A janela de transferências internacionais mais bilionária da história foi encerrada nesta quinta-feira nos principais mercados europeus com novos recordes e uma constatação: o futebol, como indústria, entrou em uma nova fase planetária. No total, mais de 1,6 mil contratos somaram pelo menos 4,2 bilhões de euros (mais de R$ 15,7 bilhões). E hoje os clubes espanhóis ainda poderão anunciar novas transferências, incrementando a conta final.
Apenas o Paris Saint-Germain gastou um volume inédito de seus recursos para garantir Neymar por 222 milhões de euros (R$ 832,5 milhões ao câmbio desta quinta-feira) e, nas últimas horas da janela, fechar o empréstimo de Kylian Mbappé, com a opção de comprá-lo do Monaco em 2018, por mais 180 milhões de euros (R$ 675 milhões). Juntos, os 11 titulares do clube francês estariam avaliados em 640 milhões de euros (R$ 2,4 bilhões).
Mas o Paris Saint-Germain não foi fato isolado no mercado. De acordo com a agência Deloitte, a Premier League (Campeonato Inglês) já havia gasto 1,25 bilhão de euros (quase R$ 4,7 bilhões) em 2016 e neste ano o valor foi amplamente superado, com pelo menos mais de 1,6 bilhão de euros (R$ 6 bilhões). O montante recorde é três vezes superior ao que os clubes ingleses gastaram há 10 anos. Só o Manchester City destinou agora mais de 155 milhões de euros (R$ 581,2 milhões) para fortalecer o seu elenco.
Este ano, os clubes teriam usado cerca de 25% de sua receita anual apenas nesta janela de transferências. Diante do gasto generalizado, a inflação foi uma das maiores já registradas. De acordo com a Deloitte, jogadores que valiam 10 milhões de euros (R$ 37,5 milhões) em 2016 passaram a ser negociados por 30 milhões de euros (R$ 112,5 milhões).
O que também surpreendeu é que não apenas os grandes clubes destinaram volumes importantes de recursos para se reforçar. Times de médio porte e até pequenos foram obrigados a abrir seus cofres.
CRÍTICAS - Rapidamente, lendas como os treinadores Antonio Conte e Arsène Wenger alertaram que o mercado está "fora da racionalidade". Mas analistas e clubes na Europa estimam que existem diversos motivos para a explosão nos valores dos jogadores. Acreditam que isso ocorre por conta da transformação da indústria do futebol.
Além disso, os clubes deixaram de contratar apenas atletas. Eles são, também, plataformas de marketing que contam com mais seguidores em redes sociais que clubes inteiros. A própria contratação de novos craques passou a ser assunto não apenas de treinadores. Banqueiros, matemáticos, marqueteiros, investidores, analistas e outros também opinam.
Em clubes como o Liverpool, Arsenal, Manchester City e Bayern de Munique, a direção criou equipes de analistas para examinar o impacto comercial e em campo da contratação de diferentes jogadores. Até agremiações menores passaram a contratar consultorias, como a 21st Club, para avaliar quais atletas poderiam fazer a diferença.
No caso de Neymar, os estudos apontam que ele representou 40% da renda anual do Paris Saint-Germain. Ainda assim, o clube acredita poder conseguir novos acordos comerciais com a sua presença. Estudos foram feitos para tentar determinar quantos pontos a mais o clube somaria no Campeonato Francês e um dos cenários apontou para alta de sete pontos em comparação com a última temporada.
EXPLOSÃO FINANCEIRA - Mas se as contratações deixaram de ser uma questão apenas do desejo de um cartola folclórico, isso ocorreu principalmente por conta da explosão financeira que o futebol passou a viver. No caso da Premier League, os contratos de TV chegam a 5,5 bilhões de euros (R$ 20,6 bilhões). Entre 2012 e 2015, os valores dos acordos subiram 71%.
Nos demais campeonatos, os valores ainda são inferiores. Mas ganham rapidamente terreno. Na Espanha, os direitos para La Liga já somam 2,6 bilhões de euros (R$ 9,7 bilhões). Na França, com a chegada de Neymar, a esperança é de acordos no valor de 1 bilhão de euros (R$ 3,75 bilhões).
Diante de uma exposição global, os acordos de patrocínio também ganharam uma nova dimensão. A Chevrolet já paga 67 milhões de euros (R$ 251,2 milhões) a cada ano ao Manchester United, enquanto que o contrato da Nike com o Barcelona atinge 150 milhões de euros (R$ 562,5 milhões). Mais recentemente, clubes têm vendido espaço para publicidade até nas mangas, enquanto outros revelaram ao Estado que, semanalmente, recebem propostas tentadoras de multinacionais de várias partes do planeta.
Outro aspecto na contabilidade do futebol é o desembarque de magnatas nas finanças dos clubes. Os dois que mais gastaram neste ano foram Manchester City e Paris Saint-Germain, um deles comandado pelo xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, de Abu Dhabi, e outro pelo xeque Nasser Al-Khelaifi, do Catar.
Mas, neste ano, parte da inflação também esteve ligada à injeção de recursos de investidores chineses. Se antes Pequim se limitava a importar craques para seu campeonato, agora também se dedica a comprar clubes inteiros. Li Yonghong, por exemplo, gastou 300 milhões de euros (R$ 1,250 bilhão) para ficar no controle do Milan. E o clube informou 141 milhões de euros (R$ 528,7 milhões) investidos em reforços.
O Tempo
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