domingo, 25 de setembro de 2016

Estudantes querem ser ouvidos sobre reforma do ensino médio

O tempo

EDUCAÇÃO

PUBLICADO EM 25/09/16 - 03h00




Alunos da rede pública e particular têm dúvidas sobre mudanças e reclamam da falta de diálogo




Brasília. Principais atingidos pela reforma do ensino médio, estudantes têm muitas dúvidas sobre a Medida Provisória 746/2016, que institui o Novo Ensino Médio. Eles concordam que a etapa de ensino precisa de melhorias, mas questionam aumento da carga horária e a necessidade do aluno decidir qual área vai estudar ainda no colégio.
“Vão retirar disciplinas? Eu sou contra. São conteúdos como sociologia e filosofia que estimulam o pensamento crítico. Eu vou poder escolher o que vou estudar? Vão ter várias opções de ensino técnico? Se forem poucas, não vai adiantar”, diz Jonathan Alves de Oliveira, 18, estudante do 2º ano do Centro de Ensino Médio Setor Oeste, escola pública de Brasília.

Já Beatriz de Souza Bim, 15, aluna do 1º ano na escola da rede particular Lourenço Castanho, na zona Sul de São Paulo, diz não concordar com o afunilamento das matérias que pode acontecer a partir da MP. “Está desvalorizando outras áreas de conhecimento. Também acho que muitos alunos não vão escolher o que querem para o futuro, mas seguir as ‘panelinhas’. Estamos em uma fase da vida em que as amizades valem mais do que tudo”.

“Acho bastante preocupante e um retrocesso uma reforma ser feita dessa forma”, diz Luiz Felipe Costa, 19, estudante do 3º ano, da Escola Estadual de Ensino Médio Arnulpho Mattos, no Espírito Santo, que participou das ocupações no Estado. “Hoje o ensino médio é velho e falido, não contempla os estudantes. Eu acho importante fazer uma reforma, mas isso deveria ser amplamente debatido”, acrescenta.

Protestos marcados. Estudantes de escola pública e militantes de entidades estudantis já falam em fazer protestos contra as reformas propostas pelo governo federal. Um evento no Facebook, com o título “Ato contra a reforma do ensino médio – São Paulo” já tem 1.600 pessoas confirmadas e está marcado para as 18h de segunda-feira, no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Também estão previstos atos nacionais no dia 5 do próximo mês, segundo a presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes. “Os estudantes não se sentiram contemplados pela reforma”, afirma ela.

Entenda. A MP torna a carga horária mais flexível e dá maior autonomia aos Estados para decidirem a organização da rede. De acordo com a medida, 1.200 horas, metade do tempo total do ensino médio, serão destinadas ao conteúdo obrigatório definido pela Base Nacional Comum Curricular, que ainda será discutida.

No restante da formação, os alunos poderão escolher seguir cinco trajetórias: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
Modelo atual
Ensino. O modelo atual do ensino médio também não agrada. Pesquisa divulgada essa semana mostrou que apenas um em cada dez estudantes de 13 a 21 anos diz estar satisfeito.

OPINIÃO

Evasão escolar pode reduzir com mudança

De acordo com o especialista em educação José Francisco Soares, a flexibilização do ensino é necessária, ainda que as escolas não estejam preparadas para adotarem as mudanças. “O ensino médio precisa de uma intervenção porque trata-se de um período de transição. Mas as escolas não estão preparadas. O mesmo aconteceu quando as universidades adotaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como método de ingresso. Demorou um tempo para perceber que as mudanças foram positivas”, defende.

O especialista também ressaltou que a flexibilização pode diminuir o grande número de alunos que não terminam a escola ou não fazem o Enem no último ano. “O número de evasão é assustador e algo tem que urgentemente ser feito para mudar isso. Um caminho é entender que o ensinamento deve ser diferente em cada área. Existem conteúdos que todos precisam saber, mas a física que uma pessoa de humanas aprende deve ser diferente de alguém que escolhe as exatas”.

A medida, que também propõe a expansão do ensino integral, agrada o economista e especialista em educação Cláudio Moura Castro. Ele observa que o modelo já é adotado em vários países e defende que os alunos devem decidir o que será obrigatório estudar. “Eles têm uma carga de disciplinas muito grande e isso prejudica a assimilação de conteúdos. Direcionar o que eles devem aprender, a partir da escolha deles, vai fazer com que o aprendizado seja facilitado”, afirma.(Mariana Alencar/Especial para O TEMPO)

MINIENTREVISTA

José Renato Nalini
cretário da Educação de São Paulo
O sr. é favorável à Medida Provisória? 

É uma medida que resulta de uma grande discussão, antiga. Todo mundo tem uma noção, é um dos poucos consensos na educação que o ensino médio está frágil. O aluno não encontra interesse. Era preciso mexer. Foi uma medida corajosa.

Como as escolas estaduais atenderão a esse novo modelo de currículo flexível?

Isso está em aberto, agora é que vamos começar a discutir. Dá para usar todo o equipamento, não só o nosso. Podemos usar equipamentos do município, porque os dois planos, tanto nacional quanto estadual (planos de educação), incentivam a parceria. Vamos poder usar recurso (espaço) de escolas privadas. O Sistema S, então, vamos aproveitar tudo. Nada indica que tenhamos de deixar o aluno no mesmo espaço físico. Vamos poder ter uma logística de reunir aqueles que escolheram uma determinada área e colocar em outro prédio os que escolheram outra.

O sr. acredita que pode haver resistência dos estudantes ou novas ocupações nas escolas? 

Acredito que é alguma coisa em benefício do jovem, que é aquele que queria ser ouvido. Isso é uma resposta a quem queria ser ouvido. Não há motivo (para ocupação) porque essa medida é justamente uma resposta ao que eles queriam.
O tempo

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