terça-feira, 30 de junho de 2020

Feitos para a comunidade pratiana se orgulhar

Periferias são mais vulneráveis ao coronavírus


Informalidade e desigualdade urbana sãos as principais causas

Escuta-se desde o início da pandemia no Brasil, quais são as medidas de prevenção recomendadas para conter o novo coronavírus – usar máscara e álcool em gel, lavar as mãos e o rosto com frequência e praticar o distanciamento social. Mas nem todas essas práticas estão ao alcance de moradores de comunidades e periferias das cidades.
Grande parte desta população tem dificuldades de acesso aos produtos que garantem a desinfecção. Ficar em casa muitas vezes não é uma opção, por trabalharem pelo sustento diariamente, além disso, as moradias geralmente têm poucos cômodos e o abastecimento de água é intermitente.
“Várias são as dificuldades para a contenção, em síntese podemos dizer que a impossibilidade de manter o distanciamento social, a falta de uma renda fixa ou até mesmo dos benefícios para a sobrevivência, são as principais dificuldades para controlar a doença na periferia”, explica Cristiano Caveião, doutor em enfermagem e coordenador da área da saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.
O professor reforça que mesmo com dificuldade é importante manter ações de prevenção. “Manter hábitos de higienização frequente das mãos com água e sabão, evitar aglomerações e saídas de suas residências, deixar os ambientes ventilados e também intensificar a higiene da residência”, comenta.

Mulheres são as mais vulneráveis
No fim de abril, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) recomendou, em um relatório, que os governos adotem políticas de assistência específicas para os segmentos mais vulneráveis socialmente, principalmente mulheres residentes em periferias e favelas.
Segundo o levantamento elas necessitam desta assistência uma vez que formam a linha de frente do trabalho de cuidado não remunerado de familiares e amigos. Destacou também que o grupo é predominante em atividades remuneradas com maiores riscos de contágio — as mulheres correspondem a 80% e 90% das enfermeiras, técnicas de enfermagem e cuidadoras, além de faxineiras e domésticas.

Evolução da pandemia
Para Caveião, a pandemia ainda não evoluiu em todo o país, muitas pessoas precisarão dos serviços de saúde e não encontrarão recursos nestes locais para o atendimento necessário. “Muitos não estão levando a sério o isolamento e transitam sem nenhum cuidado, outros saem de suas residências porque são obrigados, para conseguirem o seu sustento e de sua família. Viveremos em períodos alternados de distanciamento social e retorno das atividades”, afirma.

Fui demitido durante a pandemia, quais os meus direitos?

Otavio Romano de Oliveira, mestre em Direito e Processo do Trabalho e sócio do Barbosa Advogados


O avanço da Covid-19 no Brasil já provocou um efeito devastador no mercado de trabalho, desencadeando a demissão de milhares de trabalhadores.

Muito embora estejamos em meio ao estado de calamidade, e até mesmo considerando os benefícios propostos pelas Medidas Provisórias 927 e 936, a fim de proteger o emprego e a renda dos trabalhadores, cabe destacar que, o empregador pode demitir qualquer empregado sem justa causa no momento que achar adequado, exceto quanto àqueles detentores de estabilidade no emprego.

Nesse contexto, houve um aumento significativo no número de reclamações trabalhistas ajuizadas pelos empregados neste período. Segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST), as açòes trabalhistas relacionadas à doença tiveram alta de 527% no mês de abril, em relação a março.

Elencamos aqui os principais direitos pleiteados pelos trabalhadores na Justiça do Trabalho:

1 – Verbas rescisórias na dispensa SEM JUSTA CAUSA

O empregado dispensado tem direito a receber:saldo salarial, aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, que poderá ser de até 90 dias, 13º salário proporcional, férias integrais e proporcionais, acrescidas de 1/3, multa de 40% sobre o saldo do FGTS, levantamento do saldo do FGTS e possibilidade de recebimento de parcelas de seguro desemprego.

Ainda, caso o empregado dispensado deixe de receber a integralidade das verbas rescisórias no prazo de 10 dias de sua dispensa, deverá receber uma multa no valor de 1 salário, nos termos do artigo 477 da CLT.

2 – Verbas rescisórias em razão do término do contrato de trabalho por “comum acordo”

A Reforma Trabalhista trouxe a possibilidade de rescindir o contrato de trabalho por meio de acordo entre empregado e empregador. Nesse caso, as verbas trabalhistas devidas são: saldo salarial, aviso prévio de metade do período que teria direito, 13º salário proporcional, férias integrais e proporcionais, acrescidas de 1/3, multa de 20% sobre o saldo do FGTS, levantamento de apenas 80% sobre o saldo do FGTS. Nesse procedimento, fica excluída a possibilidade de recebimento de parcelas de seguro desemprego.

3 – Garantia provisória no emprego em razão da MP 936/2020

O empregado que anuiu o programa de suspensão do contrato de trabalho ou redução de jornada/salário e recebeu o benefício emergencial de preservação do emprego e renda, terá preservado seu contrato de trabalho pelo mesmo período que teve seu contrato suspenso ou com redução de salário, sob pena de ser indenizado.

4 – Horas extras (banco de horas)

A MP 927 trouxe uma possibilidade para as empresas instituírem o banco de horas negativo, que nada mais é do que o empregado deixar de trabalhar por determinado período, receber o salário normalmente e, posteriormente, trabalhar além da jornada normal, no máximo em até 2 duas, para compensar o saldo devedor de horas.

Porém, o empregador deve pensar bem quanto à introdução do banco de horas negativo, vez que não há a possibilidade nenhuma de descontar o saldo de horas em caso de rescisão do contrato.

5 – Adicional de Insalubridade (empregados na linha de frente)

Estamos vivendo uma pandemia sem precedente histórico, de uma doença ainda sem expectativa de cura, com taxa de letalidade alta, gerando risco de contaminação em diversos setores e ambientes de trabalho.

O artigo 192 da CLT garante ao empregado um adicional de insalubridade em grau baixo, médio e máximo, quando o trabalho é exercido num ambiente acima dos limites de tolerância, estabelecido pelo Ministério do Trabalho.

Dessa forma, segundo alguns Juízes, é provável que a Justiça do Trabalho confira o pagamento de adicional de insalubridade em grau máximo a todos os empregados que exercem suas atividades em serviços considerados essenciais.

6 – Vínculo de Emprego e pejotização

Durante a pandemia, houve um crescimento acentuado no número de candidatos que aceitaram a contratação como Pessoa Jurídica (PJ), resultando custos menores para as empresas.

Nesse caso, em vez do empregado ser registrado e receber todos os benefícios da CLT e da Convenção Coletiva de sua categoria, se vê obrigado em constituir uma empresa e emitir nota fiscal, a fim de prestar o serviço para a respectiva empresa. O nome que se dá para esse procedimento é pejotização.

Essa modalidade de contratação retira dos trabalhadores direitos como: 13º salário, férias + 13, FGTS, entre outros.

No entanto, essa informalidade pode resultar em sérias contingências no futuro, pois o empregado poderá ajuizar ação trabalhista pleiteando o reconhecimento do vínculo de emprego e, consequentemente, a indenização de todos os valores que deixou de receber, desde que preenchidos os requisitos do artigo 3º da CLT, tais como pessoalidade, onerosidade, habitualidade e subordinação.

AZ Brasil Comunicação 
Fernando Zeferino 
Gisela Vendramini 

Lockdown e liberdade de locomoção

Débora Veneral
Karla Knihs 

Palavras repetidas à exaustão e fora de contexto perdem seu significado. A palavra da moda agora – e que muitas vezes tem sido empregada erroneamente e esvaziada de seu sentido original – é lockdown. O termo pode ser traduzido como “confinamento” e tem sentido diferente dos conceitos de “isolamento social” e de “quarentena”.
Quarentena, segundo a Lei 13.979/2020, é restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível propagação de doenças. É, portanto, medida de prevenção de contágio. Após exposição a COVID-19 recomenda-se 14 dias de quarentena, pois esse é prazo máximo de incubação do vírus.
Isolamento social, por sua vez, é a separação de pessoas doentes ou já contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus. Pode ser feito em casa, ou, em casos mais graves, no hospital.
Por fim, o lockdown deve ser hoje traduzido como o confinamento forçado pelo Estado, da população em casa, um isolamento social rígido, em que há o cerceamento da liberdade de locomoção dos indivíduos, sendo permitido deslocamento, via de regra, apenas para desempenho de atividades essenciais ou compra de itens básicos. Assim, o lockdown se trata de cercear o direito de ir e vir, Direito Fundamental protegido pela Constituição Federal que, em seu art. 5º afirma ser livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
É possível que haja restrição a Direitos Fundamentais em duas hipóteses, segundo a Constituição: decretação de estado de defesa ou de estado de sítio. Frise-se que, no Brasil, se decretou apenas estado de calamidade pública. Assim, em princípio, atos dos Poderes Executivos de Estados e municípios cerceando a locomoção são inconstitucionais. O STF, contudo, decidiu recentemente que Estados e Municípios podem restringir a locomoção das pessoas – ou seja, decretar lockdown – sem o aval do Governo Federal. Trata-se, portanto, de uma discussão que envolve o embate entre direitos fundamentais: direito à saúde, direito de ir e vir e, principalmente, direito à liberdade.
No entanto, em tempos de pandemia é de se lembrar que o interesse coletivo deve prevalecer ao individual, afinal o Estado é o maior responsável pela vida, que uma vez perdida, não há lockdown, quarentena ou isolamento que possa restabelecê-la.

Autoras:
Débora Veneral é advogada e diretora da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança do Centro Universitário Internacional Uninter.
Karla Knihs é advogada e professora do Curso de Direito do Centro Universitário Internacional Uninter.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

E a ciência?

Benisio Ferreira da Silva Filho
Vinícius Bednarczuk de Oliveira 
Ivana Maria Saes Busato

Durante este período de pandemia, muito tem se escutado falar sobre a Organização Mundial da Saúde (OMS), suas recomendações e posições frente a Covid-19. Vamos entender um pouco melhor as responsabilidades compartilhadas.
Em 2005, foi aprovado o Regulamento Sanitário Internacional (RSI), entre a OMS e seus Estados membros. Este regulamento define responsabilidades frente aos eventos inusitados de saúde pública, cabendo aos estados membros desenvolver, fortalecer e manter as capacidades exigidas no RSI e a mobilizar os recursos necessários para colaborar ativamente entre si e com a OMS, em conformidade com as disposições regulamentadas.
Alguns países, entre eles o Brasil, tem cogitado deixar a OMS neste período, devido a divergências de posições frente a esta crise. Semanas atrás, a organização fez uma recomendação, e depois voltou atrás no seu posicionamento, motivos que fizeram a população, líderes e a comunidade científica questionarem a posição da OMS.
No RSI, a OMS tem responsabilidade de consolidar as informações, implementar medidas, promover a cooperação para a atualização de suas normas e padrões e coordenar as atividades, com o objetivo de garantir a aplicação de medidas para a proteção da saúde pública e o fortalecimento da resposta mundial quanto à propagação de doenças no âmbito internacional.
O RSI estabelece a instituição de um Cadastro de Peritos, por indicação de estados membros e organizações intergovernamentais, que definem, estudam e buscam as melhores medidas a serem adotadas. Para falarmos do papel da OMS neste momento, precisamos também entender qual é o papel da ciência.
É fascinante aquela imagem do cientista de cabelos arrepiados, jaleco branco surrado, vários recipientes com líquido borbulhante e um ar de que tudo é possível. Saibam que isso não é ciência. É fantasia! Sim, cientistas usam jaleco em seus laboratórios e sabem muito, sobre um determinado assunto ou área, mas não são donos da verdade. Cientistas sempre buscam a verdade.
A ciência tem como princípio o querer saber, e para isto, o cientista faz perguntas: Por quê? Como? Quando? Com que frequência? Qual intensidade? Entre outras que irão apresentar diversas respostas que serão postas a prova, mostrando que não é um acontecimento ao acaso. Enfim, na ciência busca-se através das respostas, da observação e da análise do que foi feito, verdades que podem ou não confirmar premissas prévias. 
O que você espera da ciência? A cura para a Covid-19?
A ciência te dará a cura, porém, por ser algo muito novo, ela ainda está na fase do “como?” “quando?” “com que frequência?”. Vidas estão sendo perdidas e infelizmente não há como acelerar mais os trabalhos, mesmo que recordes tenham sido batidos nos últimos três meses. Genoma sequenciado, formas de diagnóstico determinadas, mecanismo de infecção descrito, inúmeros grupos de pesquisa trabalhando em novos fármacos, empresas também com o mesmo investimento e por fim, sim, teremos rapidamente uma vacina.
No momento, o principal problema é o imediatismo, o “fakevírus” de redes sociais e o excesso de informações desnecessárias e imprecisas. Neste momento, melhor seria uma ampla campanha informando à população: “parem, protejam-se, estamos trabalhando por vocês, assim que conseguirmos definir o medicamento e produzir a vacina, avisamos o quanto antes, assinado, A Ciência”. Seria manchete nos dois primeiros dias. E depois? As pessoas e a mídia teriam paciência para esperar o trabalho da ciência?
Os últimos acontecimentos sobre a produção científica, OMS e profissionais que seguem e os que não seguem a ciência, deixaram a população com pulgas atrás da orelha. Para alguns, a ciência perdeu a credibilidade. Para outros, a coisa está “enrolada” demais. Isso mostra que as pessoas não aprendem sobre ciência na escola ficando restrita aos que entraram no ensino superior. Por não ser ainda uma realidade para muitos, a grande população não entende como ela funciona.  Se existe um problema, este não é da ciência e sim das pessoas.
A dinâmica científica funciona assim: depois de uma pergunta ou hipótese, iniciam-se os testes e experimentos; depois os resultados devem ser analisados; os cientistas chegam a uma conclusão, publicando uma comunicação científica do seu estudo e resultados em uma revista; a revista apresenta ao mundo o que foi pesquisado; o mundo agora vai analisar e tentar reproduzir; neste momento podem surgir outros cientistas contestando o estudo mostrando que houve falhas ou todos mostram que estão de acordo e que de fato algo novo surgiu.
Publicações são contestadas todos os anos, faz parte esse alto nível de exigência no que é produzido e isso mantem o controle da qualidade de produção científica. Muito foi comentado nos últimos dias sobre a publicação da Lancet e o pedido de desculpas dos cientistas. Só para deixar claro, isso é ciência. Nós cientistas, não torcemos pelo grupo A ou pelo grupo B, queremos neste momento que apresentem algo eficaz para nosso problema, se foi mostrado que houve erro, de forma digna usa-se o “desculpe” e a ciência continua seu trabalho.
O grande público, por não conhecer como funciona, de forma equivocada culpa qualquer coisa, inclusive a ciência. Usa seus smartphones para dispersar informações falsas, inúteis e nada científicas. Seu smartphone é fruto da ciência, lembre-se disso! As pessoas querem algo simples, fácil, eficiente e isso não é obtido pela ciência. Será esse o motivo de tanta desconfiança e bagunça ultimamente?
A OMS usa a ciência para atender seus objetivos, que são melhorar a equidade na saúde, reduzir os riscos, promover estilos de vida e ambientes saudáveis ​​e responder aos determinantes subjacentes da saúde. Tem um papel fundamental neste momento, reunindo informações, colaborando com pesquisas, entre outros feitos para que o mundo possa enfrentar essa pandemia. Ressaltamos que estados membros também estão falhando quando há competição por insumos essenciais, quando não realizam vigilância adequada de seus países, e não fornecem informações de forma transparente. Percebemos que será necessária uma revisão do RSI com a Covid-19.
Este é um momento em que tudo pode virar uma bola de neve, os ignorantes usam a ciência como escudo, as pessoas acreditam nos ignorantes, eles cometem erros e depois cobram da ciência. Já temos problemas demais pela nossa precária educação, se continuarmos apedrejando a ciência injustamente, iremos incentivar cada vez menos futuros jovens a entrar e contribuir. Todos perdem, inclusive a ciência!

Autores:
Benisio Ferreira da Silva Filho é doutor em Biotecnologia, coordenador do Curso de Biomedicina do Centro Universitário Internacional Uninter.
Vinícius Bednarczuk de Oliveira é doutor em Ciências Farmacêuticas, coordenador do Curso de Farmácia do Centro Universitário Internacional Uninter.
Ivana Maria Saes Busato é doutora em Odontologia, coordenadora dos Cursos de Tecnologia em Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública do Centro Universitário Internacional Uninter.

domingo, 28 de junho de 2020

Por que emitir moeda em tempos de pandemia?

Françoise Iatski de Lima
Recentemente, o ministro da Economia admitiu que o Banco Central (BC) poderá emitir moeda e colocar em circulação novas cédulas e moedas para enfrentar a crise financeira e social causada pela pandemia do novo coronavírus. Isso não significa que o governo irá imprimir mais cédulas e moedas e simplesmente colocar em circulação, mas sim permitir que o BC compre títulos emitidos pelo TN e faça um crédito em valor equivalente em conta única da instituição, gerando moeda por meio eletrônico. A ideia é o TN usar o recurso para pagar dívidas por meio de transferências. 
Somente o BC pode emitir moeda e somente o TN pode emitir títulos e pagar as despesas do Governo Federal. No entanto, o BC não pode emprestar dinheiro ao TN. E devemos lembrar que o objetivo na compra ou venda de títulos públicos federais é regular a oferta de moeda e ou a taxa básica de juros da nossa economia, a chamada Selic. Outra questão a ser observada é a existência do Sistema de Metas de Inflação. Como não é possível determinar a quantidade e o preço do dinheiro da economia ao mesmo tempo, o BC deve regular a Selic. Assim, o BC compra e vende títulos, regulando a quantidade de dinheiro para manter a Selic próximo ao que foi definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Dadas as explicações, o melhor a se fazer no momento é financiar os gastos extraordinários da pandemia e permitir o financiamento do Tesouro pelo BC. E claro, a redução de juros e a mudança na legislação poderão viabilizar essa medida. Opositores afirmam que existe o risco de descontrole inflacionário, como aconteceu nas décadas de 80 e 90. No entanto, observamos que a contração da economia poderá ser tão nefasta que o risco de inflação se torna pequeno devido à falta de demanda na economia. Além disso, a autoridade monetária tem espaço para expandir a base monetária e refazer a economia. 
A taxa de juros deve mesmo diminuir, dando possibilidades ao TN de vender os Títulos ao BC que, então, entregaria moeda ao TN, que financiaria seus gastos. No longo prazo, pode acontecer uma recompra desses títulos, o que seria mais favorável que um novo endividamento. 
A competência do Governo de emitir moeda traria benefícios sociais, apropriados para reintegrar as pessoas ao ciclo econômico. Alguns governos como dos Estados Unidos e Japão, já emitiram moeda para proteger suas economias, garantindo que a população mais vulnerável fosse amparada pelo Estado. No nosso caso, garantiríamos o auxílio emergencial de R$ 600,00 a brasileiros de baixa renda por três meses. 
É por meio da renda gerada no sistema que as pessoas consomem em lojas, que, por sua vez, compram da indústria e esta última encomenda da agricultura. Isso faz parte da recomposição do ciclo mercantil que, dado diversos entraves, tanto econômicos como políticos, está acontecendo de maneira lenta. Ressalto ainda, que esta não é apenas uma crise na saúde, é uma crise também econômica, em que sofrem os mais vulneráveis, e que deve ser enfrentada com uma intervenção muito mais firme do Estado.
*Françoise Iatski de Lima, mestre em Desenvolvimento Econômico, é professora dos cursos de Economia e Relações Internacionais da Universidade Positivo.

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Françoise Iatski de Lima, mestre em Desenvolvimento Econômico, é professora dos cursos de Economia e Relações Internacionais da Universidade Positivo.
Divulgação

"Doação Muda" de livros na Alemanha

Durante o tempo em que morei na Alemanha, tomei conhecimento de uma prática muito interessante: em determinados equipamentos públicos, como praças, parques etc., a prefeitura coloca à disposição da população estantes, nas quais as pessoas podem deixar os livros que já leram, para que outras pessoas peguem...

Fiquei impressionado com essa iniciativa, uma espécie de "doação muda"*, que faz com que a circulação de livros aumente, e, o melhor de tudo, a custo zero...

Perto da residência onde eu morava havia uma dessas estantes, e pensei então em colocar alguns livros que tinha levado para a leitura durante minha permanência. Exitei, pois não sabia se haveria interesse em livros escritos em português. Resolvi porém. arriscar, e coloquei na estante três livros que havia levado, e já terminado de ler...

Para minha surpresa, algumas semanas após ter colocado os livros na estante eles não estavam mais lá...Algum leitor ou alguns leitores de língua portuguesa os haviam levado. Não tenho como saber quem os levou: pode ter sido um ou alguns leitores brasileiros, portugueses, naturais de outro país de língua portuguesa ou mesmo algum alemão ou natural de outro país que tenha português como sua segunda língua...Jamais saberei. O que sei é que essa interessante iniciativa tornou possível que eu compartilhasse, na Alemanha, livros em língua portuguesa.

Abaixo, registro do dia em que coloquei um dos livros na estante.







*utilizo o termo "doação muda" sob inspiração do "comércio mudo" que havia em alguns povos antigos; nessa forma de comércio, um grupo deixava os bens que queria trocar em um local, e então saía. Um segundo grupo vinha e depositava os bens que queria ofertar em troca dos bens ofertados pelo primeiro grupo, depositando-os no mesmo local. Após a saída do segundo grupo, o primeiro grupo voltava e estudava a oferta do segundo grupo; se aceitasse a oferta, pegava os bens ofertados e ia embora; se negasse, pegava os seus bens de volta e ia embora.

Viagem de Trem de Londres para Paris (Eurotúnel)


Viagem de trem de Londres para París, muito emocionante, incrível.
Belas paisagens da janela do trem.
Uma parte da viagem, paisagens da Inglaterra outra paisagens da França.
Em determinado momento da viagem o trem entra num túnel, onde atravessa o canal da mancha.

O Eurotúnel consiste em uma gigantesca obra da engenharia que interliga a Inglaterra à França. Como existe uma barreira geográfica entre os dois países, o canal da Mancha, foi preciso que o túnel fosse construído a 40 metros abaixo desse canal. A distância do Eurotúnel entre os dois países é de 50 km. Essa construção é composta por três túneis paralelos.
O Eurotúnel foi inaugurado em 1994, após oito anos de muito trabalho e um investimento de 16 bilhões de dólares, oriundo da França e da Inglaterra. 

O novo normal pós pandemia: procurando caminhos

Elton Ivan Schneider


Do mesmo jeito que o homem procura a mudança, ele resiste a ela. Esta expressão é atribuída a um dos maiores inventores do século XX, Thomas Edison, que registrou 2.332 patentes de novos produtos durante a sua vida. Na atualidade, podemos chamar de Refratário Digital, característica de quem é capaz de resistir a temperaturas muito altas, resistente a ação física ou química, em suma, um teimoso que não aceita que a tecnologia digital vai impactar os empregos, os negócios, a economia, a sociedade, os relacionamentos e tudo mais que você imaginar.
Termos como Transformação Digital, Indústria 4.0, Sociedade 5.0, Educação 4.0, Competências Digitais, vem sendo utilizados nos últimos 20 anos para demonstrar o impacto e a urgência que deveria ser dada ao uso das tecnologias digitais. Em seu ritmo normal de mudança, o comportamento humano vai sendo mudado aos poucos, muitas pessoas percebem a necessidade de mudança quando já é tarde, quando já foram engolidos, que o digam marcas famosas como Kodak, Bamerindus, Varig, Vasp, Chicletes Ping Pong, sorvetes Yopa. Sem falar em profissões como vendedor de enciclopédia, datilógrafo, acendedor de lampião, telefonistas de operadoras telefônicas, o organizador de pinos de boliche, o operador de telégrafo, reveladores de fotos, entre outros.
Uma tecnologia quando substitui um produto ou uma profissão, exige da pessoa impactada, tanto do profissional quanto do consumidoro desenvolvimento de novas habilidades, que podem ser físicas ou manuais, cognitivas, sócio emocionais ou tecnológicas, para que se possa voltar ao mercado de trabalho e de consumo.
Porém, este é o ciclo normal de transformação social ocasionado pela evolução tecnológica, o que estamos vivendo atualmente é a aceleração da transformação digital, devido a uma variável independente, incontrolável, não planejada e altamente impactante, uma pandemia viral que atinge todas as idades, negócios, economias, sociedade e governos de forma indistinta.
Até aqui, já sabemos como funciona, mas não sabemos ainda como será o futuro pós pandemia, se vamos tentar voltar ao antigo normal, se é que isso é possível, embora seja essa a expectativa de muitos refratários digitais, ou se o novo normal será tão impactante que irá gerar um abalo em nossas vidas maior do que a própria pandemia ao nos colocar em isolamento, distanciamento, separação ou afastamento social, tudo isso para não falar o termo lockdown.
Vamos a uma tentativa de prever possibilidades, diz um ditado árabe que aquele que tenta prever o futuro é um mentiroso, mas com base no que já sabemos sobre o nosso passado e sobre como as inovações tecnológicas impactaram nossas vidas, bem como, no que já vivenciamos na atual pandemia, o que aprendemos e o que teremos de impactos.


Área
Como era
Como está
Como será
Educação Infantil
Recolhe os celulares, tablets e computadores – não são compatíveis com a sala de aula
Usa celulares, tablets e computadores – eles são a sala de aula
Capacita professores e alunos para o uso de tecnologias e metodologias de ensino da era digital
Ensino Superior
Educação a distância – EAD, é para poucos e a qualidade é duvidosa
Ensino Remoto com uso de tecnologias pode salvar o ano letivo e muitas Instituições de Ensino
Vamos parar de discutir modalidades de ensino, para pensar um ensino em todas as suas possibilidades, o aluno é o centro do processo, não a metodologia ou tecnologia
Trabalho em Escritórios e Empresas
Tenho minha mesa, meu computador, meu ambiente de trabalho
Tenho minha casa com computador e acesso à internet para trabalhar
Tenho competências digitais que me permitem realizar minhas atividades profissionais em qualquer local, principalmente remotamente - teletrabalho
Automação
Quanto mais repetitiva, maior a possibilidade de automação
Se existe a possibilidade de automação, está sendo automatizada
A Inteligência Artificial passa a ser a referência para a realização de atividades repetitivas e padronizadas
Marketing
Rádio, TV, Revistas e algumas ações em redes sociais
Tentativa de migração para as redes sociais, sem planejamento, sem estrutura, sem competências digitais
Migração para o Marketing Digital, para as plataformas de e-commerce, para o varejo digital, não estar no meio digital significa estar fora do mercado
Comércio de Lojas Físicas
Lojas Físicas, com estoques e custos altos de operação
Tentativas de re-abrir, de vender digitalmente, de encontrar uma solução
Local de vendas de Experiências de Consumo, como local de demonstração de produtos expostos em plataformas de e-commerce, deverá ser complementada com múltiplos canais omnichannel.
Negócios
A tradição, o escritório, a venda, o marketing, a fabricação e a entrega
O tele trabalho (hoje office), a venda (home office), ações de marketing digital desconexas, a fabricação e a entrega
A StartUp, o e-commerce, a logística reversa, o marketing digital, o tele trabalho (home office), a fabricação automatizada, a logística em múltiplos canais – omnichannel.
Profissões
Busca de um curso superior para chamar de seu, de uma profissão para o resto da vida
Questionamento se minha profissão, se meu emprego irá continuar existindo depois da pandemia e da transformação digital.
Precisaremos desenvolver competências digitais, que nos permitam desenvolver novas competências ao longo da vida, a aprender a aprender, eis a questão.

Você pode estar se perguntando: e a automação das fábricas, do agronegócio, das telecomunicações?
Estes setores continuarão sua saga de transformação digital em qualquer tempo.  A pandemia ao estimular o uso das tecnologias em todos os setores da economia, ajudará no barateamento das soluções tecnológicas, e ao mesmo tempo, reduzirá a resistência dos usuários a produtos e serviços com tecnologia embarcada, como internet das coisas – IOT, intercomunicação de devices (TV + Geladeira + Tablet + Smartphone + Sistema de iluminação de sua casa), a relação preço x custo x facilidade de uso será determinante para as inovações.
Bem-vindos ao futuro da transformação digital pós pandemia, o novo normal, um motivo de pesadelos para os refratários digitais.

Autor: Elton Ivan Schneider é diretor da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter

sábado, 27 de junho de 2020

Feitos para a comunidade pratiana se orgulhar

A Mula Palmeira volta para a fazenda da vargem

Na década de 50, meu avô Tineco tinha uma mula pega, animal resistente, adequado para longas viagens. Nela viajou por toda a região do Prata, Nova Era e de Itabira, terra natal.
Após a morte de meu avô, o animal, que o serviu por longo tempo, teve tratamento especial por parte da família: tio Feliciano, que morava na Fazenda da Vargem, reconhecendo os serviços que Palmeira tinha prestado a meu avô, deu a ela tratamento especial, concedendo-lhe um dos melhores pastos da fazenda. Palmeira havia se tornado um animal de estimação da família.
A atividade leiteira era uma tradição na Fazenda da Vargem, passando de geração para geração. Na década de 50 a fazenda se tornou uma referência na produção de leite e, além disso, produzia arroz, feijão, café, milho, gado de corte e gado de boa raça, também.
A fazenda permaneceu durante um longo tempo sustentando as atividades agropecuárias, se destacando na produção de insumos e na introdução de novas culturas, como a do cacau. Também manteve uma considerável produção de açúcar, que era beneficiado em um engenho movido à água que ali existia. A Fazenda da Vargem acabou por servir de importante entreposto comercial, dada a sua diversificada produção e ao caráter empreendedor de seus proprietários. A alguns metros da sede, integrada aos seus domínios, havia uma antiga estrada de terra que fazia a ligação entre caminhos de tropas, que por ali passavam trazendo e levando mercadorias diversas para as regiões vizinhas. Muitas vezes os cargueiros se encontravam naquele trecho, servindo a sede de ponto de referência aos tropeiros. Possivelmente parte de seu pavimento térreo, além de abrigar outras funções, também funcionava como pouso para estes trabalhadores. Em razão da sua grande expressão na economia da região, a sede da fazenda se tornaria centro de confluência da política. 
Desde a sua inauguração, a Fazenda da Vargem passou por três gerações da família, tendo sido meu avô Tineco seu último dono. Após seu falecimento, a fazenda encerrou suas atividades produtivas.
Na década de 60, em uma de minhas idas à Fazenda da Vargem, meu tio Feliciano me ofereceu a Mula Palmeira. Por ter sido ela um animal de estimação de meu avô, aceitei, com muito gosto, aquele presente do tio Feliciano. Acompanhado do amigo José Helvécio, segui para o Prata no lombo da mula, que, por já estar muito velha e ter uma deficiência no casco da pata esquerda, mancava muito. Além disso, Palmeira parava a todo instante, olhava para trás, em direção à fazenda, demonstrando querer ficar na casa onde tanto tempo tinha vivido. Por isso demoramos muito para chegar ao Prata.
A viagem foi longa e divertida. Saímos da fazenda após o almoço e chegamos ao Prata quando já estava escurecendo.
Quando chegamos ao Prata, meu pai ficou emocionado ao ver Palmeira, pois sabia que ela era o animal de estimação de Tineco. Em tom de espanto, disse: “- está ficando louco? Volta com essa mula para a Vargem! Ela não vai se adaptar aqui! O quintal é pequeno para ela, ela está acostumada com pastos grandes.”
Soltamos Palmeira no quintal da nossa casa. No meio da madrugada, acordamos todos com muito barulho: Palmeira estava batendo suas patas no portão, até que ele arrebentou. A barreira que impedia Palmeira de voltar para sua casa, a Fazenda da Vargem, caiu.   
O motivo que fez Palmeira voltar para a Fazenda da Vargem foi a saudade de seu verdadeiro lar.Sendo filho de dentista, no Prata, a versão que ficou, e que passou a integrar o folclore da cidade, foi a seguinte: como Palmeira tinha uma falha grande na dentição superior, eu teria pedido a meu pai para fazer uma dentadura para a mula. Ele teria se negado a fazer a dentadura, e Palmeira, chateada com isso, teria nos deixado, voltando para a fazenda.

Cristóvão Martins Torres