segunda-feira, 18 de maio de 2020

Pedagogo on-line e agora?

Gisele do Rocio Cordeiro
Sônia de Fátima Radvanskei

No dia 20 de maio é comemorado o Dia do Pedagogo, essencial para a organização pedagógica de um ambiente educacional. Nunca foi tão difícil escrever sobre o papel deste profissional como nos momentos atuais.
Nunca pensamos que com tudo o que estudamos na faculdade, cursos, especializações e que com todos os anos de experiência, nossa prática na área da educação pudesse mudar radicalmente de uma hora para outra, com a pandemia ocasionada da Covid 19.
Setores foram afetados, hábitos da sociedade foram redimensionados. Estar mais tempo dentro de casa exigiu uma adaptação em todas as esferas das necessidades humanas. Pessoas estão alterando seus hábitos, mudando as atividades fora de casa para novas rotinas.
Em meio a todas essas mudanças, profissionais da educação estão tendo que se reinventar, construir aquilo que acreditavam já estar construído e que, nas suas cabeças, já estava consolidado. E o pedagogo, que tem a missão de orientar e gestar as demais pessoas da comunidade escolar, se viu em meio a um novo desafio: fazer seu trabalho a distância utilizando tecnologias.
Quando Hicks, em 2015, disse: “estamos nos movendo para uma era em que todo docente deverá ter um nível de competência em aprendizagem on-line e tecnologias”, ele não poderia imaginar que em apenas cinco anos os profissionais da educação estariam utilizando mais do que nunca as tecnologias para a educação não parar.
Vemos aqui a construção de um novo pedagogo, a construção de um novo sujeito social, agora não apenas influenciado e determinado pelas instâncias tradicionais da socialização – a família e a escola. Mas também pela nova forma de ensinar nas aulas não presenciais.
Mas será que o pedagogo está preparado para assumir esse novo papel? Há uma necessidade de assegurar que esteja adequadamente preparado, motivado e apoiado para conduzir os aspectos da prática acadêmica, incluindo aqueles que ocorrem à distância.
São muitos desafios, porém o que mais se destaca é pensar no acesso que os alunos têm, ao conhecimento, à tecnologia e ao auxílio dos pais para estudar de forma não presencial.
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, que estão entre os maiores pensadores do século XX, salientam: “Crer que são dadas a todos oportunidades iguais de acesso ao ensino mais elevado e à cultura mais alta quando se garante os mesmos meios econômicos aos que tem os ‘dons’ indispensáveis é ficar no meio do caminho na análise dos obstáculos e ignorar que as aptidões medidas pelo critério escolar têm, mais do que ‘dons’ naturais (que permanecem hipotéticos tanto que se pode imputar a outras causas as desigualdades escolares), uma maior ou menor afinidade entre os hábitos culturais de uma classe e as exigências do sistema de ensino ou os critérios que  para ele definem o sucesso. Enquanto se dirigem para os ensinos ditos de cultura que contribuem com uma parte sempre muito importante para determinar as chances de fazer estudos ‘nobres.’”
Toda essa nova organização e possibilidades de estudos envolvem muitos aparatos, novos jeitos de compreender o ensino e a aprendizagem. Parece que não basta apenas reproduzir práticas convencionais ao fazer uso de equipamentos de informática, multimídia, internet. Agora é mais do que isso, é alcançar o aluno ali atrás da tela, é possibilitar que mesmo longe ele veja em você o apoio e o mediador necessários para a orientação dos estudos.
E os alunos e os professores que não possuem as condições materiais objetivas para a efetivação desse trabalho remoto, desse trabalho on-line, desse trabalho não presencial? Famílias que utilizam apenas os dados do próprio celular; que estão nas esquinas das cidades, nas zonas rurais, nos bairros carentes e sofridos das periferias?
São outras situações que vão além de ter um celular, um computador, um lugar para estudar. Observamos, assim, que não são só problemas de acesso e permanência na escola, mas na vida social geral.
A escola sozinha não dará conta de toda essa complexidade, mas aponta, tenta, reinventa e, em cada instituição, os alunos são pensados nas suas condições objetivas de aprendizagem, naquilo que é possível fazer nesse mundo desigual.
Outro desafio é a orientação pedagógica aos professores para atuarem de forma não presencial. O professor que atua na educação não presencial, precisa se perceber como partícipe da formação do aluno. Precisa perceber a sua importância quanto a elaboração, organização pedagógica do curso e principalmente no atendimento ao aluno a distância.
Não se pode esquecer que, para que o professor consiga que isso ocorra, ele precisa ter um perfil de professor on-line. São competências que ultrapassam aquelas tradicionais da profissão para abrangerem outros campos “como liderança, gestão, pesquisa, criatividade na solução de problemas, abertura para o novo, proatividade, trabalho em equipe multidisciplinar, participação coletiva em elaboração e execução de projetos” como explica o pedagogo Marcos Tarciso Masetto em seu livro “Competência Pedagógica do Professor Universitário”.
E agora? Percebemos, então, que a função do pedagogo é ímpar, complexa e que deve, mesmo sem as possibilidades concretas, muitas vezes, tornar-se intelectual, crítico de seu tempo, da sociedade em que vive e de seus contextos específicos de atuação. Ser bom leitor do mundo e de textos e estar apto a se reinventar a cada tempo.

Autoras:
Gisele do Rocio Cordeiro, pedagoga e coordenadora da Área de Educação da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.
Sônia de Fátima Radvanskei é professora e tutora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter.

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