domingo, 10 de agosto de 2014

Aposentadoria: como lidar com a transição para a vida além do trabalho

 
Incertezas levam profissionais a procurar consultores especializados na nova fase; paciência é a regra número 1

The New York times

Por NYT- |

Quando Guy Johnson se aposentou do cargo de gerência tributária na Unilever, estava certo de que estava preparado. Mas estava se enganando.
"Eu me perdi quando minha mulher, Barbara, e eu nos mudamos para Sarasota, Florida, de Bergen County, em Nova Jersey", disse Johnson. "Eu planejei minha aposentadoria no aspecto financeiro, mas não nos demais."
Neste verão [do hemisfério norte], através de sesões semanais com a consultora de aposentadoria Debbie Drinkard Grovum, de 68 anos, Johnson está dando duro para "alcançar os objetivos na vida que eu tenho adiado desde que me aposentei há dez anos. Ela me mantém motivada."

Consultores de aposentadoria como Debbie são populares hoje em dia. O cenário emergiu no – povoado – mercado de consultores para lidar com um grupo crescente de nascidos em meados do século passado que estão lutando com o porvir.

"Aposentar-se claramente não é mais o destino que costumava ser", diz Dorian Mintzer, consultora de aposentadoria e coautora de “The Couple’s Retirement Puzzle: 10 Must-Have Conversations for Creating an Amazing New Life Together" (O Quebra-Cabeça da Aposentadoria: 10 Conversas Indispensáveis para Criar uma Maravilhosa Nova Vida Juntos, em tradução livre). "Agora, o provável é que você tenha 20, 30 e talvez 40 anos à frente, o que é um tempo bastante grande para não você saber o que quer fazer."

Quem se aposenta está levitando com produtividade, diz consultor

A New Directions, uma empresa de consultoria baseada em Boston, aliás, é dedicada sobretudo a orientar executivos seniores durante seus anos de ativa. Mas, nos últimos cinco anos, o número de pessoas que recebem consultoria para aposentadoria na companhia provavelmente triplicou, diz Samuel C. Pease, um diretor e consultor da firma.

"Quando alguém se aposenta, tende a literalmente estar levitando com excesso de produtividade que não pode ser direcionado", diz Pease. "Nós os ajudamos a, lentamente, construir uma cesta de atividades."

Essas novas responsabilidades podem incluir um trabalho de meio período, serviços humanitários, aventuras de empreendedorismo e buscas artísticas. Além disso, geralmente há uma busca por construir um legado e significância, diz Pease.

"A vasta maioria dos nossos clientes têm algum tipo de gene da retribuição. Eles querem se envolver com um órgão de caridade, ou encontrar formas de ser um professor ou tutor."

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O processo de consultoria de aposentadoria geralmente começa com uma análise que examina valores e forças e clarifica objetivos, esperanças e sonhos para o futuro.

Aposentados respondem a questões difíceis como "você precisa que o trabalho seja uma parte disso?", afirma Dorian. "Se você faz parte de um casal, vocês estão afinados em termos de aposentadoria ou do fato de não trabalhar?" Não é incomum que, para as mulheres, que podem ser mais novas que seus maridos ou que deixaram o mercado de trabalho por um período, estar no pico da carreira quando o parceiro está desacelerando, segundo a consultora.

Pessoas em situação de pré-aposentadoria são estimuladas a fazer as contas para ter certeza de que terão dinheiro suficiente até o fim da vida. Mas é muito mais difícil definir qual é a melhor forma de lidar com intangíveis como a construção de uma nova rede social e com a busca de valor na forma como você gasta seu tempo de aposentado.

(De uma forma geral, consultores de aposentadoria não lidam com planejamento financeiro, mas ajudam os clientes a identificar seus valores referentes ao dinheiro.)

"Eu definitivamente percebi uma alta no pré-planejamento para pessoas que querem pensar à frente e descobrir o que elas querem fazer, como querem viver a vida, como estarão se não estiverem trabalhando", afirma Dorian.

Esther H. Bay, uma professora-associada  na Escola de Enfermagem da Universidade de Michigan,  começou a trabalhar com Dorian há cerca de quatro anos quando precisou de um consultor de carreira. Hoje, aos 61 anos, não está exatamente pronta para se aposentar, mas pensa sobre isso todos os dias.

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Esther e Mintzer discutem o futuro da professora durante sessões mensais por telefone. Por exemplo: como ela poderia trabalhar em diferentes direções de organizações de cuidados de saude e usar sua especialização em enfermagem profissional voluntariando-se em clínicas de atendimento médico gratuito.

No meio tempo, Esther e o marido, Bruce, que já se aposentou, têm uma lista de lugares onde podem querer viver. Dorian os encorajou a começar a visitá-los já. Assim, quando a professora de fato pendurar as chuteiras, o casal vai estar pronto para dar o próximo passo.

Outro segmento para pessoas que buscam um consultor de aposentadoria são pessoas como Johnson, que se aposentou sem ter muitos planos e, depois de um ano, ou dois, ou dez, chegou à conclusão de que a situação não estava boa, diz Debbie. 

"Eles queriam repensar a vida."

Ter propósito, e não apenas ocupar espaço

Esses aposentados perceberam que algo estava faltando, e entraram numa espiral de depressão ou ansiedade, diz Dorian. É o que aconteceu com Wendy Fox, de 66 anos, quando ela se aposentou após 25 anos de carreira como jornalista e assessora de imprensa.

"A coisa da aposentadoria pareceu ótima antes de ocorrer", diz Wendy, que vive em Milton, Masssachussetts, e cujo marido, Al Larkin, já havia se aposentado. "O primeiro ano foi maravilhoso. Aí eu percebi que estava sentindo falta da comunidade da redação. Eu sou uma pessoa extrovertida."

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Em junho, Wendy começou a trabalhar com Dorian.

"Eu estava basicamente reconhecendo que eu não era capaz de pensar o resto da minha vida", diz Fox. "Uma das primeiras coisas que ela me contou é 'você não está sozinha'. Isso foi imenso. Eu não estou louca."

Os objetivos de Wendy são encontrar novas e continuadas conexões sociais "para ter algum propósio na vida e não apenas ocupar espaço pelos próximos 20 anos", disse. "Eu não pecisava de um terapeuta. Eu só queria conversar com alguém sobre o que fazer."

O custo e a duração das sessões variam. No topo, muitos dos executivos que são clientes da New Directions começam a consultoria 18 meses antes de se aposentar. O pacote custa de US$ 30 mil a US$ 50 mil (R$ 68,7 mil a R$ 114,5 mil), dependendo do número de encontros com um consultor pessoal num determinado período.

O pacote inclui um questionário para analizar a personalidade do cliente, encontros com consultores adicionais  – para ter diferentes pontos de vista – e um psicólogo, mais acesso a aulas de construção de habilidades, oportunidades de fazer contatos e outras.

Consultores independentes, como Debbie e Dorian, tipicamente falam com os clientes por 30 a 45 minutos, uma ou duas vezes por semana, por telefone, Skype ou em pessoa. As tarifas custam de US$ 50 (R$ 114,50) a mais de US$ 250 por hora (R$ 572,50). Muitos consultores oferecem uma sessão inicial grátis para definir se a relação entre os dois dá certo.

A consultoria de carreira é uma indústria autorregulada. Muitos consultores têm feito o trabalho há anos sem ter designações profissionais. A Federação Internacional de Consultores dá uma credencial global a alguns profissionais, que têm de atender a alguns critérios de educação, receber treinamentos específicos e ter um determinado número de horas de experiência.

Muitas pessoas encontram os consultores pelo boca a boca com colegas e amigos, ou encontrou algum por meio de cursos oferecidos em escolas. A Life Planning Network também ofecere uma lista de consultores de aposentadoria.

Para alguém que trabalha com um consultor de aposentadoria, a regra número 1 é ter a cabeça aberta.

"É uma aventura num caminho desconhecido", diz Pease, da New Directions. "Seja paciente. Pela primeira vez em sua vida, você precisa lidar com espaço em branco. Pessoas se viciam em estar ocupadas. Espaço em branco é uma fonte de pensamento criativo e estratégico, então não preencha sua lista de afazeres tão rápido."

iG

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