sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Família de torcedor morto no Mineirão cobra explicações e pede justiça

Os familiares de Eros Dátilo Belizário, de 37 anos, estão indignados com a falta de explicações sobre a morte do torcedor cruzeirense no Mineirão. Nessa quarta-feira (26), durante o jogo entre Cruzeiro e Grêmio, pela semifinal da Copa do Brasil, foi divulgado que Eros morreu vítima de um infarto após o primeiro gol do time adversário. No entanto, testemunhas afirmam que ele foi agredido por seguranças do estádio no momento em que tentou passar de um setor para outro.

“A gente quer justiça e que os culpados sejam punidos. Como podem tirar uma vida assim de uma pessoa?”, reclamou a comerciante Michelini Belizário Magnago, de 44 anos, prima da vítima, que veio de Juiz de Fora com sua mãe para cuidar do velório e enterro, que acontecerá nesta sexta (28), às 16h, no cemitério da Saudade, na região Leste de BH.

Presente no Instituto Médico Legal (IML) para acompanhar a família, o advogado Jean Carlos Gonçalves, amigo de Eros, disse que vai pedir a punição dos culpados assim que o inquérito da Polícia Civil for concluído. A equipe coordenada pelo delegado Luis Otávio Mattozinhos já iniciou as investigações e vai ouvir testemunhas nos próximos dias.

“Exigimos a apuração dos fatos. A administração do estádio alega que foi infarto. Como pode ter sido essa a causa da morte se há hematomas no peito e pescoço do Eros?”, indagou.

Em nota, a Minas Arena, que administra o Mineirão, informou que tem “total interesse no esclarecimento do assunto de forma série e verdadeira”. Além disso, a empresa disse que “acompanha de perto e aguarda a apuração dos fatos pelas autoridades competentes.

O exame de necrópsia realizado pelo IML confirmou que o corpo tinha sinais externos de trauma, mas as lesões não justificaram a morte, segundo informações da Polícia Civil. "Segundo a diretora do IML, a médica legista Lena Lapertosa, o corpo apresentou sinais externos de trauma, no entanto, essas lesões não justificam o óbito. Por essa razão, serão necessários a realização dos exames anatomopatológico e toxicológico, que já estão em curso. O prazo para conclusão dos exames é de 30 dias", explicou a corporação, em nota.

Eros nasceu em Barra Mansa, no Sul do Rio de Janeiro. Ele morava em BH há 33 anos, onde trabalhava como entregador e residia no bairro Taquaril. O torcedor veio para a capital mineira com a mãe, que morreu há quatro anos, vítima de um câncer.

A atual namorada de Eros está grávida. Ele tinha uma filha de 3 anos de um relacionamento anterior.

Nessa sexta, a Pavilhão Independente, torcida da qual Eros fazia parte, completará 19 anos de existência. Ele participava do grupo desde 1998. "Ele era um cara bacana. Semana passada estávamos num casamento de um diretor da torcida com ele. Festa de família", relembrou o amigo Alvaro Cardoso, de 33 anos.
O Tempo

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Boni na Cultura: 'Fiquei fascinado com o Doria'

O TEMPO

O empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, de 80 anos, disse que está fortemente inclinado a aceitar o convite para assumir a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. "Eu fiquei fascinado com o projeto."
Ex-diretor geral da TV Globo, ele disse que pretende, antes de decidir, pensar e conversar com a família para dar uma resposta definitiva até a tarde desta quarta-feira (26). O único impedimento seria a mudança do Rio para São Paulo. "Sair do Rio de Janeiro agora, com mala, cuia e papagaio, é complicado. Eu tenho uma estrutura enorme montada aqui. Não sei como seria isso "
Ligação com São Paulo
Filho de Orlando de Oliveira, um músico que tocava no regional da Rádio Cultura de São Paulo, Boni nasceu em Osasco, mas vive no Rio de Janeiro desde 1963. Ao chegar a São Paulo para se encontrar com o prefeito eleito João Doria, ele afirma que tinha certeza de que não aceitaria o convite. "Mas ele (Doria) tem um grande poder de persuasão e mexeu com minha cabeça."
Questionado se se julga apto a assumir a política cultural de uma cidade como São Paulo, mesmo sem viver nela por tantos anos e sendo um homem com experiência em TV, Boni responde. "Eu me vejo em São Paulo. Viajo muito pelo mundo, por países como Estados Unidos, Inglaterra e França, e fico sempre de olho na cultura dos países, nas coisas que poderiam ser adotadas aqui". Ele diz que não sabe como lidaria com a burocracia do poder público, algo que nunca experimentou em sua carreira, e diz suas predileções no meio cultural: "Sou um apaixonado por arquitetura, ópera e música clássica".
Apesar de dizer que sente nas propostas do prefeito eleito um ímpeto transformador para a cultura da cidade, Boni não quis adiantar nenhum dos projetos que ouviu na reunião com o prefeito eleito. "Ele quer criar o novo, e a cultura tem de ser renovada "
Motivação
E qual motivo teria levado João Doria a chamá-lo? "Ele sabe que eu sou um homem capaz de realizar. Ele precisa de um executivo para colocar esses projetos de pé." E seus 80 anos de idade reservam energia para um desafio que pede entrega 24 horas por dia e disposição para virar vitrine também diária nas redes sociais e nos jornais? "Sim, eu tenho disposição, tenho energia, cuido de 75 emissoras de TV. Isso não me assusta."
Ao ser perguntado se teria algum projeto da área cultura, ainda que em linhas gerais ou no plano das ideias, para ser colocado em prática, o executivo disse: "A cultura tem de passar pela Educação. E a Educação tem de ajudar a criar a cultura."
Padrão
Apesar de passar por veículos de comunicação como Rádio Bandeirantes, TV Tupi e TV Rio, Boni fez a maior parte de sua história na TV Globo. Foi em 1967 que Walter Clark o convidou para ser o chefe da direção de programação e produção. As transformações que começaram a ser feitas sob sua gestão se tornaram padrões até hoje. Ele e Clark criaram o formato básico na programação e um bloco de sustentação de um horário nobre formado sistematicamente pela sequência de uma novela, Jornal Nacional e mais duas novelas, fechando a noite com uma atração especial.

Superchefe da emissora, Boni concentrava a responsabilidade pelo entretenimento e pelo jornalístico. As novelas, sob sua administração, ganharam naturalismo. Ele participou também da criação de programas como Fantástico (de 1973), Superbronco (1979), Você Decide (1992) e o seriado Mulher (1998). Até 1997, Boni trabalhou como vice-presidente de operações, quando Marluce Dias da Silva assumiu em seu lugar. Consultor da emissora até 2001, ele se tornaria empresário da TV Vanguarda, uma afiliada da Globo em cidades do interior de São Paulo.
O Tempo

Queijo canastra vira referência para turismo e fonte de renda

SÃO ROQUE DE MINAS. A história do queijo canastra remonta ao final do século XVIII e início do século XIX, numa produção de subsistência. Nesses dois séculos, o produto da serra da Canastra e seu terroir próprio resistiu a todas as dificuldades – desde a área de 7.500 km² e a dificuldade de logística em duas rodovias, à pirataria aos entraves da lei. Hoje, os 800 produtores da serra têm o produto artesanal regulamentado com a instrução normativa nº 30/2013 e rastreabilidade.
Os produtores se organizaram na Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), conseguiram R$ 145 mil por ano do Sicoob Saromcred para dar suporte à entidade e financiamento para os produtores na cooperativa de crédito sediada em São Roque de Minas.

Com o novo tempo, os produtores viram a demanda subir. “Existe até fila de espera de 20 dias para o queijo canastra poder ser despachado”, conta o gerente técnico da Aprocan, Paulo de Matos. “Produtores com cem a 120 litros de leite por dia faturam R$ 20 mil por mês (com o queijo). O turismo, que era somente ecológico, hoje tornou-se também gastronômico”, comemora o presidente do Sicoob Saromcred, João Carlos Leite.

Matos explica que quanto mais feio, mais saboroso o queijo. Essa característica é encontrada no sítio Bela Vista. “O mofo aconteceu por acaso, mas, por fora e por dentro do queijo, o sabor é diferente”, conta Ivair Oliveira. Em 14,7 hectares, ele fabrica de dez a 12 queijos por dia com sua mulher Lúcia. Depois de fazer o Empretec, do Sebrae, e ingressar na Aprocan, o produtor viu seu faturamento quintuplicar. Há 15 anos na profissão, Ivair passou por dívidas e dificuldades emocionais, mas não desistiu. “Antes, era o queijeiro que colocava o preço: R$ 7 o quilo. Hoje, cobro de R$ 50 a R$ 100, depende da maturação”, diz.
O queijo canastra está sempre à mão para o hóspede comer um pedaço no Chapadão da Canastra, que existe há 15 anos em São Roque. Muito comunicativa, a propriedade tem 24 suítes e está em quase 5.000 m². “A taxa média de ocupação é de 80% com turistas de São Paulo, e em segundo lugar, cariocas, por causa do queijo”, diz a hoteleira Renilda Dupim.
Premiação
Vice-líder. O produtor de queijo de São Roque de Minas Guilherme Ferreira ganhou medalha de prata no Mondial du Fromage et des Produits Laitieres em Tours, na França, em julho de 2015.
O Tempo

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

STJ. JULGAMENTO REALIZADO 21/06/2016

STJ. JULGAMENTO REALIZADO 21/06/2016. 23/06 |MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI, RELATORA

CAROS ASSOCIADOS (AS)
Temos a satisfação de informar que, em julgamento realizado em 21/6/2016, o Superior Tribunal de Justiça confirmou a decisão que havia condenado o Investvale a indenizar os prejuízos sofridos pelos associados da Apevale nas transferências de cotas do Investvale ocorridas entre setembro de 1997 e novembro de 2003.
Com relação às transferências de cotas ocorridas entre maio e agosto de 1997, o STJ entendeu que o direito à indenização estaria prescrito. Entretanto, estamos avaliando a possibilidade de requerer a revisão da parte da decisão que se refere a esse período, que poderá eventualmente vir a ser revertida.
Informaremos oportunamente sobre os próximos passos que serão tomados para o prosseguimento da ação.

Atenciosamente,

Geraldo Eustaquio da Silva
Presidente da APEVALE

Funcionários da Vale no Pará ganham ação contra Investvale


terça-feira, 22 de setembro de 2015


Funcionários da Vale no Pará ganham ação contra Investvale


A juíza Maria Cristina de Brito Lima, da 6a Vara Empresarial da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, deu ganho de causa à ação milionária movida pela Associação dos Trabalhadores do Estado do Pará Lesados pelo Investvale (Atepli) contra o Clube de Investimentos da Vale (Investvale). A Investvale foi constituída para comprar e administrar as ações ofertadas aos trabalhadores ativos e inativos da antiga Companhia Vale do Rio Doce, durante os preparativos à privatização, em 1994. 

Os administradores do clube são acusados de omitir informações aos associados, incentivar a comercialização das cotas em valores reduzidos, entre os próprios cotistas, além de mediar essa comercialização gerando prejuízo aos trabalhadores. A sentença condenatória foi prolatada no último dia dois de setembro. A decisão judicial será tema de entrevista coletiva à imprensa, nesta quarta-feira, 23, às 10 horas da manhã, no Centro Empresarial Bolonha, que fica na Av. Governador José Malcher, 168, 4o andar, sala 418. Os entrevistados serão o presidente da Atepli, Manoel Maria Paiva, e o advogado João Victor Geraldo, do escritório João José Geraldo Advogados e Consultoria S.S. A Investvale não tem nenhuma relação com a mineradora Vale.

Os cotistas lesados pelo clube, oriundos de vários estados brasileiros, movem ações contra os administradores da entidade em busca da reparação dos prejuízos sofridos. No Pará, a ação da ATEPLI beneficia todos os associados da Investvale no estado, reunindo 2.897 associados, atualmente. A associação é presidida por Manoel Maria Paiva, com sede no município de Barcarena. A ação foi ajuizada por meio do escritório de advocacia com sede em Belém e Barcarena.

Na sentença, os administradores da Investvale, Francisco Valares Póvoa e Otto de Souza Marques Júnior, foram condenados a pagar a diferença entre o valor em que as cotas calculado com base nas regras definidas pelo estatuto do clube e o valor pelo qual foram efetivamente resgatadas, transferidas ou vendidas pelos sócios da Investvale entre março de 1997 e 17 de dezembro de 2002. Ainda, de pagar a diferença entre o valor de mercado da cota no dia subsequente ao que foram desbloqueadas e o valor pelo qual os sócios delas se desfizeram, entre 17 de dezembro de 2002 e novembro de 2003.

A juíza também determinou que os administradores do Investvale apresentem o relatório diário de apuração do valor das cotas e todos os documentos relativos às operações e às cotas realizadas pelo clube. Ordenou, ainda, o pagamento de danos morais no valor de R$ 5 mil por associado prejudicado, bem como condenou os réus ao pagamento dos honorários advocatícios no percentual de 20%. Devendo sobre os valores anunciados na sentença incidir a correção monetária e os juros de 1% ao mês a cantar do desembolso.

O advogado João Victor Geraldo explica que as cotas foram comercializadas por valores irrisórios, na época, e estão valendo hoje cerca de R$ 900 cada. Os valores das indenizações relativas à diferença à menor paga pelas cotas ainda serão calculados. Somente a somatória das indenizações por danos morais chega a R$ 14 milhões entre o número atual de associados da Atepli.

Entenda o caso - No ano de 1994, foram oferecidas 626 cotas a cada funcionário da Vale pelo valor de R$ 1, exceto no caso dos funcionários da Albrás e da Alunorte, as cotas foram de 313 apesar do valor pago pelas cotas ter sido o mesmo. Entre os anos de 1995 e 1997 foram inscritos no Investvale cerca de 35 mil cotistas.

O Investvale foi criado em 28 de dezembro de 1994. Em 1997, o clube contraiu o empréstimo de R$ 180 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) para que os empregados pudessem comprar as ações ofertadas. Foram caucionadas 9.995.369 ações Vale ON (Ordinárias Nominativas) em garantia ao pagamento dessa dívida. As cotas somente poderiam ser negociadas no mercado de capitais ou bolsa de valores após julho de 2009, quando estava prevista a quitação do empréstimo.

Porém, o clube conseguiu antecipar a quitação junto ao banco, possibilitando a negociação das quotas na bolsa de valores por um preço elevado, sem o conhecimento e a anuência dos cotistas. Com isso, o Investvale conseguiu ocultar o verdadeiro valor das cotas aos associados, causando danos. A maioria dos cotistas não quis esperar 12 anos para poder negociar as cotas no mercado financeiro, e passou a fazê-lo no mercado interno, ou seja, entre os próprios cotistas. O clube passou a mediar essas relações entre os cotistas, revendendo pelo preço maior do que o inicial, sem que os valores das operações fossem informados aos vendedores e compradores.

Ainda, o Investvale, através dos administradores, fez alterações estatutárias ilegais; fez assembleia geral extraordinária além do prazo de 30 dias fixado em Lei Societária; criou o pagamento de jetons de R$ 2,5 mil a um diretor; e instituiu a taxa de liquidez que garantiu o repasse em dinheiro de R$ 40 milhões aos administradores no caso de anteciparem o pagamento do empréstimo junto ao banco, o que ocorreu em 2003 com a venda das quotas ao próprio BNDES.

Entretanto, às vésperas de fechar a operação com o BNDES, os diretores do Investvale incentivaram milhares de cotistas a venderem no mercado interno. Os valores das cotas foram erroneamente informados aos cotistas, garantindo lucro aos diretores que adquiriram as cotas, tornando-se os maiores cotistas do Investvale.

Entre as ilicitudes praticadas na época pelos dirigentes do Investvale, estão a omissão de informação aos cotistas, acesso a informação privilegiada, quebra de confiança e boa-fé, má administração e apropriação indevida de valores dos cotistas, sem falar no tratamento desigual em relação aos funcionários da Albrás e da Alunorte, em Barcarena, que receberam apenas 313 cotas, em lugar das 626 repassadas aos trabalhadores de outras subsidiárias da Vale, apesar de terem pago o mesmo valor de R$ 1 pela aquisição do conjunto de cotas. Texto: Enize Vidigal

Homem é baleado ao sair do Fórum Lafayette após testemunhar em júri

Um homem de 24 anos que testemunhou em um julgamento no tribunal do júri no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, sofreu uma tentativa de homicídio na tarde desta quarta-feira (26) após deixar o local. 
De acordo com informações preliminares da Polícia Militar (PM), o crime aconteceu por volta das 17h na esquina da avenida Augusto de Lima com a rua Araguari. A vítima baleada foi socorrida para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Após os disparos, o suspeito fugiu e está sendo procurado.
Ainda segundo a PM, o suspeito é um desafeto da vítima. Os dois seriam moradores do aglomerado do Borel, no bairro Serra Verde, na região de Venda Nova.

Conforme a assessoria de imprensa do Fórum, a única informação que eles têm até o momento é que o fato aconteceu próximo de uma banca de revistas no momento em que a vítima, que acabara de acompanhar um julgamento, entrava em um veículo.

Um advogado que estava no Fórum Lafayette no momento do crime contou que a situação foi desesperadora no local. "Houve um tumulto e correria. Muitas pessoas assustadas, sem entender o que acontecia. A vítima estava bastante ensanguentada", afirmou. 
O tempo

Boni na Cultura: 'Fiquei fascinado com o Doria'

O empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, de 80 anos, disse que está fortemente inclinado a aceitar o convite para assumir a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. "Eu fiquei fascinado com o projeto."
Ex-diretor geral da TV Globo, ele disse que pretende, antes de decidir, pensar e conversar com a família para dar uma resposta definitiva até a tarde desta quarta-feira (26). O único impedimento seria a mudança do Rio para São Paulo. "Sair do Rio de Janeiro agora, com mala, cuia e papagaio, é complicado. Eu tenho uma estrutura enorme montada aqui. Não sei como seria isso "
Ligação com São Paulo
Filho de Orlando de Oliveira, um músico que tocava no regional da Rádio Cultura de São Paulo, Boni nasceu em Osasco, mas vive no Rio de Janeiro desde 1963. Ao chegar a São Paulo para se encontrar com o prefeito eleito João Doria, ele afirma que tinha certeza de que não aceitaria o convite. "Mas ele (Doria) tem um grande poder de persuasão e mexeu com minha cabeça."
Questionado se se julga apto a assumir a política cultural de uma cidade como São Paulo, mesmo sem viver nela por tantos anos e sendo um homem com experiência em TV, Boni responde. "Eu me vejo em São Paulo. Viajo muito pelo mundo, por países como Estados Unidos, Inglaterra e França, e fico sempre de olho na cultura dos países, nas coisas que poderiam ser adotadas aqui". Ele diz que não sabe como lidaria com a burocracia do poder público, algo que nunca experimentou em sua carreira, e diz suas predileções no meio cultural: "Sou um apaixonado por arquitetura, ópera e música clássica".
Apesar de dizer que sente nas propostas do prefeito eleito um ímpeto transformador para a cultura da cidade, Boni não quis adiantar nenhum dos projetos que ouviu na reunião com o prefeito eleito. "Ele quer criar o novo, e a cultura tem de ser renovada "
Motivação
E qual motivo teria levado João Doria a chamá-lo? "Ele sabe que eu sou um homem capaz de realizar. Ele precisa de um executivo para colocar esses projetos de pé." E seus 80 anos de idade reservam energia para um desafio que pede entrega 24 horas por dia e disposição para virar vitrine também diária nas redes sociais e nos jornais? "Sim, eu tenho disposição, tenho energia, cuido de 75 emissoras de TV. Isso não me assusta."
Ao ser perguntado se teria algum projeto da área cultura, ainda que em linhas gerais ou no plano das ideias, para ser colocado em prática, o executivo disse: "A cultura tem de passar pela Educação. E a Educação tem de ajudar a criar a cultura."
Padrão
Apesar de passar por veículos de comunicação como Rádio Bandeirantes, TV Tupi e TV Rio, Boni fez a maior parte de sua história na TV Globo. Foi em 1967 que Walter Clark o convidou para ser o chefe da direção de programação e produção. As transformações que começaram a ser feitas sob sua gestão se tornaram padrões até hoje. Ele e Clark criaram o formato básico na programação e um bloco de sustentação de um horário nobre formado sistematicamente pela sequência de uma novela, Jornal Nacional e mais duas novelas, fechando a noite com uma atração especial.

Superchefe da emissora, Boni concentrava a responsabilidade pelo entretenimento e pelo jornalístico. As novelas, sob sua administração, ganharam naturalismo. Ele participou também da criação de programas como Fantástico (de 1973), Superbronco (1979), Você Decide (1992) e o seriado Mulher (1998). Até 1997, Boni trabalhou como vice-presidente de operações, quando Marluce Dias da Silva assumiu em seu lugar. Consultor da emissora até 2001, ele se tornaria empresário da TV Vanguarda, uma afiliada da Globo em cidades do interior de São Paulo.
O Tempo

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Seis mil pessoas protestam em Brasília contra proibição de vaquejadas

Uma manifestação contra a proibição das vaquejadas reúne nesta terça-feira (25), na Esplanada dos Ministérios, vaqueiros e cavalos vindos de diversos estados.
Com faixas e um carro de som posicionado próximo ao Congresso Nacional, vaqueiros e empresários do setor negam que a prática signifique maus tratos aos animais e afirmam que, além de elemento da cultural, a atividade é fonte de geração de emprego e renda.

A organização do evento diz que cerca de 700 caminhões de transporte de animais e 6 mil pessoas vieram a Brasília para a manifestação. São dois mil animais, principalmente cavalos.

No último dia 6, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional uma lei do Ceará que regulamentava a vaquejada no estado. Com o entendimento do STF, a prática passou a ser considerada ilegal, relacionada a maus-tratos de animais.
O vaqueiro Clayton Araújo, 35 anos, vive em Paratinga (BA) e quer o retorno da vaquejada que ele conta fazer parte da história de sua família e diz ser um elemento cultural para muitos nordestinos. Segundo Clayton, a vaquejada mudou ao longo dos últimos anos e hoje são tomados cuidados para evitar maus-tratos aos animais.
“Existe toda uma vida por trás disso. Eu nasci e me criei dentro dela, meu avô era vaqueiro, meu pai é vaqueiro. Não envolve só o emprego, envolve toda uma cultura, raiz, criação. Já houve maus-tratos; quando comecei a correr existia a pista dura que maltratava o boi, hoje a pista é de areia, existia chiar o boi que era derrubar e arrastar e isso hoje não acontece mais. E também existia correr bezerro e hoje, na vaquejada regularizada, isso é proibido. Agora usamos o protetor de cauda”, disse.
Vaquejadas sustentam famílias
Ele diz que a vaquejada é uma forma de sustento para muitos e proibir a prática vai causar impacto em pequenas e grandes cidades a trabalhadores como tratadores, vaqueiros e motoristas.
De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (Abqm) e a Associação Brasileira de Vaquejadas (Abaq), anualmente, são realizadas cerca de 4 mil vaquejadas no país, a maioria no Nordeste, que geram 700 mil empregos diretos e indiretos.
As associações afirmam que, nos últimos 10 anos, a atividade passou por regulamentação para garantir a segurança dos competidores e dos animais e defendem que, ao invés de vedar a regulamentação da prática, o caminho é adotar medidas que garantam a continuidade da vaquejada.
O proprietário do Parque Leão de Vaquejada, em Brasília, Raul Leão, diz que medidas adotadas nos últimos anos - como o uso do protetor de cauda e da cama de areia onde o animal é derrubado - evitam sofrimento. Para Leão, o que deve ser combatida é a prática clandestina da atividade que ocorre sem a adoção da regulamentação necessária.
O empresário diz que o impacto econômico que o fim da atividade gera atinge toda uma cadeia produtiva como de produção de selas, rações e medicamentos.
“Esperamos que o Supremo seja sensibilizado pelos efeitos que essa decisão vai causar a esses 700 mil empregos. Foi lamentável ter ocorrido esse julgamento sem ter uma audiência pública para debater o que a vaquejada representa para o país”, disse Raul Leão.
Os caminhões que transportaram os animais passam o dia estacionados nas faixas ao longo dos meios fios da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e provocaram engarrafamento na região central da cidade pela manhã.
Ao longo do dia, os integrantes do movimento participam de uma missa na Catedral de Brasília e de uma audiência pública na Câmara dos Deputados. As atividades vão terminar com um show à noite, na Esplanada.
O Tempo

Ibama aponta atraso em obras para conter rejeitos da Samarco

Balanço do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apresentado na manhã desta terça-feira (25) em Belo Horizonte sobre o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, tragédia ambiental que completa um ano no próximo dia 5, aponta atraso na construção de obras para contenção de rejeitos e também no repasse de recursos a municípios para investimentos em saneamento.
Em relação às obras, a presidente do Ibama, Sueli Araújo, afirma que serão suficientes, mas que o atraso, juntamente com o início das chuvas, traz um "desafio" para o momento. "Com a chuva você não sabe o que vai ocorrer entre Fundão (a barragem da Samarco que ruiu) e Candonga (a represa hidrelétrica que fica no Rio Doce, curso d'água que recebeu a maior parte dos rejeitos, a cerca de 100 quilômetros do local do acidente)." A estrutura conteve parte dos rejeitos que vazaram de Fundão no dia 5 de novembro.
De acordo com o Ibama, há hoje 43,5 milhões de metros cúbicos de metros cúbicos de lama entre Fundão e Candonga. "Reconhecemos o atraso. Não estamos falando que está bem. Falamos que está monitorado", disse Sueli.
As medidas que vêm sendo tomadas foram definidas no acordo fechado entre a Samarco e suas controladoras, Vale e BHP Billiton, com a União e os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O acordo foi questionado na Justiça pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais, que alegou não ter havido participação da população. A Justiça ainda não decidiu se o acordo valerá ou não. "(O termo) é válido entre as partes independente da decisão judicial", afirmou Sueli. As obras estão a cargo da Samarco.
A presidente do Ibama disse ainda R$ 50 milhões, de um total de R$ 500 milhões previstos no acordo, para municípios investirem em água e esgoto estão atrasados. A justificativa foi o período eleitoral, segundo Sueli. Em função das chuvas, conforme a presidente do Ibama, existe a possibilidade de aumento da turbidez da água no Rio Doce, prejudicando a captação de água para consumo humano.

A presidente do Ibama afirmou ainda que um plano de ação emergencial será implantado para informar a população sobre cuidados a serem tomados em caso de aumento do carreamento de rejeitos para o Rio Doce e afluentes. O aumento da turbidez pode indicar presença de metais pesados na água.
O Tempo

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Descubra quem excluiu a sua amizade no Facebook

Manter uma amizade verdadeira fisicamente já está difícil. Porém, no Facebook todos os usuários têm vários amigos. Mas, mesmo assim, muitos ainda aceitam o seu pedido e depois o exclui. E se quiser saber quem são os "amigos da onça" virtuais, a própria rede social faz o papel de "dedo duro".
Para descobrir quem deixou de ser seu amigo no Facebook é só seguir alguns passos. Saiba como.
1º passo - Faça login no seu Facebook e aguarde ser direcionado à página inicial, onde há o feed de notícias. Na barra superior da tela, ao lado de "Página Inicial", tem uma opção que leva ao seu perfil, que leva seu nome. Clique nela.
2º passo - Já no seu perfil, role a tela para baixo até que a foto de capa suma. Uma barra superior irá surgir com três opções: seu nome, "Linha do Tempo" e "Recentes". É neste último que você deve clicar. Os anos que aparecerão se referem ao período que a ser analisado se alguém excluiu você do Facebook.
3º passo - O Facebook vai lhe mostrar, então, as publicações do ano escolhido. Por exemplo, os principais fatos do ano, com quem você estava na maioria de suas publicações e a quantidade de novos amigos. Abra esta última opção.

4º passo - A lista com os amigos feitos durante o ano selecionado vai ser mostrada. É aí que a "mágica" acontece. Em relação àqueles em que aparece a palavra "amigos" ao lado direito da foto de perfil, nada mudou. A relação de amizade segue a mesma. Agora, para aqueles perfis em que ao lado da foto há a opção "Adicionar aos amigos", algo mudou. Se não foi você quem excluiu a pessoa, ela é quem não considerava mais sua amizade essencial.
O Tempo

domingo, 23 de outubro de 2016

Estudantes franceses desfrutam 'la vie en rose' em 'Belorrizonte'

Quando elas chegam ao bar, os garçons sentem o perfume diferente. “O cheiro chama atenção”, diz o responsável pelo caixa, que se apresentou como Álvaro, um jovem desinibido que não perde a oportunidade de tecer elogios, ainda que precise recorrer ao tradutor online – “vous êtes très parfumé, très belle” – para dizer às clientes francesas que elas estão cheirosas e bonitas. Os rapazes também chegam cheirosos, confessa Álvaro, que, sem falar uma palavra em francês, agrada aos fregueses gringos. “E meu português ainda é ‘do básico’, porque eu sou do interior do Estado, mas eles são bacanas, a gente se vira (na base da mímica)”, conta e dá um tchau sorridente para a mesa perfumada.

Desde que aterrissaram em bando, no início de setembro, em Belo Horizonte – ou “Belorrizonte”, como soa o sotaque europeu –, os 120 estrangeiros que vieram fazer intercâmbio em uma escola de negócios curtem “la vie en rose”, um clichê francês, título da canção de Édith Piaf, citada pela estudante Valeria Podkidysh, 22, para traduzir a vida “cor de rosa” e “maravilhosa” que eles desfrutam na capital mineira, a cerca de 9.000 km de casa.

Cachaça. Todas as noites eles aparecem no Bar do Antônio, no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul, onde a maioria está hospedada. Como quem está “à volonté” no esplêndido Le Jardin du Luxembourg, em Paris, eles chegam ao bar juntando as mesas, dão “bom dia” (confundido muitas vezes com o “boa noite”) e, já que estão no Brasil, pedem várias caipirinhas.

“Parece que eles já saem da França sabendo os nomes das bebidas daqui”, comentou um garçom. Só que o preço salgado (R$ 9,90) da bebida típica faz os estudantes juvenis (entre 20 e 27 anos) optarem mais pela cerveja de R$ 8,50, a “Brahmá”, pronunciando a última sílaba fortemente. O vinho francês, vendido bem mais caro aqui, também tem ficado de lado e sido substituído pelo chileno.

Se bebem “Brahmá”, cada um deles pede sua própria garrafa de 600 mL. Naquela sexta-feira, havia sete na mesa. Ao que parece, entre os franceses não há essa intimidade de compartilhar bebida, tampouco petiscos. “Se eles pedirem uma costelinha, eles comem sozinhos”, conta um dos garçons, cujo apelido é Tcho. “Teve um que pediu uma porção, aí eu levei quatro pratinhos achando que eles podiam comer juntos, né?”, emendou Tcho. “Que nada, o cara comeu sozinho, acredita?”, surpreendeu-se, logo após servir um sanduíche partido ao meio para que eu e a fotógrafa da pauta, modestas brasileiras, dividíssemos o lanche de R$ 18,90.

“Aqui!”, aprendeu o francês a chamar o garçom para pedir algo, como se faz no Brasil. Exceto a conta, que costuma dar R$ 60 de “golo” por cabeça, eles gostam de pagá-la diretamente no caixa, com o Álvaro, que garante que eles sabem tudo o que consumiram, até quantas garrafas, mesmo se estiverem bêbados, situação habitual na turma de universitários, que ainda fuma um cigarro após o outro.

Quando não está no Bar do Antônio, o grupo vai à “Savassí” (isso mesmo, falado com acento agudo no “i”), sem perder o sotaque. Às sextas e aos sábados, quando não tem aula na manhã seguinte, costumam partir para a balada. Alguns já foram a boates como Chalezinho, Paco Pigalle e Deputamadre.

Viagens. “Muitos curtem como se estivessem de férias e sempre viajam”, conta Gabriela Sampaio, coordenadora da Skema – escola francesa com campus na Fundação Dom Cabral, em BH. Enquanto estudam aqui, os gringos rodam o país, o interior de Minas Gerais e as praias do Rio de Janeiro, criam os próprios feriados, emendando-os com os fins de semana, para explorar roteiros pelo Brasil, convertendo euros em muitos reais.
De Uber

Preferência. A todo momento, para um motorista do Uber em frente ao hotel ou à escola onde os franceses estão hospedados e estudam. Eles usam o aplicativo para transitar pela cidade, pois dizem ser mais prático e barato.
Discrição. Os franceses estranham o jeito aberto do brasileiro de se relacionar, enquanto os europeus nem sequer se beijam em público.

Gírias. Assim como nosso “uai”, o “oh là là” dos franceses pode ser usado em situações boas ou ruins, depende da entonação.

Cobiça. Segundo as francesas, os brasileiros têm um olhar de cobiça. E a vontade delas é de pedir a eles que não as olhe assim.
Favelas. A ucraniana Valéria Podkidysh, 22, e outros colegas estrangeiros querem muito conhecer uma favela brasileira. Ao chegar próximo ao aglomerado da Serra, Valéria reparou no barulho de pessoas que vinha de lá e acredita que devem ter "mineiros legais e acolhedores ali, como no restante da cidade".
Passaporte. Um grupo de franceses contou que tentou conhecer o forró de BH, mas não entrou porque a casa de show exigia o passaporte original. “Parece que eles tiveram problema com menores antes”, disse Pierre Harington, 23.
Atividades. O presidente da Aliança Francesa, Thierry Carré, explica que, apesar de terem menos coisas para se fazer em BH do que no Rio de Janeiro, a instituição tenta mostrar as atividades culturais e os artistas da capital mineira para eles, e o que tem para se curtir aqui e nas cidades ao redor.
Francês. O pão de sal, que muitas pessoas chamam de pão francês no Brasil, não existe na França, onde as baguetes são mais famosas. As francesas acharam muito gostoso o tipo de pão, mas disseram ser engraçado porque não tem lá e mesmo assim é chamado de francês.
Cheiro. Os que conheceram a lagoa da Pampulha reclamaram do mau cheiro da água e acharam a capital mineira, no geral, suja. Uma estrangeira disse que o prefeito tinha que começar limpando a prefeitura.

Abertos

Gringo leva vantagem na paquera
“Gringo!”, exclamou, corrigindo-me um francês, quando eu disse “estrangeiro”. No Brasil, eles são chamados assim e reconhecidos de longe pela beleza diferente, pelo jeito de se vestir, de falar e até de andar, já que turista tem um caminhar diferente. Mas, segundo eles, ser gringo tem um “bônus”, especialmente na paquera.

“É como um troféu”, tentou explicar em português Pierre Harington, 23, ressaltando que o fato de eles serem de fora atrai muito mais oportunidades de conquistas. Aliás, todos têm curtido o jeito “hot and open” (quente e aberto) dos brasileiros em detrimento da “frieza” europeia.

Entretanto, os franceses acreditam que as brasileiras se apaixonam muito rapidamente com o romantismo deles. “Aqui, os homens são mais machistas”, comentou um deles. “Ainda estou no processo de entender essa diferença cultural porque pode não ser paixão, já que elas são mais carinhosas”, disse depois.

O Tempo

Tostão conta causos e prosas

Certa vez, o consagrado cronista Armando Nogueira escreveu: “a tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus”. O ano deveria ser 1970, quando a maior seleção de todos os tempos desfilava seu futebol no México para se eternizar na memória de todos. Anos mais tarde, uma incoerência do destino acometeu um dos protagonistas com um grave problema ocular, e ele precisou, com 26 anos, largar uma de suas paixões. Para nossa sorte, a tal tabelinha que o maior jogador do Cruzeiro gostava também era feita com maestria em outras áreas.

Hoje colunista de O TEMPO, Tostão revela em seu novo livro, “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos: Um Olhar sobre o Futebol” (Companhia das Letras, R$ 39,90), que será lançado em Belo Horizonte no próximo dia 27, algumas histórias do esporte, mostrado, às vezes, com planos táticos ou recordações, posicionando-se sobre situações reflexivas do atual momento.

Tostão é um senhor tipicamente mineiro. Discreto, não gosta de aparecer desde os tempos de televisão, na qual trabalhou de 1994 a 1999. Segundo o próprio ex-atleta, mesmo sabendo que seu esforço era reconhecido pelo público, ele, tímido, se sentia tenso para o trabalho televisivo.

Aos 69 anos, o tricampeão mundial, que também é formado em medicina, não dispensa uma caminhada pelas ruas de Belo Horizonte. Por isso, trocou um condomínio fechado em Nova Lima por um apartamento na região Centro-Sul da capital. Antes da entrevista, ele brincava, com um largo sorriso: “Existe coisa melhor do que ver filhos e netos na hora que a gente quer?”. Não, Tostão. Não há.


MINIENTREVISTA

Tostão
ex-jogador, escritor e colunista de O TEMPO

A princípio, a ideia do livro era escrever sobre a parte tática e técnica do futebol, mas você acabou seguindo por outro caminho.

Quando acabou a Copa de 2014, pensei em escrever um livro que tentasse explicar a derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 e, também, o momento atual do futebol brasileiro. Mas eu percebi que era um assunto muito enfadonho, com muitos detalhes técnicos. Pouca gente se interessa por isso. Em um dos capítulos, faço uma síntese da maneira de jogar das equipes, não só do Brasil, mas da Europa também, comentando o que aconteceu no futebol nos últimos tempos.

Entre as histórias que teve no futebol, você comenta com muito carinho sobre os dois times em que você marcou mais gols: o Cruzeiro de 1966 e a seleção brasileira de 1970, tricampeã do mundo. Como foi viver e escrever sobre essas duas equipes?

Eu volto a essa época com informações que fui lembrando. Como sou muito sintético, eu só escrevi coisas que acho interessantes. Naquela época, o Cruzeiro já era o Cruzeiro, né? A Copa de 1970 foi o fato mais marcante da minha vida, porque fui campeão do mundo, momento da maior glória do futebol. Conto os bastidores, a história da seleção, como foi formada, detalhes técnicos e táticos. Tem, também, capítulos específicos para João Saldanha e da mudança (de direção) para o Zagallo.

Existe uma história sobre a participação do Ronaldo em uma entrevista com você. Parece que ele ficou chateado. Como foi isso?

O pessoal da imprensa pediu uma matéria comigo e com o Ronaldo, conversando. Terminada essa matéria, ele foi embora e esqueceu a carteira. Depois, ele voltou e ficamos conversando. Eu brinquei com ele para ter cuidado para não misturar a vida particular com a profissional, porque tinha saído uma foto dele no jornal de cueca, com alguns jogadores, onde ele morava. Eu apenas comentei. Tempos depois, fiquei sabendo que ele ficou bravo por eu ter comentado.

Você também trabalhou para a televisão de 1994 a 1999 e trabalhou em duas Copas do Mundo. Como foi participar e analisar de maneira tão serena?

Na Copa de 1994, fui convidado para participar da mesa redonda, na Bandeirantes. Em 1998, fui (para a Copa) pela ESPN Brasil. Nos anos seguintes, fui como colunista em 2002, 2006 e 2010. No Brasil, acompanhei de casa, pois estava com um problema de saúde. (Acompanhar a Copa em 1998) foi uma delícia. Conto no livro uma passagem que tem até o Chico Buarque e outras pessoas importantes e conhecidas no mundo. Mas, na TV, eu fazia um esforço muito grande, pois sou tímido. Me sentia tenso e, em 1999, resolvi mudar de vida. Me mudei para um apartamento mais afastado de Belo Horizonte e passei a escrever como colunista.

No livro, você comenta que talvez não fosse jogador, se pudesse voltar atrás, e teria se dedicado à vida acadêmica. Por quê?

Tive quatro profissões: atleta, médico, professor de faculdade, comentarista e colunista. As coisas foram acontecendo sem planejamento. Quando eu tive convite para trabalhar na TV, no início eu tentei conciliar minha vida de médico com a de comentarista. Cheguei à conclusão de que era impossível e fiquei num dilema. Por uma série de razões, resolvi parar com a medicina por um tempo e assumi a função de colunista. Gostava muito de ser médico. Tenho saudade dessa época também, assim como do futebol.

Seu livro tem um peso muito grande, principalmente por ser lançado depois do 7 a 1. 

Foi o maior acontecimento do futebol em todos os tempos. O Brasil é um país conhecido no mundo pelo futebol. Dentro de casa, em uma Copa do Mundo, perder de 7 a 1 é uma coisa absurda, inacreditável. Foi muito marcante. Você vê um distanciamento muito grande entre o futebol brasileiro e o europeu, na parte organizacional, na parte tática.

Você acha que algum dia vamos conseguir voltar ao nível dos times de 2002, 1982 e da seleção de 1970?

Eu acho que estamos em um processo de reconstrução. Estou otimista (e acredito) que as coisas vão melhorar. Chegamos quase ao fundo do poço. O 7 a 1 representou a queda do nosso futebol. As relações promíscuas atrapalharam muito o futebol brasileiro, culminando com a prisão de um presidente da CBF. Apesar de ainda haver muita coisa errada no futebol, está havendo uma tentativa de recuperação, né? Agora, essa recuperação ideal seria que houvesse uma mudança estrutural radical mesmo. Acabar com essa relação promíscua entre CBF e clubes e federações, além de entrar profissionais independentes para dirigir o futebol brasileiro. Esse é o caminho, né? Mas ainda leva tempo, não tem jeito de fazer de uma hora para outra.
O Tempo