Uma pesquisa desenvolvida por Thalita Rocha Souza, mestranda em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em coautoria com Márcia Helena de Melo Pereira, professora titular do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da UESB e doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, investigou os impactos da migração do gênero resenha para o Instagram, especialmente no que se refere à reelaboração do estilo textual.
O artigo, publicado na Open Minds International Journal, periódico indexado na Latindex e conveniado à ABEC Brasil, foi resultado de uma análise qualitativa que observou uma publicação do perfil @leitor.em.acao. A escolha recaiu sobre uma resenha da obra “A hora da estrela”, de Clarice Lispector, com o objetivo de compreender como a plataforma digital interfere na construção composicional e estilística do gênero.
Segundo Thalita, a motivação do estudo surgiu da percepção de que os gêneros discursivos, ao circularem em novos suportes, passam por transformações relevantes. A pesquisadora explica que “o Instagram oferece recursos que não fazem parte da resenha acadêmica tradicional, como o uso de imagens, emojis, marcações de perfis e uma linguagem mais direta, o que permite maior presença da individualidade do autor no texto”.
A metodologia adotada incluiu a criação de um perfil observador, levantamento de páginas literárias e seleção de uma postagem que cumprisse critérios como popularidade, engajamento e extensão textual. O corpus foi então analisado à luz das contribuições teóricas de Bakhtin, Zavam, Costa e Bezerra, com foco nos conceitos de gêneros do discurso, estilo e reelaboração.
Márcia Helena destaca que a reelaboração do gênero resenha evidencia uma convivência entre elementos tradicionais e recursos inovadores, próprios do ambiente digital. Para ela, “há uma preservação dos movimentos retóricos da resenha, como apresentação, descrição e avaliação da obra, mas esses movimentos ganham novos contornos quando mediados por um suporte multimodal como o Instagram”.
O estudo conclui que o gênero resenha, ao ser reelaborado na plataforma, mantém sua função avaliativa e estrutura composicional, mas passa a incorporar elementos expressivos do sujeito escrevente com mais liberdade. Isso se deve tanto às possibilidades oferecidas pela plataforma quanto ao campo de circulação mais flexível e criativo.
Thalita relata que a produção do artigo integrou sua dissertação de mestrado em andamento e foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ela afirma que “escrever esse trabalho exigiu um esforço intenso de articulação teórica e análise prática, mas foi enriquecedor perceber como as novas tecnologias influenciam diretamente o modo como os sujeitos produzem e compartilham conhecimento literário”.
A pesquisa reforça o entendimento de que os gêneros discursivos não são estáticos, mas sim construções sociais que se atualizam conforme as transformações nos modos de interação. O Instagram, nesse sentido, se revela como um espaço de criação e reelaboração, onde a crítica literária pode dialogar com a linguagem da cultura digital sem perder seu valor formativo.
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