Desmistificando a FIV: oito passos para entender o tratamento e evitar expectativas irreais Especialista esclarece dúvidas e mitos que ainda confundem quem inicia a busca por tratamento de fertilidade A Fertilização in Vitro (FIV) é um dos tratamentos mais conhecidos quando o assunto é dificuldade para engravidar — mas também um dos mais cercados de dúvidas, expectativas irreais e mitos propagados nas redes sociais. Para muitas pessoas, a FIV ainda é vista como um procedimento que garante a gravidez independentemente da idade ou das condições de saúde do casal. Para ajudar a esclarecer o que realmente importa, Viviane Santana, especialista em reprodução humana e gerente médica da Organon, reúne oito passos fundamentais para desmistificar o tratamento e orientar quem está dando os primeiros passos nessa jornada. 1. Nem todo casal com dificuldade para engravidar precisa de FIV Segundo Viviane, o primeiro mito a ser quebrado é o de que a FIV é indicada automaticamente para qualquer casal com dificuldade de concepção. “Muitos casos conseguem bons resultados com tratamentos mais simples, medicamentos orais ou mudanças no estilo de vida. Cada indivíduo é único, e a indicação depende totalmente da avaliação médica”, afirma. Ela reforça que não há sinais “óbvios” de que alguém vá precisar de FIV: “Há casais com exames totalmente normais que não engravidam naturalmente, e outros com diversos fatores que conseguem. O ideal é buscar orientação quando não há sucesso após o período recomendado de tentativas.” 2. A idade reprodutiva continua sendo determinante Casos de celebridades grávidas após os 40 anos alimentam falsas expectativas. “Esses casos de exceção acabam se sobressaindo e criando a impressão de que a idade não é um fator relevante. Mas a realidade é que a reserva ovariana cai com o passar dos anos, especialmente após os 30”, explica Viviane. De acordo com Viviane, a idade da mulher é, possivelmente, o fator de maior impacto para as chances reais de gravidez “Há uma falsa ideia de que a FIV garante gravidez independentemente da idade. Mas mesmo com alta tecnologia, as chances caem muito após os 40 anos. É fundamental buscar avaliação o quanto antes para evitar atrasos que agravem o quadro”, afirma. 3. A fertilidade masculina também importa Por muitos anos, acreditou-se que a infertilidade era um tema essencialmente feminino, o que ainda hoje atrasa diagnósticos e tratamentos. Segundo Viviane Santana, essa percepção equivocada continua presente em diversos atendimentos. “Mesmo com produção contínua de espermatozoides, existem muitos fatores masculinos que podem levar a alterações de fertilidade. A avaliação dos dois parceiros é essencial para definir o melhor tratamento. Quando apenas a mulher é avaliada, perdemos um tempo precioso”, explica. 4. O ciclo da FIV não é igual para todos Um ciclo de FIV costuma acompanhar o ritmo do ciclo menstrual, mas cada paciente responde de maneira diferente. “Um ciclo convencional leva de 10 a 14 dias até a coleta dos óvulos, mas a resposta aos estímulos hormonais é individual. Em alguns casos, sobretudo com reserva ovariana baixa, é esperado que mais de um ciclo seja necessário”, explica Viviane. Esse ponto é fundamental para evitar frustrações. “Muitas situações interpretadas como ‘fracasso’ são, na verdade, parte natural do processo. O alinhamento de expectativas evita abandono e sofrimento emocional desnecessário”, completa. Viviane reforça que também não existe uma “taxa de sucesso” universal. “Os fatores são múltiplos e individuais. Não há uma taxa de sucesso única que se aplique a todos os casos”, diz. 5. Desconfortos e riscos: nem tudo é tão grave ou tão leve quanto parece As redes sociais podem amplificar medos ou minimizar riscos. “Há pacientes que sentem mais desconfortos, outras menos. É muito individual. Os efeitos mais comuns são inchaço, dor nas aplicações e alterações de humor”, diz Viviane. Ela explica que alguns medos ficaram ultrapassados. “O receio de gravidez gemelar após FIV é muito superdimensionado. Hoje, a transferência de embriões é ajustada e, na maioria dos casos, é feito com apenas um embrião”, destaca. Por outro lado, alguns riscos merecem mais atenção. “Complicações como reações exageradas aos hormônios ou torções ovarianas existem e precisam de acompanhamento rigoroso. Seguir a orientação médica é crucial para evitar problemas”, orienta. 6. Custos: avanços tornaram o acesso mais diverso, mas ainda limitado Os avanços recentes trouxeram novas opções de medicamentos e técnicas, permitindo adaptar o tratamento às condições de cada paciente. “Hoje existem alternativas para reduzir custos, sempre conforme a indicação médica. Alguns centros também têm programas com valores mais acessíveis para determinados perfis”, explica Viviane. Mas ela lembra que o cenário ainda é desafiador no Brasil. “Infelizmente, temos poucos centros públicos e a maioria dos planos não reembolsa o tratamento. A ampliação do acesso ainda é um ponto importante a ser desenvolvido”, afirma. 7. A tecnologia evoluiu, mas nem toda novidade é solução O avanço da reprodução assistida nos últimos anos é significativo. “Hoje temos medicamentos mais seguros, laboratórios de última geração e maior individualização dos tratamentos, o que aumenta as chances de sucesso”, explica Viviane. Mas é importante cautela com supostas “inovações” populares nas redes. “Modismos que prometem resultados milagrosos não têm respaldo científico. Cada caso deve ser avaliado para entender o que realmente agrega ao tratamento”, alerta. 8. O fator emocional é tão importante quanto o clínico Viviane destaca que a jornada da infertilidade traz forte impacto emocional. “Há altos índices de ansiedade, estresse e depressão entre pacientes que enfrentam dificuldades para engravidar. Esses sentimentos aparecem em todas as etapas, desde as tentativas naturais às fases da FIV”, explica. O acompanhamento psicológico pode ser decisivo para o sucesso. “A taxa de abandono do tratamento é alta, e a maior causa é o esgotamento emocional. Quando o casal tem apoio psicológico, enfrenta melhor o processo e tem mais chance de permanecer até o fim, o que aumenta as chances de sucesso”, afirma. Depois de desmistificar as principais crenças sobre o tema, Viviane reforça que informação e tempo são aliados fundamentais ao longo de toda a jornada reprodutiva.
“Mulheres com até 35 anos e sem histórico de problemas reprodutivos podem tentar engravidar naturalmente por até um ano, porque esse é o tempo considerado normal de tentativas. Já para mulheres acima de 35 anos ou com histórico familiar, o ideal é buscar orientação médica após seis meses sem sucesso. Quanto mais cedo vier a avaliação, maiores são as chances de um tratamento assertivo e de transformar o sonho em realidade”, conclui. |
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