-los”, diz ela.

Além do cansaço, a carga emocional é grande. “Antes, dividia qualquer decisão, por mais simples que fosse”, afirma. Mas, a família está se adaptando. Num fim de semana, ele vem; no outro Maria Luiza vai, com Clarice, 7, e Bernardo, 5. “Tudo vai mudando. As crianças estão mais independentes. Mas é uma loucura. Não consigo nem ir à esquina sem ter que montar um esquema”, diz.

Qualidade de vida. Maria Luiza passou a dormir menos. Quando as crianças dormem, ela ainda tem muitas coisas para fazer. Para sair a tempo de buscá-las, não faz horário de almoço.

Banco recebe currículos de todo canto

O banco Mercantil do Brasil, que está inaugurando novos pontos de atendimento no interior de Minas Gerais e de São Paulo, anunciou 30 vagas. Em menos de um mês, recebeu mais de 7.000 currículos de todos os cantos do Brasil. “Nosso objetivo é priorizar quem já mora na cidade. Mas temos visto com clareza que as pessoas estão dispostas a se mudar, para buscar alternativas de emprego”, afirma o gerente de capital humano, Márcio Ferreira.

Neste ano, o banco abriu aproximadamente cem vagas, cerca de 80% no interior. A seleção ainda está aberta. “As vagas são para atendimento na agência. O salário é de R$ 2.000, mais vale-refeição e plano de saúde”, informa Ferreira. Os interessados podem se inscrever pelo site da instituição financeira.
O Tempo

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