terça-feira, 12 de março de 2024

Estudo revela relação entre COVID longa e declínio cognitivo

Dr. Fabiano de Abreu Agrela, neurocientista e especialista em doenças neurodegenerativas, comenta sobre pesquisa publicada na Nature Neuroscience

Um estudo recente publicado na revista Nature Neuroscience encontrou uma ligação entre a COVID-19 persistente, também conhecida como COVID longa, e o declínio cognitivo. A pesquisa, que envolveu indivíduos com COVID longa e comprometimento cognitivo, identificou três alterações importantes:

  • Disrupção da barreira hematoencefálica: Essa estrutura protege o cérebro de toxinas e células inflamatórias no sangue. A ruptura da barreira pode permitir que essas substâncias nocivas entrem no cérebro, causando danos e disfunção.
  • Inflamação sistêmica: Níveis elevados de marcadores inflamatórios foram encontrados no sangue de pessoas com COVID longa e declínio cognitivo. A inflamação sistêmica crônica pode contribuir para a disfunção cerebral e os sintomas cognitivos.
  • Alterações na estrutura cerebral: O estudo observou alterações na estrutura da substância branca cerebral, que é responsável pela comunicação entre os neurônios. Essas alterações podem estar relacionadas à desmielinização, que prejudica a transmissão de sinais nervosos.

O que isso significa?

O Dr. Fabiano de Abreu Agrela, Pós PhD em Neurociências membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos, comenta sobre as implicações do estudo:

"Esses achados são preocupantes, pois sugerem que a COVID longa pode ter efeitos duradouros no cérebro. A ruptura da barreira hematoencefálica e a inflamação sistêmica podem ser mecanismos que contribuem para o declínio cognitivo observado em alguns pacientes."

Ainda há muito a ser aprendido

O Dr. Agrela ressalta que o estudo é um passo importante na compreensão da COVID longa, mas ainda há muito a ser pesquisado:

"Ainda não sabemos como essas alterações se traduzem em sintomas específicos ou qual é o impacto a longo prazo da COVID-19 no cérebro. Mais pesquisas são necessárias para determinar se esses achados são generalizáveis para todos os pacientes com COVID longa e para desenvolver intervenções eficazes."

O Dr. Agrela acredita que o estudo abre caminho para novas pesquisas sobre os efeitos da COVID-19 no cérebro:

"Esses achados auxiliam os mecanismos subjacentes ao declínio cognitivo na COVID longa e podem levar ao desenvolvimento de novas terapias para essa condição. É importante que continuemos a investigar as consequências da COVID-19 para a saúde mental e neurológica dos pacientes."

Observações importantes comentadas pelo Dr Agrela: Este estudo é um estudo observacional e não pode provar causalidade. Os resultados do estudo podem não ser generalizáveis para todos os indivíduos com COVID longa e mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e determinar o impacto a longo prazo da COVID-19 no cérebro.

Adriana Quintairos

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