Fala-se da meta primordial do budismo, estado humano de equilíbrio absoluto, em que se convive com o bem e o mal.
Não nos entusiasmamos com as benesses da vida, sempre querendo multiplicar o que conquistamos; tampouco nos deprimimos com as tristezas, com as quais se pode conviver, ao conhecer suas contraditórias entranhas. Assim somos senhores de nossa existência ao atingir o elevadíssimo platô do nirvana.
O sofrimento surge do desejo de querer mais ou de escapar das agruras. Superado o desejo, vai-se a sofrência. 99% dos próprios budistas não atingiram a platitude do nirvana, alcançada por Sidarta Gautama, seu fundador, depois de 6 anos de meditação. Um príncipe que, comovido com os atrozes sofrimentos dos súditos, abandonou numa noite seu castelo, para conviver com os sofredores e entender suas motivações.
Não é renúncia, mas convivência. Quem conquistou um milhão de dólares angustia-se em multiplicá-lo. Aplacada essa insanidade, aproxima-se o homem de seu significado no mundo.
Também não é conformismo; a luta é sempre necessária, mas não podemos ser servos de seus objetivos.
O budismo não tem deuses, mas, também, tolera todas as religiões, com suas crenças e fé. Seu fundamento ético é a compaixão com a realidade do próximo, tão ausente em nossos dias, e agora percebida em sua importância no momento de uma crise inesperada e sem precedentes. Empregamos o método mais antigo de enfrentá-la - o isolamento social; séculos de crescimento científico e tecnológico, que nos levavam à falsa crença do "super-homem" sapiente sobre todos os demais seres planetários não nos parecem mais tão vitoriosos. Desabamos violentamente desse pedestal.
O budismo, assim como todas as religiões, não é salvação. O que importa ao homem é retirar as melhores partículas de todas elas, da filosofia, da literatura, da psicologia, de todas as crenças e ciências, para continuarmos a caminhada com justiça. A religião universal da humanidade é o sincretismo, é dizer, a síntese dos adequados conhecimentos humanos, incluindo-se as intuições, pela qual podemos superar o mal. Depois da tragédia contemporânea, certamente haverá muitas cabeças dispostas a implantá-la.
* Amadeu Garrido de Paula
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