quarta-feira, 5 de junho de 2024

Fome e insegurança alimentar no Brasil: O que podemos fazer?

“Fortalecimento da agricultura familiar, práticas agroecológicas e retorno de conselhos de participação social são alternativas a serem pensadas e executadas”

Por Daniela Pantoja 


A fome sempre foi uma das maiores preocupações mundial, apesar de ser algo distante ou fora da realidade, infelizmente grande parte da população sequer tem uma refeição completa diariamente.

Para quem tem o que comer todos os dias, o assunto da fome e insegurança alimentar pode ser até irrelevante, no entanto é preciso de uma força tarefa urgente para que se acabe de vez com a fome no país. No entanto, é necessário fazer alguns questionamentos importantes: por que muita gente passa fome em um país tão rico em biodiversidade e que exporta milhões de toneladas de grãos para fora do país? Que ações governamentais e não governamentais estão sendo articuladas? E por último, e não menos importante, o que eu, pessoa, indivíduo estou fazendo para acabar com a fome no país?

Porém, para responder esses questionamentos é preciso entender inicialmente o que é a fome. A fome é um dos últimos estágios da insegurança alimentar, a considerada em estágio grave, aquela em que a pessoa não pode comer porque não tem dinheiro para comprar. Também tem a insegurança alimentar leve, que é a incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo, e a insegurança alimentar moderada, que é quando há uma redução na quantidade necessária e a pessoa deixa de comer segundo os seus padrões, e/ou sua cultura alimentar por não ter condições de acesso ao alimento. 

Maria Emília Pacheco, integrante dos Núcleo Executivos do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), cita inúmeros fatores que levam a ausência de alimentos na mesa de algumas famílias brasileiras. “No Brasil é grave o quadro de concentração de terra, a expansão de monocultura da soja e do eucalipto, pecuária, concentração da renda, inflação dos alimentos, destruição ambiental, falta de emprego, salário baixo, e esse quadro se agravou muito no governo anterior, no qual sua política foi contra os direitos dos povos indígenas, contra as comunidades quilombolas, ao dizer que não iria regularizar nenhum hectare. Os orçamentos foram drasticamente reduzidos”, pontua Maria Emília.

Para além desses fatores, Maria Emília cita ainda diversas ações que degradam o meio ambiente e que afetam e afetam fortemente a soberania alimentar nos territórios e consequentemente causam a insegurança alimentar. A exemplo da situação dos povos indígenas Yanomami. “A tragédia humanitária dos povos indígenas Yanomami, é um exemplo extremo e desumano sobre o que representa a devastação ambiental e a violação do direito humano à alimentação. As práticas de garimpo, mineração, desmatamento, exploração da madeira, o impacto dos grandes projetos, desestruturam os modos de vida dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, ribeirinhas e da agricultura familiar”. 

A partir de agora, as expectativas são as melhores possíveis principalmente por parte dos movimentos sociais e organizações e instituições, para tentar reverter essa situação da fome no país.

O retorno dos conselhos de participação social, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), a reconstrução do Ministério do Desenvolvimento Agrário e agora também chamado de agricultura familiar é extremamente importante pois mostra o compromisso do governo com a agricultura que produz e também maneja na floresta a comida de verdade. 

Afinal, como reforça Maria Emília Pacheco, “as comunidades possuem formas próprias de organização social, ocupam seus territórios e fazem o manejo dos recursos naturais como condição para que possam se reproduzir culturalmente, socialmente, economicamente, utilizando seus conhecimentos e as suas práticas inovadoras que são passadas também pela tradição entre gerações”.

O fortalecimento da produção da agricultura familiar e agroecológica, como retorno dos programas sociais, políticas públicas para infraestrutura e escoamento e comercialização das produções são necessárias, afinal é onde são produzidos os alimentos mais saudáveis e que garantem a manutenção de muitas famílias.

Na região amazônica, a maioria dos alimentos regionais contribui com o fornecimento dos nutrientes básicos presentes na alimentação.

Para Guiomar Corrêa, do território quilombola Jambuaçu, na comunidade São Sebastião, Município Moju (PA) a agricultura familiar garante não somente uma melhoria na qualidade de alimentação da população do campo e da cidade, mas também preserva o meio ambiente. “É fazer um trabalho de formiguinha, porque a maioria dos agricultores plantam com o sentido de vender, e a gente está trazendo com o sentido de melhorar a alimentação, além de preservar o meio ambiente, mas também de melhorar a alimentação dentro dos territórios. Porque quando você vai na cidade não sabe qual a procedência. Lá na comunidade ele é plantado sem o uso de agrotóxicos, destaca Guiomar.”

Algumas produções sofreram alterações, por conta da expansão de empreendimentos no território Quilombola Jambuaçu, os comunitários precisaram passar por um processo de transformação nas produções para garantir uma alimentação mais saudável. 

No entanto, segue se fortalecendo para garantir uma comida boa e saudável em suas mesas e que a fome de fato seja combatida não somente na Amazônia, mas em todo o mundo.


Sobre a REPAM –Brasil   

A Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM-Brasil constitui um serviço da Igreja no Brasil para os povos da Amazônia. É um esforço da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), das Igrejas Particulares (dioceses e prelazias), paróquias, comunidades, organizações sociais, cooperadores nacionais e internacionais para a defesa dos direitos humanos de mulheres e homens, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, extrativistas, pescadores, e tantas outras expressões e trajetórias de vida emersas na Amazônia.  



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