Eles fazem, hoje, até “reaproximação de casais”. Vigiam o ex para descobrir como ele pode se apaixonar por você novamente e te falar quando ele estiver na balada para promover um “encontro casual”. Com essa turma no mercado não dá para acreditar nem no acaso, e é bom desconfiar da própria sombra, pois se tiver culpa no cartório, eles descobrem. Os detetives particulares diversificam cada vez mais o leque de atividades, são muito demandados e estão prestes a ter a profissão regulamentada por lei.
O Senado aprovou em março o projeto de lei nº 106, de 2014, que regulamenta a atividade de “coleta de dados e informações de interesse privado”, estabelecendo competências e exigindo curso de formação. A proposta aguarda sanção presidencial e é bem vista por muitos que estão na área, já que hoje qualquer profissional autônomo pode prestar esse serviço.
O reconhecimento vem após uma grande expansão dessa profissão no mercado. Agências do ramo estimam que haja pelo menos 50 mil atuando como autônomos em todo o país – com a regulamentação da profissão, haverá um cadastro mais fidedigno, aumentando também a segurança de quem contrata o serviço.
Aquele detetive com lupa e chapéu, como o personagem atrapalhado Mário Fofoca, da novela “Elas Por Elas” (1983), deu lugar a profissionais discretos – muitos não aceitaram nem dar entrevistas –, que usam microcâmeras escondidas nos mais diversos objetos e que, na frente de um computador com softwares avançados, pesquisam pistas, rastros e paradeiros, relatando histórias inimagináveis.
Serviços. Ainda há muita procura relacionada a casos conjugais – para comprovar traições –, mas as missões dos detetives hoje vão desde a busca de pessoas e animais desaparecidos; pais que querem fiscalizar filhos adolescentes e o uso de drogas; monitoramento de empregadas domésticas e cuidadores de idosos e crianças; e empresas que querem verificar irregularidades de funcionários e concorrentes.
Os detetives estão tão acostumados a averiguar a vida de todos que, ao serem entrevistados pela reportagem, três deles ficaram desconfiados de trote, faziam perguntas e prometiam rastrear a ligação. Mas quando começamos a entrar nesse universo de perseguição, escutas e filmagens, a impressão é que não tem mesmo jeito de não ficar cabreiro.
Flagrante. Na caça à traição, eles utilizam rastreadores quase imperceptíveis colocados nos carros dos supostos traidores, filmam com câmeras em bonés, óculos e chaveiros sentados ao lado do provável casal de amantes e costumam apresentar o flagrante em duas semanas – um serviço que não sai a menos de R$ 4.000. Antigamente, sem tanta tecnologia, demorava o dobro do tempo, lembra a detetive Patrícia Karany, 42, no ramo há mais de 20 anos. Ela comanda atualmente uma equipe de dez investigadores na cola dos infiéis.
Mas a “prova legítima ainda é a vigilância, é seguindo os passos”, ressaltou o detetive Wilson Teixeira, 44, que começou na carreira aos 21 anos. Para os clientes “conjugais”, ele diz que tem uma mulher que trabalha com ele que é “muito boa nisso”, porque Teixeira gosta é de procurar desaparecidos. “Já encontrei 1.263 pessoas nesses 23 anos, filhos procurando pais biológicos, mãe que fez doação do filho e se arrependeu. É muito satisfatório, mas tem gente que busco até hoje”, afirma. Por uma pesquisa rápida na internet, ele cobra R$ 350 e, nos casos mais trabalhosos, R$ 6.000 por 80 horas de trabalho, mas diz que tem gente cobrando até R$ 60 mil. E, segundo ele, cliente nunca falta.
POLICIAIS
Polêmica. A regulamentação, segundo o texto de aprovação da lei, busca também diferenciar profissionais de áreas afins, especialmente das polícias.
Ajudantes. Os policiais, porém, costumam fazer extra como detetives particulares, segundo fontes entrevistadas, e auxiliam no processo de investigação repassando informações da polícia. Há os que começam como detetives e entram para a polícia depois, pois se interessam em ser investigadores criminais.
CURSO
Tempo de formação é questionado
O salário médio de um detetive particular gira em torno de R$ 7.000, conforme profissionais da área. Mas não basta visar salário, tem que gostar de investigar a vida alheia por 24 horas e ter aptidão. Na internet, é possível encontrar vídeos que ensinam técnicas de abordagens. Com isso e bons equipamentos, já tem muitos atuando como investigadores. Há também cursos online e apostilas. Mas sem regulamentação não há regras, e há vários “oportunistas” na função. A proposta aprovada no Senado sugere um curso de formação de 600 horas.
“É um exagero e não deixa claro como deverá ser feito o curso”, destacou o supervisor de uma agência nacional que tem 600 detetives e pediu anonimato. Ele lembrou ainda que, para a elaboração do projeto, empresas como a dele não foram consultadas. “Não sei se (a lei) é para delimitar ou limitar algum tipo de atuação”, questionou.
“(A profissão) não comporta mais amadores ou aventureiros”, diz trecho do relatório que aprovou a proposta no Congresso. (JS)
O Tempo
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