Trilhas e caminhos não aparecem por acaso. Desde tempos imemoriais, quando os primeiros seres vivos emergiram do oceano e se arrastaram pela terra, algumas rotas foram se consagrando. Por elas, animais e homens foram marcando a sua conquista social do território e a sua diferenciada espacialização. Tanto nos pequenos percursos como nos longos, os caminhos não só nos conduzem de um lugar para outro como também de um status mental para outro, inspiram sensações, alegrias, temores, beleza. Dante cantou isso na primeira estrofe da sua Divina Comédia. De todas as jornadas nas quais a provação do corpo se soma à da alma, o Caminho de Santiago se impôs como a grande rota das peregrinações europeias. A sua recente revalorização e crescente procura, que atrai caminheiros de todos os cantos do planeta, mostra uma ressurgência de um espiritualismo surpreendentemente laico, dentro do qual quem busca as bênçãos na catedral ao final da viagem anda ao lado de não religiosos que apenas visam se encontrar consigo mesmos ou com o próximo (ou próxima) ao longo da jornada. Ricardo Rangel, divide com os brasileiros neste livro a sua rica experiência na jornada de oitocentos quilômetros a pé pela Via Láctea, como o Caminho é também conhecido.
Caminho de Santiago: do fim surgem novos começos
Em "O Destino é o Caminho", o escritor carioca Ricardo Rangel mistura informação e observação, paisagens e pessoas, ideias, lembranças, risos e reflexão em uma deliciosa viagem pelo celebrado Caminho de Santiago
Hipócrates dizia que caminhar é o melhor remédio. Para Thomas Jefferson, não existe nada melhor quando o objetivo é descansar a mente. Há quem diga o contrário: andar é bom para fazer a mente funcionar. Aristóteles gostava de ensinar filosofia enquanto caminhava. Nietzsche afirmava que todas as grandes ideias são concebidas enquanto se caminha.
A visão destes grandes pensadores reflete uma premissa seguida por muitos homens ao longo da história: caminhar é preciso. E foi após a jornada por uma das principais rotas de peregrinação do mundo que o escritor carioca Ricardo Rangel presenteia o público com O Destino é o Caminho – Uma crônica do Caminho de Santiago, lançamento da Edições de Janeiro.
A partir de fragmentos da história particular do autor, o leitor passa a compreender o que leva milhares de pessoas a se deslocarem, todos os anos, para seguir um percurso de quase 800 quilômetros a pé. Para o autor Ricardo Rangel, a resposta, imprecisa antes da partida, estava na busca pela “desconexão total de tudo e de todos”.
O Caminho de Santiago de Compostela era uma hipótese distinta. Para começar, era diferente de tudo o que eu já havia feito; uma experiência intensa de muitas maneiras, não apenas no sentido físico. Também me atraía o fato de ser um lugar onde não há, em absoluto, decisões para tomar: você acorda de manhã e anda sem nem sequer precisar pensar para onde, pois existem setas amarelas por todo lado apontando a direção a seguir. Basta colocar um pé adiante do outro e deixar (ou não) o pensamento fluir. Além disso, dizia-se que as paisagens são belíssimas. Como se isso tudo fosse pouco, sempre há muita gente fazendo o Caminho, de modo que cada um tem a oportunidade de decidir — minuto a minuto — se quer solidão ou socialização. (O Destino é o Caminho, p.19)
Ricardo iniciou o trajeto pelo Caminho Francês, o mais tradicional de muitos que levam a Santiago de Compostela e, por isso mesmo, um paraíso de peregrinos. Para ele - e os companheiros de viagem -, foram 42 dias de caminhada. Em alguns, chegou a percorrer 27 quilômetros; em outros dias, o cansaço e os calos nos pés exigiram uma pausa maior.
Os detalhes dessa experiência tornam de O Destino é o Caminho – Uma crônica do Caminho de Santiago leitura indispensável para quem planeja ou, até então, nunca pensou em se aventurar pelas terras do norte espanhol. O roteiro, a preparação, a indicação de livros, filmes e site sobre o caminho, o que levar ou não na mochila, um índice onomástico, a riqueza cultural em forma de imagem. Tudo cuidadosamente registrado para o bel prazer do leitor viajante.
Se a liberdade é não sentir medo, como sintetizou a icônica Nina Simone, o Caminho de Santiago de Compostela representa a ausência dos temores e, paradoxalmente, a total plenitude gerada pela constatação de que o meio é o próprio fim. Nas palavras de Ricardo Rangel, “o destino é a viagem”.
Ficha técnica
Título: O Destino é o Caminho
Autor: Ricardo Rangel
Editora: Edições de Janeiro
Páginas: 192
Sobre o autor: Ricardo Rangel é escritor, tradutor, analista político, colunista da revista Veja. Autor de Passado e Futuro da Era da Informação (Nova Fronteira) e Uma Nação Sem Noção (Autografia), já foi programador de computadores, analista de sistemas, administrador de empresa, produtor de cinema e TV, e até candidato a deputado. Ricardo tem uma filha, e, quando não está viajando, mora no Rio de Janeiro, onde nasceu há 56 anos.
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